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Alberto Fernández
Só petista olha para Fernández e diz: “Como é bom ter um presidente!”| Foto: reprodução/X Alberto Fernández Prensa

Nossos vizinhos argentinos realizarão neste domingo a eleição mais apertada de sua História pós-ditadura militar de 1976. De um lado, Sergio Massa, atual ministro de Economia, candidato da aliança Unión por la Patria, representando a ala moderada do peronismo. Do outro, Javier Milei, também economista, deputado federal, pela coalizão La Libertad Avanza, com suas bandeiras anti-establishment. E uma reveladora pesquisa pode ajudar a entender o eleitor argentino neste final de semana.

No primeiro turno, Massa teve 36,7% dos votos, quase dez milhões de eleitores. Milei ficou em segundo, com oito milhões de votos, 29,9% do total válido. Em terceiro ficou Patricia Bullrich, liberal, com 23,8% dos votos, em quarto ficou Juan Schiaretti, peronista anti-Kirschner, com 6,7% dos votos e, finalmente, em quinto, Myriam Bregman, da esquerda radical, com 2,7% dos votos. Os dois primeiros foram ao segundo turno, que será decidido neste dia dezenove de novembro.

Thatcher na Argentina

O voto no Legislativo já foi analisado aqui em nosso espaço, quando a direita de Milei engoliu a direita de Macri e de Bullrich. O segundo turno foi marcado por um único debate, disputado no último domingo, no imponente prédio da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, a principal do país. O debate durou duas horas e foi marcado, como a maioria dos debates, pelas polêmicas e factoides entre os dois candidatos. Uma que teve grande repercussão foi a admiração de Milei por Margaret Thatcher.

Muitos liberais econômicos, a maioria deles, talvez, nutre alguma simpatia por Thatcher, desde em doses moderadas até a franca admiração. Na Argentina, entretanto, isso não pega tão bem, já que era ela a chefe de governo britânica durante a Guerra das Malvinas. Foi decisão dela a de afundar o cruzador General Belgrado, pelo submarino de propulsão nuclear HMS Conqueror. O navio argentino estava fora da zona de combates e, por isso, o afundamento foi uma decisão executiva.

O afundamento causou 323 mortes, metade das baixas fatais argentinas de toda a guerra e o mais mortal afundamento pós-Segunda Guerra Mundial. Trata-se de assunto delicado na Argentina e, por isso, a admiração franca de Thatcher não é assunto simples como pode ser aqui no Brasil. Polêmicas de lado, houve a impressão de que Massa teria sido o “vencedor” do debate, mas, na prática, Milei que provavelmente conquistou mais em seu tempo de televisão, mostrando uma postura “moderada”.

Pautas de “costumes”

No primeiro turno, a pesquisa que chegou mais perto de retratar o resultado do pleito foi a produzida pela Atlas Intel. Na véspera deste segundo turno, houve nova pesquisa, mais completa, reveladora e interessante. Foram 8.971 pessoas consultadas entre cinco e nove de novembro. 52% eram mulheres, 48% eram homens, dentre outros detalhes demográficos. Indo ao resultado principal da pesquisa, 48,6% afirmou que votará em Milei, 44,6% que votarão em Massa, 2,3% ainda não sabia e 4,4% com brancos ou nulos.

Além da prévia de resultado, 77,2% dos perguntados afirmaram que desaprovam a gestão Alberto Fernández, que entrará para a História como o primeiro presidente argentino pós-redemocratização que abriu mão da tentativa de reeleição. 10,7% afirmaram aprovar e 12,2% não souberam responder. O mais revelador da pesquisa, entretanto, é a sua abordagem em temas sociais e econômicos. O cidadão argentino votará, em sua maior parte, motivado por pautas econômicas.

Isso contrasta com o Brasil, onde, nos últimos anos, as pautas morais, ou “de costumes”, ganharam cada vez mais força. Nessa seara, por exemplo, 66% das pessoas consultadas afirmaram ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, com 19% contra e 15% não sabendo. 45% respondeu ser favorável à legalização do aborto de gestação, com 42% contra e 13% não sabendo. 41% respondeu favoravelmente à legalização do uso recreativo de cannabis, com 40% contra e 19% sem saber.

Apenas 20% defenderam a flexibilização da compra de armas de fogo, com 68% contra. Ao serem questionados sobre os problemas mais importantes, 78,3% respondeu os preços altos e a inflação, 45,7% respondeu a corrupção e 36,2% respondeu segurança pública. A situação econômica em geral ficou em quarto e, em quinto, o desemprego. Ou seja, o eleitor argentino está majoritariamente preocupado com a inflação, com corrupção e com pautas econômicas do que com as ditas pautas morais, que não figuram nesse ranking.

Adeus, Fernández

A pesquisa também consultou os eleitores sobre qual seria o melhor candidato em nove temas diferentes. Milei venceu em sete deles: reduzir a corrupção, combater a insegurança e a violência, combater a inflação e os preços elevados, desenvolver a economia e gerar empregos, desenvolver as relações internacionais, melhorar a educação e a saúde e reduzir a pobreza. Massa venceu em defender as instituições democráticas e em defender os Direitos Humanos.

Ao mesmo tempo, curiosamente, esse mesmo eleitor que se inclina a Milei mostra que não defende totalmente as bandeiras do candidato. Por exemplo, ao serem perguntados se todas as empresas públicas deveriam ser privatizadas, 42% respondeu com “discordo totalmente” e apenas 22% respondeu com “concordo totalmente”. 51% se disse contra a dolarização da economia, com 35% a favor, em outra bandeira do candidato. Ainda nesse tema, quase 59% disse não saber ou duvidar que ele implementará a medida.

Milei foi a segunda figura política melhor avaliada da pesquisa, com 42% de avaliação positiva. Juan Schiaretti ficou em primeiro, aprovado por 53% dos eleitores, com rejeição de 21% deles, o restante não sabendo. Massa é o terceiro, com 38% de aprovação. A maior rejeição é de Alberto Fernández, avaliado negativamente por 76% deles. Ou seja, independente de quem ganhe neste domingo, seja Massa, seja Milei, parte do eleitorado ficará aliviado de, ao menos, se livrarem do atual mandatário.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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