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Javier Milei e Sergio Massa vão disputar o 2º turno na Argentina.
Javier Milei e Sergio Massa vão disputar o 2º turno na Argentina.| Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE e Enrique García Medina/EFE

No último dia 22 de outubro de 2023, os eleitores argentinos foram às urnas para eleger seu novo presidente e parte do Congresso Nacional. Também ocorreram quatro eleições regionais, sendo duas delas importantes. Como a maioria dos nossos leitores sabe, as eleições presidenciais irão ao segundo turno. Mas vamos olhar outros resultados também, além do, talvez, aspecto mais infeliz desse pleito.

Antes de qualquer comentário sobre as eleições, é importante frisar que o maior derrotado do pleito é o atual presidente Alberto Fernández. Em 2019, sua chapa peronista de esquerda Frente de Todos, com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, foi eleita no primeiro turno. O voto foi visto como um desagravo às políticas econômicas do então presidente Mauricio Macri, especialmente o acordo com o FMI.

Na ocasião, Macri, candidato da direita liberal Juntos por el Cambio, se tornou o primeiro presidente em exercício na história da Argentina a ser derrotado na reeleição. Em 2023, Fernández conseguiu algo ainda pior. O presidente sequer disputou a eleição, sabendo que, hoje, não seria eleito nem para síndico do condomínio e tampouco teria o apoio de Kirchner, com quem rompeu durante o mandato.

Corrida presidencial

O candidato do peronismo foi Sergio Massa, que já havia sido candidato em 2015, pelo seu partido Unidos por una Nueva Alternativa. Massa não é um peronista kirchnerista; é dos setores de centro e centro-direita dentro do peronismo, um fenômeno próprio e multifacetado argentino. Ele também é o ministro da Economia, com uma inflação galopante de 150%, algo não muito sedutor para o eleitorado.

Contra o candidato governista disputaram Patricia Bullrich, da direita liberal Juntos por el Cambio, Javier Milei, candidato de direita populista que se intitula “libertário”, da coalizão La Libertad Avanza, Juan Schiaretti, do Peronismo anti-Kirchner e Myriam Bregman, de esquerda radical do Partido dos Trabalhadores Socialistas. No dia 13 de agosto, foram realizadas as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias, PASO.

Nessa excentricidade argentina, a principal notícia foi o início da euforia de parte do eleitorado em torno de Javier Milei, que venceu as primárias com 30% dos votos. A ocasião também consagrou Massa e Bullrich como candidatos. Naquele momento, todas as apostas estavam em Bullrich, mas, depois de agressiva campanha de Milei, Bullrich e o Macrismo perderam bastante força.

Massa terminou o primeiro turno com 36,6% dos votos, com Milei em segundo, com 29,9%. Os dois candidatos disputarão o segundo turno. Algum leitor pode estranhar Milei ter ficado proporcionalmente com menos votos do que nas primárias. Além do voto naquela ocasião não valer absolutamente nada (facilitando votos de protesto), quando se olha para os números absolutos, os números de Milei cresceram.

Bullrich ficou com 23,8% dos votos, Schiaretti com 6,7% e Bregman com 2,7%. O segundo turno ocorre em menos de um mês, no dia 19 de novembro. Muito provavelmente, os votos de Bregman e de Schiaretti irão para Massa, nem que seja como um voto “anti-Milei”. Restam duas grandes incógnitas. A primeira é qual o tamanho da fatia do eleitorado de Bullrich que cada candidato vai abocanhar no segundo turno.

A segunda é como o debate político argentino vai se comportar. Milei vai bater no desempenho econômico do ministro Massa, enquanto o presidenciável Massa vai bater na tecla de que Milei é um aventureiro e uma incógnita. Haverá a mesma “polarização” que ocorreu no Brasil, usando o batido termo da moda? Ou eleitores estarão dispostos a mudar de campo no frigir dos ovos?

Legislativo e Buenos Aires

Nas eleições legislativas, a direita de Milei simplesmente engoliu a direita de Macri. Estavam em jogo 130 das 257 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 dos 72 assentos no Senado. No Senado, 12 cadeiras foram a chapa governista, oito para o La Libertad Avanza, duas para o Juntos por el Cambio e duas para candidatos independentes. Os governistas cresceram em duas cadeiras, que vieram dos peronistas anti-Kirchner.

Já a chapa de Milei realiza sua estreia no Senado, conquistando suas cadeiras à custa dos Macristas. Já na Câmara, os governistas ficaram com 58 assentos, perdendo dez, enquanto o Juntos por el Cambio ficou com 31, perdendo alarmantes 25 cadeiras. Enquanto isso, o La Libertad Avanza elegeu 36 integrantes. Ou seja, mesmo que Milei não seja eleito presidente, seu partido será uma força política razoável no Congresso.

Também foram realizadas quatro eleições regionais, para as províncias de Buenos Aires, de Catamarca e de Entre Ríos, além da Cidade Autônoma de Buenos Aires, a CABA. As duas eleições de Buenos Aires, da província e da CABA, são consideradas das mais importantes do país. A província é a maior da federação argentina, cobrindo cerca de 11% da área total do país.

Principalmente, é onde vivem 17,5 milhões de pessoas, algo como 38% da população de todo o país. O atual governador Axel Kicillof venceu no primeiro turno, com 44,8% dos votos. Como o segundo colocado, Néstor Grindetti, ficou com 26,6% dos votos, a diferença de mais de dez pontos percentuais significa uma vitória no primeiro turno pelas regras argentinas. Kicillof é um economista aliado de Kirchner e possível “futuro” do Kirchnerismo.

Já na CABA, algo como o “distrito federal” da Argentina, Jorge Macri ficou em primeiro. Por apenas seis mil votos, o primo do ex-presidente não venceu no primeiro turno. Com 49,6% dos votos, ele disputará o segundo turno contra o peronista Leandro Santoro. A própria existência de um segundo turno é uma notícia ruim para os macristas, já que a CABA foi onde o grupo teve expressiva vitória em 2019.

Finalmente, o aspecto infeliz do pleito foi o comparecimento de 77,6% do eleitorado. Embora seja um comparecimento razoável e até alto para muitos países, trata-se do menor comparecimento eleitoral argentino da redemocratização do país. Talvez efeito da crise econômica, talvez cansaço perante as opções políticas, talvez um pouco de ambos, mas uma notícia ruim para um país tido como bastante politizado.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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