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Escola não precisa ser repensada, e sim refeita
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Walter Fernandes/ Gazeta do Povo
Nota das escolas privadas de ensino médio do Paraná é a mesma desde 2007: 6,1 pontos

“Ser” é melhor que “pensar”. Assim como “fazer” vale mais que “pensar”. Sinto um misto de preguiça e frustração quando leio artigos sobre educação clamando para que a velha escola seja repensada – excitados pelas avaliações frustrantes do Ideb . Um exercício meramente ególatra.

A escola é repensada continuamente desde que o modelo iluminista, e posteriormente fordista e politécnico, de ensino e currículo se fizeram presente. São toneladas de pesquisas e teorias forjadas na solidão das salas de universidades. O universo da educação formal, e das faculdades de pedagogia, é majoritariamente composto por pensadores e pesquisadores. Pensar e repensar são suas especialidades. Transformar, não. Eis a questão.

Por exemplo, o MEC propôs semana passada para o Ensino Médio algo prosaico em termos de pensamento, mas inovador na prática: um modelo matricial, e não curricular de ensino. Isso significa que as disciplinas se mesclariam estimulando a elaboração de projetos interdisciplinares pelos alunos. Ora, a chamada “pedagogia de projetos” é algo criado por John Dewey no começo do século passado! Colocá-la em prática é a grande novidade – pensá-la, não.

O Schumacher College, em Londres, e a Oregon Episcopal School, nos arredores de Portland (EUA) não têm currículo há muito tempo. Trabalham por projetos e estão entre as instituições mais renomadas e respeitadas do mundo. No Brasil, ignorado pela grande mídia, o tal Ensino Médio Inovador já está presente desde 2009 em mil escolas com Ideb abaixo da média.

Fico menos animado ainda quando percebo que o PNE (Plano Nacional De Educação), algo elementar para a melhora do ensino, está com votação truncada na Câmara e que os sindicatos já chiaram quando souberam da proposta do Mec. Começa a ir por água abaixo uma implementação que poderia, juntamente com outros ajustes, dar uma guinada no Ensino Médio a favor dos que têm mais interesse nele: os estudantes.

Por trilhas alternativas, projetos bem implementados de produção de comunicação por alunos em escolas têm o poder de transformá-las. Esses são realidade em mais de três mil escolas públicas do Brasil – não vi até agora um aferimento de qualidade por parte do Mec ou institutos ou uma reportagem na grande mídia sobre eles.

A última pesquisa que tive notícia, o Aprova Brasil, do Unicef, mostrou que escolas que se aproveitavam do fazer comunicativo obtinham Ideb acima da média porque estimulavam a participação da comunidade nas decisões escolares.

Nesses casos, não se trata de fórmula mágica ou grandes exercícios mentais. Trata-se de aproveitar o que de melhor o estudante faz fora da sala de aula, vídeos e textos com celulares e redes sociais, e colocá-los a favor da aprendizagem. Nesse sentido, uma recente pesquisa nos Estados Unidos surpreendeu: segundo a Child’s Mercy, 83% dos pais entrevistados, apesar dos receios recorrentes das redes sociais, aprovavam seu uso como importante na educação dos filhos.

Repensar a escola não causa impacto algum à educação. Refazê-la, sim; e isso implica em experimentar. Para medir os resultados são necessários anos, talvez gerações, afinal impacto educacional não se mede da noite para o dia. E uma escola experimental pode facilmente ser refutada pelo seu público, em geral conservador e avesso a experimentalismos – mas que adora “repensar” a educação de seus filhos.

A pergunta que fica é: estamos realmente prontos para uma nova escola, na prática?

>> Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e desde 1999 se dedica a projetos interdisciplinares na área de educação, cidadania e inovação, entre eles MyFunCity, Instituto Claro, Cidade Escola Aprendiz, Idade Mídia e OpenCity Labs e REDE CEP (Rede de Comunicação Educação e Participação). É autor de “Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola” – Editora Aleph/2012.


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