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Sons das Américas. Um CD duplo absolutamente indispensável
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Divulgação
Núcleo Hespérides – Sons das Américas

Em 2013 podemos ainda descobrir uma obra de primeira praticamente inédita de Villa-Lobos? Sim, e este é apenas um dos inúmeros méritos deste magnífico lançamento discográfico lançado pelo SESC SP. O SESC de São Paulo exerce uma importantíssima atividade cultural, e este lançamento fonográfico é mais uma prova da competência desta entidade. O lançamento em questão é um CD duplo com o título de “Núcleo Hespérides – Sons das Américas. Este “Núcleo Hespérides” é um conjunto formado por instrumentistas e cantores do mais alto nível, que se dedicam à divulgação de obras de compositores das Três Américas. Em torno da pianista Rosana Civile este grupo se apresenta com frequência, tendo já anteriormente gravado alguns Cds, sendo que este novo CD duplo é sem dúvida seu lançamento mais importante. São 24 obras de também 24 compositores, muitos deles inéditos entre nós. Além de diversos autores brasileiros, entre eles os “monstros sagrados” Villa-Lobos e Camargo Guarnieri, temos obras de compositores do Equador (Gerardo Guevara), Uruguai (Luiz Cluzeau Mortet), Venezuela (Modesta Bor), Argentina (Alberto Ginastera e Carlos Gustavino), Cuba (Leo Brower), México (Silvestre Revueltas e Manuel Ponce), Canadá (John Beckwith) e Estados Unidos (Charles Ives e Samuel Barber). As formações instrumentais são absolutamente originais, e o material apresentado é na sua maior parte extremamente interessante. Entre os brasileiros, além dos já citados, temos obras de Claudio Santoro, Aylton Escobar, Almeida Prado, Flo Menezes, Willy Corrêa de Oliveira, Silvio Ferraz, Paulo Porto Alegre, Achille Picchi, Antonio Ribeiro e Gilberto Mendes.

É muito difícil falar neste espaço de cada uma das 24 obras, mas, mesmo correndo o risco de ser injusto vou tratar das coisas para mim mais relevantes destes CDs. Inicialmente a obra de Villa-Lobos completamente desconhecida (inclusive para este que vos escreve): a Suíte para Canto e violino de 1923. É uma obra do período mais experimental do compositor (década de 20) e é uma das poucas partituras de Villa-Lobos com texto de Mário de Andrade (a obra foi escrita no ano seguinte à Semana de Arte Moderna). A originalidade de se colocar apenas um soprano e um violino já seria por si só algo digno de nota. Mas, além disso, a qualidade da música põe esta obra entre as composições mais especiais desta época do autor, como o Noneto e os Choros de Câmera. Eliane Tokeshi ao violino e o soprano Adélia Issa, esta, uma de nossas melhores cantoras lírica, pouco lembrada, vencem o desafio de executar esta obra praticamente inédita e extremamente complexa com extremo brilho.

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Instrumentistas e cantores do grupo Hespérides. Altíssimo nível !

Em termos musicais cada execução destes dois Cds são uma festa para os ouvidos, mas destacaria uma obra que é particularmente executada de forma ímpar. Trata-se do Triptico para dois violões do cubano Leo Brower. A execução de Paulo Porto Alegre e Edelton Gloeden é de um nível violoníistico que raramente se encontra em qualquer lugar do mundo. Meus sinceros parabéns. E por falar em violão estes cds apresentam diversas obras em que o violão aparece como um autêntico instrumento camerístico. É o caso do Allegro para violão e trio de cordas do mexicano Manuel Ponce. Partitura madura e extremamente bem construída tem também aqui uma execução brilhante .Seus intérpretes , Paulo Porto Alegre – violão , Eliane Tokeshi– Violino, Ricardo Kubala–viola e Ji Yon Shim – violoncelo, estão também de parabéns. Aliás esta violoncelista ( de origem coreana) executa lindamente a Pampeana Nº 2 de Ginastera (acompanhada por Rosana Civile). Algumas incontáveis descobertas, que incluem uma canção de Samuel Barber com texto de James Joyce (também lindamente cantada por Adélia Issa), são muito reveladoras. Mas destaco algo realmente inesperado: Cinco Postais para flauta, viola e violão do compositor equatoriano Gerardo Guevara. Miniaturas belíssimas que lembram a obra de Anton Webern(1883-1945), mas numa vertente mais latina. Na gravação destaque para o belo som do flautista Rogério Wolf.

Mesmo sendo injusto da minha parte digo mais uma vez que não há espaço aqui para falar de cada maravilha destes Cds, e mesmo estes discos serem na sua totalidade um primor em termos de captação de som e de execução musical tenho algumas ressalvas a fazer. Antes de tudo creio que o encarte, que tem quase 40 páginas, deveria incluir os textos das canções apresentadas. Os textos, cantados por vozes líricas, tornam-se muitas vezes ininteligíveis, e na sua maioria são de um conteúdo literário de altíssimo nível. Uma pena não poder lê-los para melhor degustar tão boa escolha dos compositores e dos produtores. Em segundo lugar sinto ter havido uma predileção exagerada por compositores paulistas, sobretudo ligados ao Departamento de música da USP. Num panorama tão amplo apresentado nestes cds por que não colocar obras, por exemplo, do carioca Ricardo Tacuchian ou do Curitibano ( de adoção) Harry Crowl? Creio que o panorama dos “Sons da Américas” estaria mais completo. Outra coisa a comentar é a escolha de obras pouco representativas de certos compositores como Charles Ives e Gilberto Mendes (duas obras de juventude) e mesmo de Almeida Prado. Lembro mais uma vez que estas ressalvas não ofuscam o brilho do lançamento.

Recomendo estes Cds para todos aqueles que apreciam a produção artística das três Américas, e aviso que eles são vendidos exclusivamente nas lojas do SESC, sendo que é possível fazer a compra via internet. Até o dia 31 de janeiro os dois Cds saem por R$24, o que é barato demais. Depois do dia 31 o lançamento passa a custar R$ 30. Aqui vai o link para a compra: http://www.lojasescsp.org.br/index.cfm?area_loja=6&produto=344

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