Existe um grande abismo entre Círculo de Fogo (confira os horários das sessões nos principais cinemas do Paraná) e os outros grandes blockbusters que estrearam este ano nos cinemas. Diferente de O Homem de Aço, Além da Escuridão: Star Trek e Guerra Mundial Z, o novo filme de Guilhermo del Toro não adapta ou refilma uma narrativa pré-existente, mas se apropria de um conceito para criar uma obra cheia de energia e candidata a se tornar um dos melhores títulos do ano.
A trama, para quem perdeu qualquer publicidade do filme, coloca os humanos a beira da extinção, enfrentando ataques recorrentes de monstros gigantes, chamados de kaijus. Um projeto de robôs gigantes foi anunciado como a salvação logo que a ameaça apareceu, mas o financiamento desaparece depois de recorrentes derrotas robóticas. A última esperança da Terra reside num ataque ao portal de passagem dessas criaturas, uma fenda que fica no fundo do oceano pacífico.
Exímio contador de histórias, como provam os dois Hellboys e A Espinha do Diabo (2001), del Toro faz aqui uma declaração de amor à cultura japonesa, mais especificamente às produções de monstros e efeitos visuais, chamadas de Tokusatsu – subgênero da ficção científica de horror que tem Godzilla como seu primeiro e maior representante. Círculo de Fogo apresenta um hall de seres bestiais que homenageiam “personagens” como Gamera, Rodan, Gigan, Megalon e o crustáceo Sea Monster.
Embora seja um prato cheio para um nicho específico, pois parece um filme de meninos (diria uma amiga minha), o longa-metragem do cineasta mexicano tem várias qualidades que o destoa de outras produções com a mesma essência. A começar pelo elenco, encabeçado pelos ótimos Idris Elba (Luther) e Charlie Hunnam (Sons of Anarchy). Ou seja, nada das interpretações afetadas vistas na série Transformers.
Os humanos não chegam a ser o centro da atenção do diretor no filme, que entende bem o que o público quer ver nesse tipo de produção. Quando pessoas são mostradas em cena, elas se tornam vítimas que precisam ser protegidas pelos protagonistas, conectados aos robôs gigantes – que também homenageiam vários outros “personagens” japoneses, como Jet Jaguar e Ultraman. Nada de milhares de vidas inocentes perdidas ao acaso, como visto no novo Superman.
Os heróis de múltiplas nacionalidades lidam com temas como luto, traumas e a aceitação da morte. Tudo isso com um ritmo de ação desenfreada, pois del Toro não tira o pé do acelerador, o que torna sua obra bem dinâmica. Quem dera todos os filmes de verão americano fossem assim. A crise de originalidade de Hollywood estaria resolvida.
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