O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) divulgou, em 23 de junho, os resultados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019. Em sua oitava edição, o estudo levantou as condições de acesso à internet, perfil de uso e habilidades digitais de crianças e adolescentes brasileiros entre nove e 17 anos. Convidamos você a explorar esses dados conosco para refletirmos sobre o nosso papel na garantia dos direitos à comunicação, à participação e à educação que, agora mais do que nunca, estão ligados às tecnologias digitais.
Os dados revelam que 89% dos entrevistados, ou seja, 24.3 milhões de crianças e adolescentes são usuários de internet. O número mostra um aumento da participação desse público no ambiente online nos últimos anos. Fato a ser comemorado, mas sem desconsiderar os desdobramentos que a pesquisa nos apresenta.
A primeira constatação é a existência de 3 milhões de crianças e adolescentes brasileiros (11%) que não usam a internet e 1.4 milhão que nunca a acessou. São 4.8 milhões de entrevistados que vivem em domicílios sem conexão com a rede. E é exatamente a falta de internet em casa o motivo que justifica a situação dos não-usuários.
Além disso, os internautas não configuram um perfil homogêneo. Observamos uma grande diferença na qualidade e na forma de conexão quando comparamos os contextos socioeconômicos. Enquanto 100% das classes A e B são usuárias ativas, nas classes D e E o número é de 80%. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste têm um acesso superior a 90%, já o Norte e Nordeste possuem uma média de 79%.
O celular é o principal dispositivo de acesso à internet para 95% dos entrevistados. E é preciso considerar o impacto na estrutura de conexão quando avaliamos, por exemplo, o atual contexto de ensino remoto, já que 58% apontam que o celular é o seu único meio de acesso à internet — realidade vivenciada por 73% das crianças e adolescentes das classes D e E.
Habilidades digitais
Além da análise sobre as condições de acesso à internet, a pesquisa TIC Kids Online Brasil nos traz dados interessantes sobre as habilidades digitais de crianças e adolescentes que vão desde saber salvar uma foto a mudar as configurações de privacidade em redes sociais. Alguns números, inclusive, nos indicam possíveis frentes de trabalho conjunto com famílias e escolas no desenvolvimento de competências para a alfabetização midiática e informacional.
Foram analisadas 13 habilidades no estudo. As mais presentes entre os entrevistados foram a capacidade de se conectar a uma rede wifi (93% disseram ter essa habilidade) e a instalação de aplicativos (94%). No entanto, é surpreendente que, apesar de saberem baixar um aplicativo, apenas 35% são capazes de verificar o tempo gasto ao usá-lo.
Nos chama atenção o fato de que, na atual onda de desinformação, 87% saibam qual palavra usar para buscar algo na internet e 89% saibam distinguir o que devem ou não compartilhar. Apesar de serem dados positivos, precisamos refletir sobre as diferentes dimensões do letramento digital que englobam, entre outros pontos, saber acessar, gerenciar, avaliar e criar informação com as tecnologias digitais. Em buscas na internet, as crianças e adolescentes empregam recursos como os operadores boleanos e as aspas, deixando de clicar nos primeiros resultados que os buscadores
mostram para aprofundar suas pesquisas? Talvez seja um ponto a ser investigado com mais rigor, especialmente porque, dentre as habilidades menos desenvolvidas, está a checagem de informação (67%).
Sobre questões importantes ligadas à segurança dos usuários, observamos que 40% afirmam não saber como mexer em configurações de privacidade em redes sociais, assim como desativar a função de geolocalização (32%).
Esses são apenas alguns dos indicadores que nos permitem reconhecer a importância de políticas públicas que desenvolvam a estrutura necessária para uma condição de acesso ideal para essas crianças e adolescentes. Mas sem esquecer do fortalecimento da alfabetização midiática informacional como garantia à participação nas redes de forma segura, crítica, criativa, autônoma, possibilitando que sejam ouvidos e respeitados os seus direitos. Confira a pesquisa completa clicando aqui.
*Texto escrito por Cristiane Parente e Mariana Ferreira Lopes. Cristiane é Jornalista Amiga da Criança (ANDI/Unicef), Educomunicadora, Professora. Doutora em Comunicação pela Universidade do Minho; Mestre em Comunicação, Cultura e Educação e Mestre em Educação . Sócia-Fundadora da ABPEducom e Sócia-Diretora da empresa de consultoria Iandé Comunicação e Educação.
Mariana é Jornalista, Educomunicadora e Professora universitária. Doutora em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina e Especialista em Comunicação Popular e Comunitária pela mesma instituição e Sócia-Diretora da empresa de consultoria Iandé Comunicação e Educação (flopes.mariana@gmail.com).
As profissionais colaboram voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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