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Embora a educação esteja sendo pensada a partir de um projeto de cidadania que contemple o respeito de si e do outro, por vezes esse projeto acaba sendo apenas uma ideia bonita e pouco praticada na comunidade escolar.

Os parâmetros curriculares nacionais (PCNs) apontam como obrigação da escola contemporânea trabalhar uma série de temas que seriam importantes na construção de uma cidadania mais ampliada. Um desses temas é sexualidade, principalmente pensando nas diversas manifestações afetivas e sexuais que podem estar presentes na escola e que necessitam de um olhar cuidadoso e delicado dos educadores.

Quando falamos em sexualidade não estamos falando de sexo propriamente dito, estamos falando de uma grande área de nossas vidas que começa a se constituir desde o momento em que nascemos. Embora tal afirmação possa parecer incômoda para muitos pais e professores, ela já é consolidada pela Psicanálise desde o início do século XX. A construção da sexualidade é essencial para termos uma vida saudável e satisfatória, embora essa área de nossas vidas seja cercada de tabus, preconceitos e falta de boas informações.

Um dos grandes problemas em trabalhar essa questão com os alunos é que os educadores se sentem muito despreparados para abordar o tema de uma forma mais sossegada e menos afetada. Pois para que isso seja feito de um jeito mais tranquilo, seria importante revermos os nossos próprios preconceitos e as nossas próprias dificuldades nessa área, pois somos frutos de uma educação repressora, que durante muito tempo associou a sexualidade ao pecado.

Assim, o que por vezes acabamos fazendo na escola ao abordar essa temática é transformá-la por um lado, em uma questão meramente biológica, de caráter reprodutivo. Para isso, nomeamos os professores de Ciências e Biologia ou chamamos os profissionais do posto de saúde para explicarem como é o corpo humano. Isso é interessante também, mas absolutamente insuficiente para uma educação sexual mais ampla, pois sexualidade não é só corpo e sexo, tem a ver com muitas coisas relacionadas aos nossos afetos, nossos sentidos, nossos sentimentos, nosso desejo, nossas fantasias, nossas angústias, com a construção de uma identidade de gênero e com o reconhecimento de uma orientação sexual hétero, homo ou bissexual.

Por outro lado, quando reconhecemos que a sexualidade não se resume ao corpo biológico, fazemos uma apropriação moralista do tema, tentando fazer uma espécie de catequização junto aos alunos sobre qual deveria ser o “bom sexo”. Investimos em uma abordagem normativa e prescritiva sobre a sexualidade, impedindo os adolescentes de fazerem uma leitura mais respeitosa acerca das diferenças e das inúmeras formas como marcamos nosso lugar na esfera sexual.

Ao adotar posturas muito normativas, os educadores acabam fazendo uma espécie de “ortopedia da moral”, como apontado por Michel Foucault em A História da Sexualidade. A ortopedia visa enquadrar e “consertar” o que está torto, errado. Será que podemos dizer que existe a “boa” sexualidade? A correta? E uma que seja errada ou torta?  Sem incorrer em relativismos absolutos, mas quem é que determina quais práticas são ou não legítimas?

Assim, acabamos excluindo todos aqueles que não estão alinhados aos padrões burgueses da sexualidade: os não héteros, os que possuem identidades distintas de seu sexo biológico, entre outros. E o respeito e a inclusão no projeto de cidadania? A essas alturas já o esquecemos….

>>Artigo escrito por Joyce K. Pescarolo doutora em Sociologia e psicóloga educacional do Instituto Não-Violência

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