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A guerra entre judeus e palestinos. O horror, mais uma vez.
A guerra entre judeus e palestinos. O horror, mais uma vez.| Foto:
A guerra entre judeus e palestinos. O horror, mais uma vez.

A guerra entre judeus e palestinos. O horror, mais uma vez.

Mais uma vez um conflito sangrento perturba o oriente médio. Entre a teimosia e inabilidade do Hamas e a truculência do governo de Israel hoje já são mais de 1000 mortos, entre os quais mais de 150 crianças palestinas. Um clima tão acirrado que até para o Brasil sobraram chispas. Nosso país foi chamado de “insignificante” e “anão diplomático” por funcionários do ministério das relações exteriores israelense pelo fato do Brasil deixar clara sua postura contra as operações do exército daquele país. Há alguns anos, neste blog, escrevi um texto (veja aqui) que falava da postura do maestro e pianista judeu Daniel Barenboim (e também comento aqui seu mais recente CD), a respeito destes sangrentos conflitos. Ao voltarem agora os conflitos Barenboim também voltou a exercitar a sua tese de conciliação entre palestinos e judeus. Num artigo publicado pelo jornal inglês “The guardiam” no último dia 24 (você pode ler o artigo aqui), Barenboim foi absolutamente brilhante. Ele inicia o artigo com uma frase bem contundente: “Estou escrevendo estas palavras como alguém que tem dois passaportes – israelense e palestino”. Ele, um israelense, recebeu por seu trabalho de aproximação dos dois povos, um passaporte palestino, contando por isso com as duas nacionalidades. Vejam como ele consegue se colocar na posição dos dois povos: “Nós, palestinos, achamos que precisamos receber uma solução justa. Nossa busca é fundamentalmente para a justiça e para os direitos concedidos a todos os povos da Terra: a autonomia, autodeterminação, liberdade, e tudo o que vem com ela. Nós, israelenses precisamos de um reconhecimento do nosso direito de viver no mesmo pedaço de terra. A divisão da terra só pode vir depois de ambos os lados, não só aceitarem, mas entenderem que podemos viver juntos, lado a lado”. Israel, que está se tornando cada vez mais um estado direitista, já que a esquerda se enfraqueceu principalmente depois da emigração de diversos judeus russos, tem expressado em seu parlamento palavras que evocam a legitimidade de um genocídio, e o Hammas, que governa a faixa de Gaza, acredita que Israel não tem direito de existir. Barenboim de novo: “No coração da aproximação tão necessária há a necessidade de um sentimento mútuo de empatia, compaixão. Na minha opinião, a compaixão não é apenas um sentimento que resulta de uma compreensão psicológica da necessidade de uma pessoa, mas é uma obrigação moral. Somente através da tentativa de entender o sofrimento do outro lado podemos dar um passo em direção ao outro”. Barenboim é para mim, o único músico ligado à música clássica, que assume os riscos de colocar sua postura a respeito deste tipo de assunto de forma bem clara.

Daniel Barenboim dirigindo a West-Eastern Divan Orchestra

Daniel Barenboim dirigindo a West-Eastern Divan Orchestra

Daniel Barenboim: grande músico, grande ser humano

Daniel Barenboim é um músico que me fascina. Um dos maiores maestros da atualidade tem realizado um trabalho impecável frente à Ópera Estatal de Berlim, transformando sua orquestra entre as melhores do mundo. As recentes gravações de obras de Bruckner e Elgar testemunham a alta qualidade deste trabalho. A Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper) sob a direção de Barenboim acabou tomando a dianteira entre os teatros líricos de Berlim (a cidade tem três teatros de ópera). Além de Daniel Barenboim ser um maestro impecável, com um repertório absolutamente incomparável, é também um dos mais importantes pianistas de nossa era, com um repertório que só pode ser comparado ao lendário pianista russo Sviatoslav Richter. Aliás, um dos maiores mistérios da música clássica atual, é a que hora Daniel Barenboim estuda piano. Como pode alguém tocar (e bem) obras complexas como os concertos de Brahms tendo o dia todo ocupado com ensaios de orquestra? Tanto no piano quanto na regência de orquestra Barenboim, além dos clássicos, interpreta obras contemporâneas, algo que muitos de seus colegas não fazem. Dirige com frequência itens complicadíssimos de Pierre Boulez e Eliot Carter, e incentiva novos autores de escrita complexa como o israelense Ayal Adler, um notável jovem compositor. Não fosse tudo isto, Barenboim nas últimas décadas tem se revelado o músico clássico mais importante do ponto de vista humanístico. Prova disto é seu trabalho, realizado desde 1999 frente à West-Eastern Divan orchestra, uma orquestra formada por judeus e palestinos, que luta, através da música, para o entendimento entre estes dois povos que se tornaram grandes inimigos. Barenboim nasceu em Buenos Aires, no ano de 1942. Sua família, entusiasmada com o nascimento de um novo país, Israel, que prometia ser uma terra de liberdade e respeito, se transferiu para lá. Barenboim é, portanto, cidadão israelense. Seu trabalho frente à West-Eastern Divan orchestra não é muito bem aceito em Israel. Em 2004, Daniel Barenboim recebeu no Parlamento de Israel, em Jerusalém, o Prêmio Ricardo Wolf, por sua atuação em favor dos direitos humanos e da paz mundial. O prêmio, de 100.000 dólares, foi dividido entre Barenboim e o violoncelista Mstislav Rostropovich. Os 50.000 dólares recebidos por Barenboim foram destinados à manutenção da West-Eastern Divan orchestra . O discurso pronunciado por Barenboim, ao receber o prêmio, provocou a ira da ministra da cultura, Limor Livnat, presente ao evento, e dos deputados do partido conservador Likud, sendo aplaudido pelos demais representantes do povo na câmara baixa. Após citar trechos da declaração de independência de Israel, Barenboim perguntou se seria compatível a independência de um país com violação dos direitos fundamentais de outro povo e, mais ainda, se o povo judeu, cuja história está cheia de sofrimentos e perseguições, poderia ficar indiferente às violações dos direitos humanos e ao sofrimento de um povo vizinho. Ele também se desentendeu com as autoridades israelenses por ter executado música de Wagner naquele país. Hoje em dia Barenboim se sente muito mais ligado à Argentina do que a Israel. Prova disto é que na primeira metade do próximo mês de agosto Barenboim regerá e atuará como pianista em 8 concertos frente à West-Eastern Divan orchestra em Buenos Aires. No programa obras de Wagner (autor que ele dirige de forma soberba), Mozart, Ravel e Ayal Adler. Entre os solistas Waltraud Mayer, René Pape e Martha Argerich.

Vídeos relacionados ao texto:

Barenboim fala num concerto da Divan Orchestra em Ramallah, na Cisjordânia, no mês de janeiro de 2008, que a orquestra não é uma mensageira da paz, mas na sua prática musical ela busca a ação de um ouvir o outro. Discurso notável.

Barenboim é humilhado no parlamento de Israel ao discursar em hebreu ao receber o prêmio Wolf em 2004. O discurso é fundado na constituição e nos princípios da fundação daquele país.

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