A educação midiática é fundamental para o mundo conectado em que vivemos. Hoje, não basta apenas ler aquilo que chega em nossas mãos, principalmente o que recebemos nos meios digitais. É preciso análise, interpretação e o desenvolvimento de habilidades que capacitem o cidadão a se expressar de forma plena dentro e fora das redes.
Para Ignacio Aguaded-Gómez, especialista em tecnologia educacional e educação da Universidade de Huelva, “as competências midiáticas correspondem à capacidade de compreender e usar as mídias de forma inteligente, ativa, participativa, em oposição completa ao consumo compulsivo, inconsciente, massivo que normalmente são as práticas de nossa dinâmica com as tecnologias de comunicação e informação.” Aprender a filtrar, ler criticamente e dar sentido ao fluxo de informações nunca foi tão urgente.
Essa não é uma necessidade nova. Ao longo do século XX, diversos pesquisadores e educadores se dedicaram a entender os efeitos da mídia tradicional, rádio, televisão e jornais impressos sobre a sociedade. Com a internet e as mídias digitais, assistimos ao surgimento de novos paradigmas que afetam a maneira como a humanidade se relaciona com a informação em ritmo e volume inéditos.
Quanto mais cedo formarmos crianças e jovens para lidarem com tudo isso, melhor. Portanto, é na escola que a educação midiática encontra seu espaço. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), basilar para os currículos educacionais brasileiros, incentiva a discussão sobre a temática com crianças e adolescentes. O campo jornalístico midiático, que faz parte do componente língua portuguesa, incentiva a qualificação dos estudantes nas práticas relacionadas à informação e à opinião.
Isso quer dizer que, na prática, no campo das linguagens, professores e equipes pedagógicas podem se basear na legislação para incentivar a produção midiática. Vídeos, podcasts, notícias e conteúdos do tipo, quando propostos com intencionalidade, auxiliam os estudantes a desenvolverem habilidades fundamentais para o universo da informação.
Além disso, a BNCC dá grande ênfase às competências e habilidades da cultura digital. As habilidades midiáticas aparecem em todas as áreas do conhecimento, na análise de textos diversos, nas práticas de pesquisa e na criação de mídias para documentar o aprendizado. Professores de diferentes áreas do conhecimento podem se beneficiar do trabalho com as mídias, integrando as disciplinas com o processo de aprendizagem.
Nesse sentido, é preciso considerar que o Brasil é um país de dimensões continentais. Nem todas as unidades escolares possuem os mesmos sistemas de ensino, estruturas e capacitação para a realização do trabalho com mídias. O educador que deseja desenvolver habilidades midiáticas em suas turmas terá que customizar suas atividades segundo a realidade de cada escola.
Esse incentivo pode ocorrer por meio de projetos interdisciplinares. Para que os trabalhos promovam a educação midiática de forma crítica e cidadã, é necessário estabelecer boas práticas. Um exemplo é o trabalho do professor da Universidade de Parma, na Itália, Damiano Felini, especialista em educação para as mídias, em artigo publicado na revista Journal of Media Literacy Education, divulgado pela Associação Norte-Americana de Educação Midiática (NAMLE, na sigla em inglês). Em seu trabalho, ele destaca a importância de considerar os atores envolvidos, analisando como estão estruturadas as escolas. Também é vital analisar como se dá a relação entre as famílias e as crianças. Os equipamentos envolvidos, sejam eles tecnológicos ou não, irão interferir nos resultados que os estudantes irão apresentar. Possíveis limitações podem ser encontradas.
Felini também incentiva a avaliação dos métodos trabalhados com cada perfil de aluno. É preciso refletir se a atividade é adequada à faixa etária e se desenvolve habilidades de comunicação. Hoje, as mídias digitais e suas ferramentas permitem a criação de conteúdos criativos e inovadores. Reconhecer a originalidade das produções colabora diretamente para o bem-estar e autoestima dos estudantes, incentivando o engajamento dos alunos em novos projetos.
Construir uma cultura midiática crítica, participativa e inclusiva é possível por meio de projetos interdisciplinares, ou mesmo em atividades desenvolvidas em uma única disciplina. Ao enfrentar os desafios e estabelecer boas práticas, preparamos as crianças e os jovens para serem cidadãos informados e engajados no mundo digital, em constante evolução.
Elisa Thobias é educomunicadora, analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta e colabora voluntariamente com o blog Educação e Mídia.
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