Uma cena constrangedora de Invocação do Mal (2013) explica bem o espírito do filme. Em determinado momento da narrativa, Lorraine Warren (Vera Farmiga) estende as roupas num varal quando se depara com o movimento brusco de um lençol ao vento. A imagem, que funciona como um gancho para o susto de verdade, brinca com o medo primitivo de fantasmas.
Sem receio de parecer constrangedor, o diretor James Wan abusa de recursos piegas para recriar em seu filme uma atmosfera de horror à moda antiga (como bem salientou meu colega Sandro Moser em sua resenha há duas semanas). O resultado funciona bem, ainda que o ritmo seja irregular. A trama brinca com a ideia de casa mal assombrada, fantasmas vingativos e maldições – lembrando Desafio ao Além (1963), ainda que fique longe do clima sombrio e denso do filme de Robert Wise.
Invocação do Mal se apropria de uma situação real investigada por Lorraine e Ed Warren (Patrick Wilson) na década de 1960. O casal, que ficou conhecido pelas polêmicas envolvendo o livro e o filme Horror em Amityville, aparece na obra de Wan de forma altruísta. O retrato é bem diferente da imagem negativa provocada pelas acusações de fraude dos anos 1970, pois confere autenticidade ao trabalho dos médiuns.
Na trama, os investigadores ajudam uma família, atormentada pelas aparições provocadas pelo fantasma de uma mulher. Por quase metade da projeção, os Perrons servem de protagonistas ao horror, pois Farmiga e Wilson se ocupam de lembrar ao público quem são os personagens que interpretam. As melhores cenas do filme residem nos momentos em que as portas rangem e a câmera deixa a entender que algo está no quadro, ainda que ninguém saiba determinar o que é.
Não por acaso, quando as cenas passam a ser comandadas pelos médiuns, a obra perde um pouco do ritmo. É meio sem graça ver pessoas que sabem como se livrar de fantasmas em casas assombradas. Afinal, o horror se constrói na vulnerabilidade de seus protagonistas.
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O filme Evocando Espíritos (2009) e o telefilme A Casa das Almas Perdidas (1991) também são obras inspiradas na carreira paranormal do casal Lorraine e Ed Warren. O último tem, inclusive, roteiro e participações especiais dos dois. Ed morreu em 2006.
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