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como temos visto o mundo, ultimamente.
como temos visto o mundo, ultimamente.| Foto:

Não, não é um comentário sobre o clima de Curitiba nem, muitas vezes, sobre o humor dos curitibanos. É o nome do documentário de Marcelo Mesquita que fala sobre o projeto “cidade limpa” do prefeito Kassab em São Paulo e a operação de apagar os grafites dos muros e viadutos da cidade com tinta cinza. Nessa onda, a prefeitura apagou um grande painel de 700 metros, pintado por grafiteiros reconhecidos internacionalmente como os Gêmeos, Nunca, Nina e outros. Diante da repercussão, o governo municipal voltou atrás e os grafiteiros pintaram um painel novo. Ficou lindo. É de ver.

Vi o filme pensando em Curitiba, mas não exatamente nos grafiteiros. Vi o filme pensando em como cidades como a nossa não se prestam a serem ocupadas por seus moradores. No documentário, um dos entrevistados diz: “O grafiteiro usa a imagem que deixa nos muros como voz.” E nós, o que dizemos para a nossa cidade?

Temos praças cujos nomes não nos dizem respeito, museus que desconhecemos completamente, parques que usamos sem ouvi-lo ( fones no ouvido) ou mesmo vê-lo ( ocupados com os músculos e roupas de grife dos transeuntes), ruas que evitamos, escondendo-nos nos shoppings cada vez mais suntuosos e anódinos. Quando acontece de um acontecimento, como foi a Virada Cultural, lembramos que existe rua e praça e que esses são lugares de encontros e trocas, de acenos e abraços. Mas daí o evento vai e a cidade emudece.

Outra coisa que é surpreendente no filme é a presença dos carros. Um dos rapazes, olhando para as máquinas de lata zumbizando a todo instante, como manchas na lente na câmera, disse: “Eu sei que não são só carros. Há seres humanos neles.” Básico. Óbvio. Mas vivemos nos esquecendo disso.

como temos visto o mundo, ultimamente.
como temos visto o mundo, ultimamente.

Nossa cidade perdeu a corrida para o congestionamento, para os muros de concreto, para os fios nos postes, como varais desertos. Nossa relação com a cidade é de espera no trânsito, corrida ao banco ou supermercado, fila de bar e restaurante da moda, olhar nervoso com medo do assalto ou do atropelamento. E isso é algo somente palidamente parecido com “viver “na cidade.

Nossos gestores, nossos urbanistas, nossos engenheiros, nossos políticos e, fundamentalmente, nós mesmo, precisamos refundar esse lugar que vivemos. Com menos carros, menos shoppings, menos muros , menos especulação imobiliária que apaga a memória urbanística e arquitetônica da cidade, menos pressa, menos medo. Mais bosques e bancos de praça, mais colorido nas paredes, mais cinemas de rua, mais artistas mambembes, mais ruas calçadas, mais flores nas ruas das flores, mais músicos, mais festivais e mais conversas de bar. Deixar que o cinza da nossa cidade seja do céu, porque esse, pelo jeito, não tem jeito mesmo.

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