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Graciosa, mas cheia de buracos...
Graciosa, mas cheia de buracos...| Foto:

Em 1853 o Paraná tornou-se Província e seu primeiro governador ( na época chamava-se presidente) foi  Zacarias de Góis e Vasconcelos. A primeira perplexidade do político baiano foi o fato de Curitiba ( que já era vila desde 1693) não ter uma ligação com Paranaguá ( a primeira vila, de 1648) que permitisse uma carroça levar e trazer produtos de baixo para cima e vice versa. A erva-mate, riqueza da época, por exemplo, ia no lombo de burros pelas difíceis trilhas do Itupava, dez horas para chegar em Morretes. E de lá em canoas para Paranaguá.

Zacarias considerou a construção da estrada urgente, a ponto de afirmar não fazer sentido existir a Província sem a estrada.

Pois bem, meus caros e poucos leitores: a tal estrada ( da Graciosa) levou vinte anos para ficar pronta! E não adiantaram as manifestações açodadas dos comerciantes e produtores, a obra foi em passo de tartaruga.

Graciosa, mas cheia de buracos...

Graciosa, mas cheia de buracos…

Lembro-me, nos anos oitenta, o lançamento da ferrovia norte- sul, a grande realização do governo civil do maranhense ( ele ainda não havia transferido o título para o Amapá) Sarney. Uma obra que revolucionaria a agricultura no Norte e Centro-Oeste, ligando as áreas produtoras aos portos de exportação. Uma obra urgente para a nova república que prometia mundos e fundos.

E adivinhem? Quase trinta anos depois, a estrada está pronta? Necas…

E a transposição do São Francisco? E o trem rápido entre São Paulo e Rio? E as escolas integrais? Todas obras urgentes  e agora e ainda à espera de Godot.

Curioso como candidatos são açodados. Nosso prefeito Fruet, na disputa do primeiro turno prometia ser o primeiro prefeito a destinar 30% do orçamento para a educação, tarefa urgente e necessária. Uma vez eleito, a promessa se transformou em  até  o fim do mandato. Açodados somos nós a cobrar. A urgência virou prudência. Esperemos o discurso da próxima eleição…

E o nosso governador? Em meio ao laço da responsabilidade fiscal, anunciou o corte de mil cargos em comissão, medida saneadora e moralizante que, até agora, hum, não aconteceu. Mas a eleição está chegando e novas urgências serão listada, e novos discursos açodados serão ouvidos. É só esperar.

Nossa presidenta, num açodamento total de candidata, prometeu um governo para acabar com a miséria e olhar, principalmente para as crianças. Curioso, já no fim do mandato e o déficit de vagas nas creches e pré-escolas é de um milhão. Sim, perplexos leitores: um milhão de vagas precisam ser criadas para que nossas crianças de até 5 anos possam ter a chance de sair da miséria cultural a qual podem estar destinadas por falta de investimento público. Mas, novamente, teremos campanha e promessas. Sugiro repararem nos termos que serão usados: açodamentos certamente não serão  evitados.

O governo de São Paulo gasta mais em publicidade do que em educação. O governador do Distrito federal orça, só em frutos do mar e carne bovina, o equivalente a 59 quilos por dia, para abastecer a sede do seu governo, a um preço de um milhão e meio de reais. Uma fome que urge, diriam seus apoiadores.

E nós, cidadãos, pacatos e pacientes, ficamos aguardando governo. Mas às vezes, nossa má educação nos trai e soltamos um grunhido de amargor, um desabafo a boca miúda, um chute no vazio do ar. E o que respondem nossos governantes? Açodamento! “As pessoas não sabem das dificuldades técnicas do governo e precisam saber esperar.”

Hoje fui ver o filme “Clube de compras Dallas”, no qual o ator Matthew McConaughey interpreta Ron Woodroof, um caubói texano que resolveu lutar contra o governo americano para ter acesso a remédios que permitiriam ampliar sua vida na luta contra a AIDS. Sua causa era urgente e seus métodos – quem for ver o filme verá – açodados. Não podia ser diferente: a negligência e mesmo a má fé dos governantes às vezes desafia nossa civilidade ao limite, tanto para os casos extremos da saúde até uma medida básica de atendimentos aos cidadãos, como criar um parque.

Nossa ânsia de vermos atendidos nossos pleitos mais básicos, senhores governantes, às vezes nos leva a um certo açodamento. Mas é que tudo é urgente, desde Zacarias de Góis e Vasconcelos. Até quando?

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