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João Otávio foi morar com a tia, depois que os pais morreram em um acidente de automóvel. Um motorista de caminhão dormiu no volante e jogou a carreta para cima do carro do casal, que voltava para casa do trabalho. João tinha quatro anos e não lembra bem de seus pais. A tia disse que ele fica muito incomodado no dia das mães e pede para não ir para a escola. Ela se incomoda: “agora a mãe sou eu, né? Mas eu entendo, um dia ele também vai entender.

 

Marcos Fabrício foi abandonado em um lixão e encontrado por um catador de latas. Apesar das dificuldades extremas, conseguiu concluir o ensino médio e disputa uma vaga pelo sistema de cotas. Quer fazer Psicologia e ajudar pessoas com histórias como a dele. Chama seu Honório, o catador de latas, de pai. Seu Honório não tem família, parentes próximos ou distantes. Ninguém. São apenas os dois no mundo. Mesmo assim, Marcos Fabrício teve escola, roupa, comida, casa, amor. E quer retribuir isso dando uma velhice melhor para o “pai” e um mundo melhor para o mundo.

 

Marina foi abusada pelo pai biológico desde os quatro anos. Levou dez anos assim mas a mãe acabou fugindo com ela de casa, para a casa dos avós. Um dia, o pai chegou de madrugada e matou a mãe de Marina com quatro tiros no rosto. Foi preso e ela nunca mais ouviu falar dele. Os avós já são mortos e Marina é casada e tem dois filhos e um neto. Diz nunca ter perdido a esperança na família. “Com amor, tudo é possível.” “O problema é o amor”, ela me diz, os olhos fitando um canto da parede.

 

Márcia é casada com Francisca. Os pais aceitaram a opção dela e pelo menos duas vezes por semana o casal vai jantar na casa dos pais de Márcia. “Minha mãe só sabe dizer: quero um neto”. “Estamos pensando em adotar”.

 

Paulo Roberto nunca se reconheceu no corpo que tinha. Aos quinze anos fugiu de casa para viver sua vida e “se encontrar”. Arranjou emprego em uma loja de roupas femininas e quando atingiu a maioridade a dona da loja o ajudou com os médicos e psicólogos. Há dois anos fez uma operação de mudança de sexo e agora se chama Paula. Namora João Marcos e pensam em morar juntos. “Queremos formar uma família. Queremos filhos para poder amar, seja do jeito que eles forem”.

 

Seu Júlio, 77 anos, nunca aceitou essa coisa de modernidades. “Prefiro filho morto que filho baitola”, disse-me sem corar. “Prefiro ver morto debaixo de um carro”, insistiu. Fred, seu filho e quem me apresentou o pai, olha para baixo, constrangido. Fred é homossexual e esconde a condição da família. Fred tem 47 anos e já foi casado. Tem dois filhos. “Nunca conheci o amor de verdade”, confessa-me. “Se meu pai entendesse, eu poderia ter ido em busca da felicidade. E ter uma família de verdade. Mas vivo em uma mentira. É triste.”

 

Em São Francisco, nos EUA, o Papa Francisco declarou: “a família é como uma fábrica de esperança, uma fábrica de ressurreição”.

Que assim seja.

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