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Foto: Daniel Garcia/AFP
Foto: Daniel Garcia/AFP| Foto:

Os antigos gregos davam tanta importância aos seus Jogos Olímpicos que costumavam ajustar o calendário contando os intervalos entre eles. Bem, muitos caminhões de areia passaram na ampulheta desde que Sócrates, Aristóteles, Péricles e companhia gastavam lábia na ágora. Mas tem coisa que não muda, não. O gosto pelas competições é uma delas. Afinal, são um resumo da existência. Tá tudo lá: luta, suor, vitórias, derrotas, alegrias, tristezas, heróis, vilões. Nós, brasileiros, não ficamos pra trás. As Copas são uma referência do nosso tempo.

E, como é tempo de Copa e não se fala de mais nada, eu é que não vou fazer gol contra. Taí: vou gastar meu verbo falando do Mundial. Não deste, da Rússia. É muito cedo para dizer algo sobre 2018. Vou tratar das Copas da minha vida. Ou daquilo que, espremendo bem, aprendi vendo a bola correr e torcendo pela seleção canarinho. Coisa bem pessoal, já vou avisando.

Da frente pra trás, vamos lá.

As Copas de 2014 e 2006 foram bem parecidas. Explico: o Brasil havia chegado aos dois Mundiais como campeão da Copa das Confederações do ano anterior. E jogando bem. Além disso, os técnicos dos dois times – Felipão e Parreira – já haviam ganhado o caneco em outras Copas. Mas deu ruim. Moral da história: não é porque algo deu certo no passado que vai continuar dando certo. A vida é bem mais imprevisível do que gostaríamos que fosse.

A Copa do meio entre essas duas, 2010, foi a cara do Dunga, nosso treinador. Carrancuda. Ele fechou a seleção. Brigou com meio mundo, inclusive a imprensa. Criou um clima de guerra. De nós contra eles. A melancólica expulsão de Felipe Melo na partida contra a Holanda foi o retrato de um time que queria brigar. Sim, somos influenciados pelo ambiente que nos cerca. Ele pode nos levar a dar botinadas na vida. Então é bom zelar por aquilo que nos cerca. E se afastar quando há algo de ruim no ar.

O Mundial de 2002 foi sonolento. Não que os jogos tenham sido exatamente ruins. Da maioria eu não vi nem um minutinho que seja. É que as partidas foram de madrugada ou bem cedinho de manhã. Lembram? Culpa do fuso do Japão e da Coreia. Ruim de doer. De pijama, acabei assistindo apenas às partidas do Brasil. Pois é! Até o sacrossanto sono do inverno pode ser interrompido pra ver 11 marmanjos correndo atrás da pelota. O segredo dessa mágica: motivação. Ela é o que nos move. Se a encontrarmos, que seja nas menores coisas, tá tudo feito.

Ah! Antes que eu me esqueça: em 2002 teve o inesquecível (risos) cabelo-cascão do Ronaldo. Não tentem fazer isso em casa (gente, ter humor é essencial na vida).

Arte: Felipe Lima

Voltando quatro anos no tempo. Em 1998 não teve pro chilique do Ronaldo. Pro apagão do Brasil na final. Nem pra teoria da conspiração de que a seleção entregou o jogo pra França (por que as pessoas adoram acreditar nas coisas mais improváveis?). O mais importante do Mundial foi o 2 a 1 do Brasil na Escócia. Hã?!? Calma lá! Eu explico: no dia daquele jogo, fui oficialmente contratado como jornalista, com carteira assinada. Confiaram em mim e no meu trabalho. É muito bom sentir isso. Não tem preço. Aquela partida é a marca disso.

1990 não deixou grandes lembranças. Mais ou menos como o futebol de nossa seleção naquele Mundial. Digamos que foi um intervalo modorrento entre aquilo que realmente importa. As Copas que mais me marcaram: 82 e 94 (com um parêntese para 86). Esses Mundiais formam um bloco só de significado pessoal. Porque um complementa o outro.

Vencemos a Copa dos EUA. Foi a primeira que comemorei. Mas o prazer, o êxtase da conquista, é fugaz. Sempre. Dura o tempo de um piscar de olhos. E o que fica depois? Em 94, foi a sensação de que faltou algo: beleza. A seleção de Romário e Bebeto era incrivelmente pragmática. Teve momentos de brilho. Mas esteve longe de encantar. Como a de 82, a primeira Copa de minha vida (pronto: entreguei minha idade!).

OK. Caímos na Espanha para um inspirado (e maldito!) Paolo Rossi. Chorei aquela derrota para a Azzurra. E não foram só as lágrimas. Elas secam. A tragédia do Sarriá marcou minha infância. Foi um duro choque de realidade: perder é parte inevitável da vida.

E o que dizer para um guri de 7 anos que ele terá esperar outros quatro – mais da metade de sua existência – para ver o país levantar a taça? Esperar é definitivamente uma merda. Mas fazer o quê? Que venha 86. O problema é que a “promessa” não se cumpriu no México. E isso reforçou na minha cabecinha a típica pergunta dos imaturos e ansiosos: “Por quê? Será que nunca vai dar certo?”

O curioso é que, quando finalmente “deu certo”, faltou algo que havia lá em 82: arte. Vencer, afinal, não é tudo o que importa. E a gente nem sempre valoriza a graça e a beleza quando elas passam à nossa frente.

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