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Vírus, bactérias e presidentes
| Foto: Sérgio Lima/AFP

Nos primeiros anos da República, vírus e bactérias perseguiram presidentes brasileiros. Prudente de Moraes escapou de atentado cometido por Marcelino Bispo, mas sucumbiu à tuberculose. Afonso Pena faleceu por conta de uma pneumonia. Rodrigues Alves foi vítima da gripe espanhola. Este, a propósito, por pouco não caiu, anos antes, em levante conhecido como Revolta da Vacina, ao tentar combater a varíola e a febre amarela. Mas nenhum deles e nenhum outro, em qualquer tempo, menosprezou tanto a gravidade de uma doença infecciosa como fez Jair Bolsonaro. E tanto fez que ganhou uma CPI de presente.


Os mesmos governistas que se elegeram condenando a falta de celeridade e a impunidade da justiça brasileira, agora tentam nos convencer de que não é hora para encontrar culpados. Toda hora é hora para encontrar culpados, especialmente quando os culpados continuam a agir conforme os motivos que constituem sua culpa. A tentativa de Bolsonaro em pressionar o parlamento para incluir governadores e prefeitos na investigação tem por objetivo não investigar nada, já que, como sabemos, quando todos são suspeitos, ninguém é suspeito. O legítimo cambalacho. Dilui-se a responsabilidade individual em nome doutra geral e abstrata. Lembrem da CPI da Petrobras. A primeira estratégia do PT foi requerer a extensão dos trabalhos da comissão até o governo de Fernando Henrique Cardoso – se pudessem, iriam até Castelo Branco.


É certo que não podemos nos enganar, políticos não são investigadores e certamente a natureza política vai ser parte relevante do inquérito, mas CPI precisa ter objeto delimitado e prazo. Prazo! Sob pena de cair em desuso, carente de utilidade e servir unicamente de palco pré-eleitoral e mesa de evisceração para sangrar os votos de seus alvos até as eleições. Os senadores tem nas mãos a chance, e a responsabilidade, de resgatar a credibilidade desse importante instrumento constitucional que nas últimas décadas tem sido sinônimo de forno à lenha.


A comissão poderá, para além das entrevistas desastradas dos membros do governo, tomar depoimentos para esquadrinhar onde e como ocorreram os erros e os crimes - por ação ou omissão -, investigar, colher provas e elaborar suas conclusões, que poderão ser encaminhadas a quem, por lei, deverá realizar a persecução penal e chamar os burocratas à responsabilidade.


Quanto ao presidente, pouco se pode esperar. Como todo populista, continuará a buscar legitimidade junto à estreita parcela da população que ele chama de povo, com as barbaridades de estilo, ao vituperar inimigos imaginários para se vitimizar. Quem deveria dar exemplo esconde-se num teatro de sombras para disfarçar a sua falta de envergadura frente à grandeza das responsabilidades inerentes ao mais alto cargo dessa nação.

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