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O maestro Robert Craft e o compositor Igor Stravinsky em 1970
O maestro Robert Craft e o compositor Igor Stravinsky em 1970| Foto:

 

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O maestro Robert Craft e o compositor Igor Stravinsky em 1970

O maestro norte americano Robert Craft (nascido em 1923) é uma das maiores autoridades no mundo a respeito do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), simplesmente pelo fato de ter convivido com ele e com sua esposa, Vera Stravinsky, quase que diáriamente, durante os últimos 23 anos da vida do compositor. Craft, que era também amigo do compositor austríaco Arnold Schoenberg (falecido em Los Angeles em 1951), influenciou o compositor russo para que escrevesse música seguindo as normas seriais da segunda escola de Viena a partir de 1952. Maestro altamente competente foi o ensaiador da maioria das gravações regidas por Stravinsky, que simplesmente seguia de forma absoluta o que seu assistente tinha preparado. É muito interessante vermos um relato do pianista americano Charles Rosen, dizendo que gravou os Movimentos para piano e orquestra do compositor russo (uma de suas obras dodecafônicas mais complicadas) sob a regência do próprio Stravinsky, e que o autor era completamente inseguro na regência e que seguia os gestos de Craft que estava atrás do compositor para conseguir tocar junto com a orquestra, que ignorava os gestos do autor. Mesmo quando Stravinsky esteve no Rio de Janeiro no início dos anos 60, o concerto que ele regeu foi dividido entre ele e Robert Craft. O maestro americano escreveu diversos livros em que reproduziu diálogos com o compositor, e lembro que em português existe uma excelente tradução de Crônica de uma amizade, lançado no Brasil pela DIFEL há 10  anos. Livro delicioso de ser lido sobretudo quando narra a visita do compositor ao Brasil, com direito a sessões de macumba e indisciplina dos músicos, e a comovente e precisa narrativa da viagem de Stravinsky à Rússia em 1962, depois de décadas afastado de seu país natal.

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O compositor Maurice Delage na época do suposto relacionamento com Stravinsky

Robert Craft acaba de lançar mais um livro, Discoveries and memories (Naxos Books), e revela nele algo totalmente desconhecido: os relacionamentos homossexuais do compositor, exatamente na época em que trabalhava junto aos Ballets Russos de Sergei de Diaghlev. Na semana passada saíram dois artigos discutindo estes fatos relatados por Robert Craft, um no New York Times (clicando aqui você poderá  ler o artigo) , assinado pelo musicólogo Zachary Woolfe, e outro no Los Angeles Times (clicando aqui você poderá também ler o artigo), assinado pelo crítico de música Rick Schultz. As revelações basicamente se referem a uma relação estável de Stravinsky com o compositor francês Maurice Delage (1879-1961). Craft conseguiu algumas cartas inéditas que acabam revelando outra coisa: Stravinsky teve algum contato íntimo com o grande compositor  Maurice Ravel, que foi, aliás, quem apresentou Delage a Stravinsky. Robert Craft vai mais longe, levantando alguns detalhes inéditos da criação de “A sagração da primavera” e levanta dúvidas sobre alguns relacionamentos íntimos que o compositor teve com o bailarino e coreógrafo Vaslav Nijinsky e com o próprio empresário russo Sergei de Diaghlev. Isto talvez explique a radical mudança de opinião de Stravinsky a respeito da coreografia que Nijinsky fez de seu Ballet, que no início era altamente elogiada e posteriormente foi denegrida. Quando a coreografia de Nijinsky foi reconstruída há 25 anos percebemos que a mesma é absolutamente maravilhosa, e que a crítica do compositor é totalmente injustificada.

O homossexualismo foi (e ainda é em muitos lugares) um tema tabu, mas não há dúvida de que Ravel, Delage, Nijinsky, Diaghlev e os cenógrafos Nicolas Benois e Leo Bakst (cenógrafos das estréias de O Passaro de Fogo e Petruschka) eram homossexuais. Existe documentação abundante a este respeito, e sabemos que os Ballets Russos era um foco de fofocas e promiscuidade. As evidências mostradas por Craft não são, portanto, impossíveis de serem reais. Vale a pena lembrar que Stravinsky na época da composição de “A sagração da primavera” escreveu uma de suas obras mais ousadas, as “Três Líricas japonesas”, altamente influenciada pelo Pierrot Lunaire de Schoenberg. A obra sintomaticamente é dedicada a Maurice Delage e a Maurice Ravel. Stravinsky se refugiou em Clarens, na Suíça, para terminar a composição de seu ballet. Sua companhia em todo o período foi Maurice Delage, e recebeu duas visitas de Maurice Ravel. A esposa e os filhos do compositor russo permaneceram em outra cidade. Perguntado por Zachary Woolfe (o autor do artigo do New York Times) sobre por que só agora ele fez estas revelações, Robert Craft respondeu: “A hora chegou. O mundo mudou bastante”.

 

Uma obra de Maurice Delage, em que se percebem nítidas influências de Stravinsky

 

 

A coreografia de Nijinsky de “A Sagração da primavera”. 

 

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