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Neojibá. Programa educacional baiano inspirado no modelo vezuelano: sucesso
Neojibá. Programa educacional baiano inspirado no modelo vezuelano: sucesso| Foto:
Neojibá. Programa educacional baiano inspirado no modelo vezuelano: sucesso

Neojibá. Programa educacional baiano inspirado no modelo vezuelano: sucesso

Quando escrevi o texto falando sobre a retrospectiva do ano de 2013 (clique aqui para ler o texto) meu amigo e excelente músico, o trompista Antônio J. Augusto (Orquestra Petrobrás Sinfônica, Universidade Federal do Rio de Janeiro) fez uma crítica ao meu texto no facebook, que classifico como extremamente pertinente. Reproduzirei partes deste excelente comentário crítico: “O texto pretende fazer uma retrospectiva da música clássica no Brasil, em 2013, para isso o autor analisa o que foi realizado pelas orquestras neste ano.
Oras, então somente as orquestras produzem música de concerto? E os grupos de câmara? E os corais, bandas e diversos outros agrupamentos?? Será que o que produzimos não é significativo para ser avaliado em uma retrospectiva sobre a música de concerto?”. Concordo plenamente com este comentário. Muita música de qualidade é feita fora das estruturas sinfônicas tradicionais, que via de regra são extremamente mal administradas. No comentário feito pelo professor Antônio há uma frase contundente que me chamou a atenção: “Não existe a possibilidade de se viver de música de câmara no Brasil”. Concluo minhas citações do professor Antônio com mais esta importante frase: “Fato ainda mais preocupante diante do desastre que são os modelos de gestão de 90% de nossas orquestras.
Para fazer uma real retrospectiva 2013 e oferecer uma reflexão segura para 2014, é necessário se ouvir, contabilizar e perceber um movimento que sobrevive e revoluciona em silêncio nossa prática musical: a música e câmara brasileira!”.
Esta “reflexão segura” é a intenção deste texto. Percebi o quanto há de limitado em meu texto, sobretudo ao ver heroicas formações camerísticas se estruturarem neste ano de 2013. Sim, algo que aprecio demais é este heroísmo, que levam excelentes instrumentistas a enfrentarem a previsível dificuldade de se levar a termo esta empreitada. Não pretendo ser exaustivo nesta minha análise, e vou me ater a três novos quartetos de cordas que estruturaram suas atividades neste ano que está terminando, um em São Paulo, e dois no Rio de Janeiro. Fiquei completamente surpreso ao ouvir o Quarteto Othello, formado por Djavan Caetano – 1° Violino, Leonardo Ottoni – 2° Violino, Wallas Pena – Viola e Marina Estanislau – Cello.

Quarteto de cordas Othello. Formação camerística de alto nível

Quarteto de cordas Othello. Formação camerística de alto nível

Formado apenas por músicos negros é uma prova clara da evolução dos instrumentistas de cordas em nosso país. Seu nível de afinação e seu senso de conjunto fazem deste grupo algo completamente impensável há algumas décadas: um quarteto deste (alto) nível completamente independente de qualquer instituição. O fato do quarteto ser formado apenas por músicos negros expõe uma faceta escamoteada do preconceito racial em nosso país. Num primeiro contato o quarteto é encarado com uma sutil desconfiança. Lamentável. Os dois outros quartetos que cito emergem do mais problemático meio musical do país: a cidade do Rio de Janeiro. Porque o “mais problemático”? A cidade maravilhosa permanece com o mais numeroso e qualitativo público para a música clássica em nosso país. As estruturas completamente incompetentes estão a ponto de destruir algo que há gerações foi construído: um público exigente, que sabe valorizar o que vê de bom à sua frente, e que sabe ser crítico quando as coisas não vão lá muito bem. Em relação a isso destaco o estrago que a atual gestão do Theatro Municipal daquela cidade tem feito nos últimos sete anos. É neste ambiente tão problemático que nascem dois grupos que nos enchem de esperança. O primeiro quarteto que cito é o Quarteto A Priori formado pelos músicos Marco Catto e Priscila Plata Rato – violinos, Karolin Broosch – viola e Pablo de Sá – violoncelo. Este excelente quarteto foi citado pelo jornal O Globo numa lista dos dez melhores concertos de música clássica do ano. Ouvir um quarteto de cordas brasileiro executando o Quarteto opus 18 Nº 4 de Beethoven num altíssimo nível é algo que nos enche mais uma vez de esperança. O outro quarteto carioca que mencionarei nos leva à questão da atitude heroica não só dos instrumentistas mas também dos compositores brasileiros de música clássica. Tive acesso a um excelente vídeo do também excelente Quarteto Belmonte formado por Márcio Sanchez e Ubiratã Rodrigues, violinos, Dhyan Toffolo, viola e Janaína Salles, violoncelo em que eles executam uma obra prima escrita para quarteto de cordas por uma compositora brasileira, Marisa Rezende (nascida em 1944). “Vórtice” é o nome da obra, que foi composta em 1997. Não somente os instrumentistas são altamente competentes, mas reputo esta composição como uma obra de primeiro nível, mais uma vez digo, uma obra prima. Quem conhece a obra de Marisa Rezende? Ao ouvir esta composição me lembrei da vergonhosa obra encomendada pela OSESP para sua tournée na Europa, uma brincadeira sem graça e sem criatividade sobre o Hino Nacional, enquanto uma compositora deste nível permanece desconhecida e desprestigiada. Espero que o Quarteto Belmonte explore este filão, obras de qualidade de compositores brasileiros.

PRIMA, projeto emocionante

PRIMA, projeto emocionante

A Educação musical. Esperança para 2014

Em meio à profícua discussão no facebook a respeito das colocações do professor Anônio Augusto apareceu um tema relacionado à educação musical. Fiquei sabendo das boas soluções das entidades ligadas à música em Barra Mansa e me deparei com notícias de Brasília. O Ministério da Cultura alardeou aos quatro ventos sua intenção de copiar o “Sistema” venezuelano para formação de instrumentistas com o viés de “inclusão social”. Confesso que não confio na ministra “relaxa e goza”, e sei que o partido ora no governo aprecia tudo o que vem da Venezuela. Talvez estivessem menos entusiasmados se soubessem que o “Sistema” venezuelano foi criado muitos anos antes do governo de Hugo Chávez. Lembro-me que há 25 anos fui convocado para diversas reuniões com o então ministro da cultura, o economista Celso Furtado. Uma semana em Brasília, com hotel, alimentação, passagens aéreas. Dezenas de reuniões, comissões, grupos e sub grupos para se discutir a situação das orquestras no Brasil. O resultado foi nulo. Mas vale a pena citar dois exemplos que fogem à alçada de Brasília e que estão oferecendo resultados impressionantes. Um é algo inspirado no “Sistema” venezuelano. Trata-se do “Neojibá”, que mantém uma orquestra jovem sediada em Salvador. Foi com base no modelo venezuelano que foi montada o Neojibá (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), um programa de ensino coletivo da música a jovens em situação de vulnerabilidade em Salvador. Um total de 2,5 mil alunos têm aulas regulares de música ao custo de R$ 4,5 milhões por ano. A orquestra já se apresentou na Europa e é a mais bem realizada “clonagem” brasileira do “Sistema” venezuelano. Outro projeto, que não pretende ser uma clonagem do “Sistema” é o PRIMA – Programa de Inclusão através da Música e das Artes. É um programa do Estado da Paraíba, que visa o ensino de cidadania através dos princípios de trabalho de uma orquestra sinfônica.

PRIMA está sendo distribuído em pólos de ensino em diversas cidades da Paraíba, atuando junto a Escolas Públicas. Como o governador do estado é do PSB, partido que atualmente não está na chamada “base aliada”, este excelente projeto caminha meio à parte do governo federal. Quem visitar o site do PRIMA (clique aqui) ficará impressionado com a qualidade e com a preocupação de inserção social nos mais inóspitos rincões daquele estado nordestino. 2014 seria um ano excelente se mais projetos como este existissem.

Vídeos relacionados ao texto:

O Quarteto Othello. Excelência nesta gravação de um quarteto de Mendelssohn

O Quarteto A Priori executa (muito bem) um quarteto de Beethoven

Quarteto Belmonte. Execução magistral de uma obra prima de Marisa Rezende

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