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O passado como miragem:
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O super telescópio Hubble descobriu um complexo de galáxias, denominadas  el gordo,  há, 9,6 bilhões de anos luz da Terra. Uma proeza que aproxima os olhares humanos das fronteiras do universo. Mais conhecimento e menos mistérios nos aguardam. Ficamos mais sábios? Improvável. Aprendemos mais sobre nós mesmos? Tiramos lições preciosas para nossa vida mindinha aqui no planetinha azul perto do sol de “apenas” quinta grandeza? Parece que não.

Proponho uma pequena reflexão: O que o telescópio “vê” é a luz emitida por essas galáxias há 9,6 bilhões de anos. Um grande e incrível alô do passado remoto do universo para nós, perdidos nesse tempo imenso do espaço sideral e, concomitantemente, imersos nesse minúsculo tempo de nossa existência terráquea.

Tudo o que vemos é o passado. O sol quando nasce e o admiramos no horizonte, já é um olhar com oito minutos de atraso. A lua dos namorados,  a estrela brilhante, a galáxia mais próxima, tudo isso é ontem, outro dia. Mas as sensações desse passado impressas em nossa retina marcam os nossos “momentos”. Vivemos disso. Mas não percebemos. O passado não é um guia, é a realidade percebida, já que nossa capacidade cognitiva é como a ave de Minerva, sempre levantando voo ao entardecer.

Por outro lado, veja que coisa curiosa: o nosso passado histórico, esse ontem que não tem 30 , 40 anos, ou 400, 500 anos, parece não ter mais qualquer influencia sobre nós. Afirmamos coisas como se o mundo tivesse começado ontem, hoje, há quinze minutos. Na política então , é brincadeira. Não parece que temos mais de 500 anos de descaso e ineficiência, indiferença e elitismo? E a democracia, então? Não parece que só há pouco mais de 30 anos paramos de pegar estudantes nas ruas e jornalistas nas redações e enfia-los em paus de arara? O hoje é julgado como se fosse um presente constante e o passado fosse só uma miragem sem importância e sem conexão.

A resposta, como os antigos pensavam, ainda está nas estrelas. Às lições do Hubble, mostrando o lugar no qual vivemos e o tamanho que temos, acresce-se ainda essa: o tempo que percebemos traz o passado embutido, indelevelmente. Ignorar esse fato é mais do que um erro. É um risco colossal.

 

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