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Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, levou ao Senado documentos que, segundo ele, “comprovam irregularidades extremamente graves” no gabinete do ministro. Em audiência na Comissão de Segurança Pública, Tagliaferro afirmou que foi procurado pelo juiz instrutor Airton Vieira para confeccionar relatórios e mapas mentais de forma retroativa, com o objetivo de justificar a operação da Polícia Federal que mirou empresários apoiadores de Jair Bolsonaro em 2022, entre eles Luciano Hang e Afrânio Barreira Filho.
Pouco depois dessas revelações, a Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo denunciou Tagliaferro por peculato e organização criminosa, acusando-o de participar de um esquema para desviar valores de heranças e bens de idosos incapazes. A defesa dele nega as acusações e afirma que a denúncia pode representar retaliação por suas declarações contra Moraes no Congresso. Tagliaferro falou com exclusividade à coluna Entrelinhas e ao programa Sem Rodeios:
Entrelinhas: Por que o senhor demorou tanto tempo para trazer essas revelações e qual foi a sensação de poder trazê-las à tona?
Tagliaferro: Por dois anos, eu precisava fazer isso e não conseguia, justamente por não conseguir chegar a deputados, senadores, a grande mídia me trair e fechar as portas. Foi uma tremenda satisfação poder trazer isso a público, poder esclarecer o que aconteceu, poder contar a realidade, a verdadeira história do que aconteceu nas eleições e um pouco depois de 2022.
Entrelinhas: O senhor acredita que suas denúncias podem pressionar o Congresso pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes e pela anistia?
Tagliaferro: Eu espero que Davi Alcolumbre assuma a posição de presidente do Senado e paute o impeachment. Espero também que o ministro Barroso faça como faria com qualquer outro servidor dentro da Casa: afaste Moraes. Se não acontecer a situação do afastamento e do impeachment, eu vou investir tudo no material que está à disposição para comprovar a veracidade. É o momento que ele tem de tentar salvar um pouco do que já foi destruído, inclusive da imagem dele.
Entrelinhas: O senhor foi ao Senado, na semana que vem estará na Câmara. Há mais revelações por vir?
Tagliaferro: Uma coisa que aprendi com Alexandre de Moraes foi a dosar as coisas. Se eu jogo tudo de uma vez, ele vai lá, tenta se justificar, monta a história dele e acabou. Então, quero ver ele montar diversas histórias, quero ver ele falar diversas vezes, quero ver ele tentar se explicar. Eu vou jogar os autos, onde a própria equipe dele fala. Sempre tem coisa nova.
Entrelinhas: Quão estreita era a relação entre Moraes e Paulo Gonet, de acordo com suas denúncias?
Tagliaferro: Moraes pediu para Gonet analisar um vídeo. O chefe já jogou direto na mão de Moraes para que Moraes fizesse a denúncia, combinando como isso ia ser feito no TSE ou no STF. Também recebíamos listas com nomes para denunciar. Isso não é papel do Judiciário, é papel do Ministério Público. Identificação de pessoas é papel da Polícia Federal. Mas era tudo tratado como uma única empresa: STF, TSE, PGE, PGR. Isso é um absurdo.
Entrelinhas: Sobre o caso dos empresários, o grande objetivo era que não financiassem a campanha de Jair Bolsonaro?
Tagliaferro: A assessoria nunca teve acesso antes de 27 de agosto ao material dos grupos de WhatsApp. Nunca existiu investigação. Quando chegou para mim esse pedido, chegou simplesmente a matéria do [jornalista Guilherme] Amado e o pedido: “Faça um relatório, coloque o nome dessas pessoas para investigação”. Depois, soubemos que a PF já tinha combinado para fazer busca e apreensão. Não existiu investigação prévia, foi um absurdo. Quanto ao objetivo de Moraes, é claro que era intimidar. Ele não quer que ninguém patrocine, que não haja liberdade de expressão, que ninguém ajude um dos lados. Ele tenta assustar o povo. Eu, por exemplo, estou com tudo bloqueado, não tenho cartão de crédito, minhas filhas dependem de mim. Esse é o perfil desse sanguinário chamado Alexandre de Moraes.
Entrelinhas: O gabinete de Moraes disse que todos os procedimentos foram oficiais, regulares e documentados. Qual é a sua avaliação sobre isso?
Tagliaferro: É uma declaração mentirosa. Tenho as conversas aqui e quero ver o que ele vai falar quando eu mostrar. O relatório para a busca e apreensão foi entregue no dia 29 de agosto, depois da busca, e tenho tudo isso no meu telefone. Quero ver ele provar, porque eu trabalho com provas.
Entrelinhas: O senhor teme extradição ou represálias?
Tagliaferro: Pode parecer frio, mas tudo isso que está acontecendo eu já sabia. Conheço o modo de operar dele. Espero qualquer coisa: homicídio, prisão, extradição. Vai do governo italiano entender se é crime político ou não. Me preocupo pela minha família, mas comigo é zero preocupação.
Entrelinhas: O senhor conhece bem Alexandre de Moraes. Como acha que a Lei Magnitsky o afetou?
Tagliaferro: Ninguém gosta de ser punido, especialmente fora do seu país, isso parece pior. Acredito que, apesar da força da lei e das sanções impostas, talvez isso não o afete financeiramente como todos desejam, porque sempre ouvi que ele é uma pessoa muito rica, sabe usar cartões de terceiros, sempre dá um jeito. Mas, no ego, ele se sente incomodado. Se começarem a pegar familiares, esposa, filhos, irmãos, servidores do gabinete, aí sim a coisa começa a ficar insustentável para ele.
Entrelinhas: Diante disso, o que a população pode fazer?
Tagliaferro: O Brasil é nosso. O brasileiro tem responsabilidade com isso. Tem que parar o país, ir para as ruas, manifestar, mostrar indignação. Não dá para esperar milagre. Graças a Deus, temos gente fazendo algo, mas também precisamos fazer nossa parte.





