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Somos um país de adultos infantilizados e um tanto de crianças iludidas por esses adultos infantilizados.  Acreditamos em coisas por acreditar, sem fundamento ou preparação. Quando as coisas acontecem, porque algumas coisas acontecem mesmo sem fundamento ou preparação, exultamos e exaltamos nossa esperteza e predestinação como o famoso e herético “Deus é brasileiro”. Quando dão erradas, o que ocorre na maior parte das vezes nas quais falta fundamento ou preparação, o mundo cai em lágrimas.

Lógico que me refiro ao campeonato de futebol, mas não somente. Acompanho, há trinta anos, estudantes preparando-se para o vestibular e , nesse tempo todo, o comportamento é muito parecido: o sucesso não é o resultado de um projeto bem elaborado e executado. É uma questão de fé. E, é lógico, na maior parte das vezes, dá errado.

No caso da Copa, era evidente que progredíamos  aos trancos e barrancos e que a Alemanha foi a primeira seleção “pra valer” que o país enfrentou, depois de um começo titubeante com a Croácia, depois um empate quase derrota para o México e depois uma vitória na eliminada Camarões. Daí uma vitória nos pênaltis com o Chile, um 2X1 com a colômbia, incensada como “grande” time para dar um brilho a mais no nosso escrete e , por fim, a derrota dos chorões. No dois a zero a seleção de jovens profissionais milionários, todos titulares de grandes times ( bem, menos o Júlio César), simplesmente olhavam um para o outro sem saber o que fazer porque não tinha sido assim o “combinado”. O “combinado” seria uma vitória da “garra”, da “raça”, um vitória para o herói (????) Neymar e outras baboseiras do gênero que as televisões ficaram a trombetear durante a semana. Em cinco minutos, os alemães, que não têm nada com a nossa infantilidade, ensacavam 5 a zero.

Muitos dos meus alunos funcionam assim também. Querem fazer medicina, porque fazer medicina, o simples querer, dá a eles uma aura especial, de guerreiro, lutador. Esquecem, ou talvez esses vídeos games sejam mais perniciosos do que imaginamos, que um guerreiro, um lutador, precisa ser forjado em muito treino e planejamento e formação. E que o resultado é uma coisa fria, numérica. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete pra cá e só um pra lá, pronto, ganhou o primeiro. Não importa que você quis “dar alegria para o povo”, ou “fez tudo o que podia”. Para querer certas coisas, tem de poder muito mais do que simplesmente o que se pode.

Daí, como crianças cujo desejo não se cristaliza, choramos. Derramamos lágrimas e ficamos com raiva ( quebrando ônibus, derrubando placas) porque não tinha assim que tínhamos desejado.

Um pouco de psicanálise deveriam ensinar nas escolas. Pelo menos a parte de que há um filtro entre o sonho e o concreto e que esse filtro se chama “realidade”. Para passar do sonho para o concreto, para o substancial, deve-se submeter o sonho ao filtro da realidade. Aquele que é frio e numérico. E que nos fará assistir, com cara de meninos chorões, ao jogo do domingo no qual não estaremos lá.

 

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