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Entrelinhas

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Entrevista

“O Brasil me custou tudo”: Oswaldo Eustáquio fala de exílio, censura e caso Zambelli

(Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

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Oswaldo Eustáquio vive hoje na condição de exilado político na Espanha, onde teve reconhecido seu pedido de asilo por perseguição no Brasil. Ele ganhou projeção nacional ao denunciar o que chama de "métodos arbitrários e autoritários" do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e alega ter sido vítima de censura, tortura e perseguição judicial.

Nesta entrevista, Eustáquio traça um panorama do que afirma ser uma "crise sem precedentes na democracia brasileira". Entre revelações sobre bastidores do exílio da deputada Carla Zambelli (PL-SP), críticas à atuação do STF, denúncias de possíveis abusos policiais e comentários sobre figuras-chave da política, ele apresenta sua leitura do cenário nacional e internacional. Com "a firme convicção de que o sol da justiça voltará a brilhar sobre o Brasil”, o jornalista garante que não vai recuar em sua missão de expor o que acredita ser um "sistema opressor".

Entrelinhas: Como você analisa a condenação da deputada Carla Zambelli a 10 anos de prisão e a ida dela para a Europa? É mais um caso de exílio político?

Eustáquio: Eu vejo a condenação dela como um ataque à liberdade de expressão. Quando a Carla escolhe a Europa, ela se baseia numa jurisprudência do meu processo. Aquilo que no Brasil é considerado crime, na Europa é entendido como liberdade de expressão. A mais alta corte da Espanha, a Audiência Nacional, já decidiu isso, e isso cria uma jurisprudência para toda a Comunidade Europeia. No meu caso, isso já foi garantido, mas no caso dela é ainda mais sólido, porque ela tem cidadania italiana.

Entrelinhas: E isso a protege de uma eventual prisão?

Eustáquio: Como cidadã italiana, Zambelli não pode sofrer prisão preventiva nem pedido da Interpol. Ela se baseia nessa proteção e na jurisprudência do meu caso. Mesmo assim, acredito que Alexandre de Moraes tentará prendê-la nos próximos dias. Tenho convicção disso, com base na minha experiência e nas minhas duas ordens de prisão em aberto.

Entrelinhas: Houve repercussão na Espanha quanto à reação do ministro Alexandre de Moraes ao seu asilo?

Eustáquio: Sim. Isso foi manchete no El País, o jornal mais importante. As autoridades espanholas receberam muito mal a atitude de Moraes. Um policial nacional me disse, ao sair de um julgamento: "Parabéns, a Espanha te concedeu asilo. Agora, coloca esse ministro no lugar dele, porque aqui ele não manda". O ministro feriu a soberania espanhola ao tentar obrigar o embaixador da Espanha a responder em cinco dias. Isso é inadmissível, e os espanhóis são muito nacionalistas.

Entrelinhas: A deputada Zambelli anunciou que vai percorrer a Europa denunciando violações. Você estará com ela?

Eustáquio: Sim. Eu já venho fazendo isso há dois anos. Com a visibilidade da Carla, que foi a deputada mais votada de São Paulo, essa denúncia ganhará força. Mas esse trabalho já vem sendo feito. Eu, como jornalista, consegui vencer o Estado brasileiro em tribunais europeus. Imagina agora com ela ao meu lado.

Entrelinhas: O STF está julgando o Marco Civil da Internet. Na sua opinião, isso pode intensificar os riscos à liberdade de expressão?

Eustáquio: Hoje já temos casos mais graves que a censura prévia: estamos censurados permanentemente. Eu não posso publicar nada. Minha filha de 16 anos não pode abrir uma conta em banco ou ter redes sociais, senão a mãe dela é presa. É um absurdo. O mundo está vendo que há perseguição política no Brasil. Quando eles perseguem familiares, como minha filha Mariana, é sinal de que o objetivo já não é mais judicial, é pessoal.

Entrelinhas: As possíveis sanções contra Alexandre de Moraes por parte dos EUA podem gerar um possível recuo do STF?

Eustáquio: Ele será sancionado. Com isso, o Senado brasileiro terá de pautar o impeachment que o povo exige. Se o Brasil for um país decente, ele precisa julgar o ministro.

Entrelinhas: Diante de tudo isso, você ainda tem esperança de voltar ao Brasil?

Eustáquio: Tenho convicção de que voltarei. Prometi ao meu pai, militar, que lutaria pela liberdade da nossa nação. Hoje vivo um exílio que me custou tudo: família, trabalho, presença na vida da minha filha. Eu saí quando ela era criança. Hoje ela é adolescente. Mas tenho certeza de que, em 2026, com Jair Bolsonaro ou quem ele indicar, o Brasil dará uma guinada à direita. E, quando isso acontecer, o chicote mudará de mão — não para perseguir, mas para restabelecer o equilíbrio e a justiça.

Entrelinhas: Recentemente vieram à tona áudios do perito Eduardo Tagliaferro. Você o ajudaria a tentar sair do país. Por que ele desistiu?

Eustáquio: O Tagliaferro teve medo, voltou ao Brasil, fez acordo com advogados, retomou a vida profissional e parou de denunciar. Quando divulguei os áudios, ele foi indiciado. Ele chegou a pedir ajuda financeira para denunciar Moraes, o que eu, como jornalista, não poderia fazer. Sugeri que ele escrevesse um livro. Mas ele optou por voltar atrás. Infelizmente, muitos acabam cedendo ao poder financeiro e político do outro lado.

Entrelinhas: E o PL da Anistia? Qual a importância dele nesse contexto?

Eustáquio: É o projeto mais importante do Brasil hoje. Mais importante do que qualquer CPI. Temos mais de 500 pessoas com tornozeleira eletrônica. Isso também é prisão. O PL da Anistia precisa trazer de volta os exilados políticos como eu e devolver o Brasil ao seu estado normal. O país está desequilibrado politicamente. Com a pressão das eleições, acredito que a anistia vai passar. Espero que seja ampla, geral e irrestrita.

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