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VI Educom – Encontro Brasileiro de Educomunicação, Porto Alegre (RS)
VI Educom – Encontro Brasileiro de Educomunicação, Porto Alegre (RS)| Foto:
VI Educom – Encontro Brasileiro de Educomunicação, Porto Alegre (RS)

VI Educom – Encontro Brasileiro de Educomunicação, Porto Alegre (RS)

Se não sobrou, algo de errado está acontecendo. Afinal, educomunicação pressupõe constante avaliação, desconstrução do que não vai bem e reconstrução sobre o que pode melhorar. A boa notícia é que, se não vai dar tempo pra fazer isso agora, você pode buscar fazê-lo antes de planejar as ações futuras. Sem atropelar essa importante etapa.

O mundo pós-moderno/ hiper moderno tem muito a ver com isso que temos vivenciado nas sociedades ocidentais em tempos de internet 4G e banda larga fixa se espalhando: um caótico fluxo de produção e circulação de informações, precarização das relações de trabalho (seja nos campos da comunicação, educação e em vários outros), permanência das lutas pela diminuição das desigualdades socioeconômicas… E não podemos esquecer a cerejinha desse bolo que, aqui no Brasil, vem com uns confeitos a mais: a instabilidade/ crise política e um mar de incertezas sobre garantia de direitos humanos e das inúmeras interpretações dos assuntos jurídicos e legislativos.

Espero que não esteja se perguntando ‘o que isso tem a ver com avaliação de práticas em educomunicação?’, pois tem tudo a ver, ser humano! Final de ano, muitas organizações e escolas estão encerrando projetos e outras atividades administrativas. É entrega de notas na secretaria, produção de boletins com as notas da gurizada, provas de recuperação, avaliações de segunda chamada, correção de últimos trabalhos… Nas entidades, os últimos ajustes nos relatórios de impacto social, levantamento das métricas de alcance do público na web, prestação de contas financeira aos parceiros, confraternização de fim de ano… E no meio disso tudo: deu tempo pra avaliar se os projetos ou programas educomunicativos tiveram bons resultados? Deu pra avaliar de verdade? Tipo, sentar, conversar e registrar tudo no papel ou digitalmente?

Avaliação é oportunidade de construir coletivamente um mapa sobre as impressões de todo mundo que se envolveu. Cada um tem a sua visão particular sobre as ações, mas esse rico material precisa ser jogado na roda! Nada de guardar pra si o que está pensando! É preciso que sejam criados momentos de reflexão conjunta. E mais: esses momentos precisam ser criativos, produtivos e transformadores. Até porque ninguém aguenta reunião chata, programação burocrática e horas de blá blá blá com quem fica monopolizando o tempo de fala, sem ouvir o que os(as) demais tem a dizer.

As avaliações e retornos que os adolescentes e jovens vão dando ao longo do processo educomunicativo também precisam ser levados em conta. Ninguém melhor do que eles(as) pra apontarem suas perspectivas sobre as atividades de educom. E eu espero muito que avaliações periódicas tenham sido feitas ao longo de todas as atividades, né?!  Educom é democratização dos processos, é ecossistema comunicativo em equilíbrio. Do contrário vira atividade mecanizada, um enfiar de conteúdos goela abaixo que não leva em consideração o que a meninada está sentindo e apreendendo daquilo tudo.

Certamente, as horas-atividade que o professor tem direito fora da sala de aula (para pesquisar conteúdos, se qualificar, preparar aulas, articular projetos com professores de outras disciplinas etc.) nem sempre são suficientes pra dar conta das demandas que vão surgindo na escola (Semana Cultural, Festa Junina, Campeonato interclasse, apresentação de dia das mães, dia dos pais etc.). Em muitos estados, os mecanismos pra impedir atividades que precisem de horas extras acabam inviabilizando uma dedicação maior do professor nas escolas… Nas ONGs/ OSCs, o cenário, às vezes, é mais complicado devido ao acúmulo de funções que os(as) profissionais precisam se submeter para garantir o bom andamento das ações, que vão desde contribuir com os serviços gerais até pegar para si atividades de gestão que deveriam ser feitas por consultores ou profissionais especializados. Tudo isso toma um tempo valioso!

O cenário político e econômico do país, também não vai nada bem, dados os constantes escândalos de corrupção com os quais a capacidade de se indignar vai virando rotina. Chegamos ao ponto de nem dar tempo de ficar escandalizado com a notícia da manhã, já que à tarde, surge uma outra ainda mais perturbadora. E essas incertezas políticas misturadas a uma economia que vai mal das pernas, gera mal estar ou ao menos uma sensação de desânimo para qualquer educomunicador(a) comprometido(a) socioambientalmente com as causas populares.

A dica é não deixar a engrenagem que a vida insiste impor, dominar e estragar a qualidade dos projetos educomunicativos. A escola é pra ser escola e não uma fábrica que produz estudantes acríticos e remolda educadores para que caibam todos numa fôrma só. Escola é pra formar gente, e cada um precisa ser único, diverso, plural. Nas organizações sociais, grupos e coletivos, os desafios também são similares quando o assunto é formar cidadãos participativos.

Não se recomenda, contudo, planejar suas oficinas, aulas, workshops, encontros de educomunicação que estejam por vir sem, antes disso, sistematizar os pontos fortes e fracos do que já rolou até aqui. Deixar de avaliar pode ser um sinal de que não se está muito preocupado com o que aconteceu. É acreditar que está tudo perfeito e que discutir erros e acertos não é tão importante assim.  Uma lástima! Não é passando a patrola por cima do que aconteceu que vamos garantir avanços e melhores condições dos processos educomunicativos que possam vir. Bora usar a criatividade e meios alternativos pra conseguir fazer as coisas bem feitinhas, gente! Dá um trabalho danado, mas te salva de repetir ações ineficientes/ ineficazes do passado.

*Artigo escrito por Diego Henrique da Silva, jornalista, educomunicadora e cofundador do coletivo Parafuso Educomunicação. O Parafuso Educom é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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