Na vida real, nenhum caçador teria salvado Chapeuzinho Vermelho das mandíbulas sangrentas do Lobo Mau. Há inúmeras versões que revelam um desfecho de horror para esse e outros contos de fadas. O mundo das fábulas é sombrio.
O diretor Guilhermo del Toro sabem muito bem disso e, em sua obra, não há linhas divisórias entre as histórias infantis e o terror. Os filmes protagonizados por crianças geralmente acentuam essa assinatura do cineasta, que retrata o olhar inocente diante de criaturas imaginárias e ameaçadoras. O Labirinto do Fauno (2006) e A Espinha do Diabo (2001) são exemplos disso.
A marca do diretor foi parar nos filmes que produz, como é o caso de Mama (2013), de Andrés Muschietti. O título, que passou há alguns meses pelos cinemas brasileiros, adapta um curta homônimo que mostra duas crianças assombradas pelo espírito de uma mulher. Del Toro achou o visual do vídeo impactante e resolveu bancar o resto da história.
O resultado é bastante irregular. A trama acompanha um casal, vivido por Nikolaj Coster-Waldau e Jessica Chastain, que passa a cuidar de duas meninas que, durante cinco anos, viveram isoladas da sociedade, protegidas pelo fantasma de uma mãe desconsolada e violenta. A entidade as segue para dentro da nova família e passa a atormentar os protagonistas por ciúmes.
Embora tenha um argumento interessante, Muschietti não consegue agregar emoção em sua obra de estreia no cinema. A trama é amarrada, mas falta densidade. Especialmente pela temática, que flerta com questões como as de O Enigma de Kaspar Hauser (1974), retratada sem profundidade.
Ninguém espera aulas de psicologia numa obra de gênero, mas, como o drama não se desenvolve como a premissa exige, o horror acaba não se revelando. Precisamos nos importar com os personagens para poder temer por suas vidas. O desfecho da história das crianças nem sequer provoca luto (e olha que a ideia é bem ousada).
Sem coração, o que sobra de Mama são algumas cenas bacanas de monstro e uma Jessica Chastain com cabelo preto. Além de algumas lições de moral furadas, como em todos os contos de fada.
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