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A chanceler alemã Angela Merkel aparece antes de um comício da União Democrata-Cristã (CDU) e da União Social-Cristã (CSU) em Berlim, Alemanha, 21 de agosto.  O país elegerá um novo parlamento em 26 de setembro
A chanceler alemã Angela Merkel aparece antes de um comício da União Democrata-Cristã (CDU) e da União Social-Cristã (CSU) em Berlim, Alemanha, 21 de agosto. O país elegerá um novo parlamento em 26 de setembro| Foto: EFE/EPA/CLEMENS BILAN / POOL

No dia 26 de setembro os alemães irão às urnas eleger o novo parlamento federal e, consequentemente, a pessoa que ocupará o cargo de primeiro-ministro. Pela primeira vez desde 2005, essa pessoa não será Angela Merkel. A líder do União Democrática Cristã, o tradicional partido conservador alemão, vai se aposentar da vida partidária. Isso cria um vácuo referencial que pode ser explorado especialmente pelo Partido Verde.

Não é fácil substituir alguém que está tanto tempo numa posição importante. Merkel, como qualquer governante, teve erros e acertos. Os acertos, em muito, eclipsaram os erros, opinião corroborada pelo eleitorado alemão, que lhe confiou com quatro mandatos como líder de governo. Ainda assim, mesmo para os seus críticos, Merkel era uma figura já conhecida, se sabia quais as posições dela, na maioria das ocasiões.

Agora a Alemanha terá que abraçar uma novidade. Mesmo os candidatos com carreira pública extensa e funções de destaque, nenhum deles já foi primeiro-ministro. Em um momento como esse, parte do eleitorado vai preferir a aposta mais segura possível, nomes estabelecidos dos grandes partidos. Outra parte, entretanto, pode abraçar a ideia de que é um momento propício para renovação.

Ao contrário de sistemas presidencialistas, entretanto, o parlamentarismo dificulta que o eleitorado abrace um total aventureiro ou outsider. É muito difícil que um regime parlamentarista produza um Macron, um Trump ou um Pedro Castillo. A renovação acaba sendo muito mais de nomes dentro dos partidos ou, ainda, via o crescimento de novos partidos, antes com pouco ou nenhum espaço na política em escala nacional.

Foi o caso do Lega Nord italiano, antes um partido regional que, em um momento de fraqueza dos partidos maiores, ganhou representatividade nacional. Nesse caso, o potencial maior beneficiado nas eleições alemãs é o Partido Verde. Não é a primeira vez que a coluna trata da forte ascensão dos verdes europeus nos últimos anos, nem no cenário específico alemão, com as duas eleições estaduais realizadas em março de 2021.

Números

Serão eleitas no mínimo 598 cadeiras para o parlamento alemão, com cadeiras adicionais possíveis para manter a proporcionalidade do voto na legenda nacional. Atualmente, o Bundestag conta com 709 cadeiras. Isso garante uma representatividade muito mais fiel ao eleitorado e à proporção da população, um cenário muito distante da distorcida Câmara dos Deputados brasileira.

No parlamento atual, a maior bancada é a da União cristã, entre a protestante CDU de Merkel e a católica União Social-Cristã bávara, com 245 cadeiras. Em segundo, os social-democratas (SPD), com 152, depois a direita nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), com 88, depois os liberais (FDP), depois a Esquerda e, finalmente, com 67 cadeiras, os Verdes. A menor bancada partidária, maior apenas que os independentes.

As pesquisas eleitorais colocam os Verdes como terceiro mais votado no pleito do mês que vem, e potencial segundo. Meses atrás, a diferença era tão apertada que permitia aos Verdes flertar com o primeiro posto. Esses votos possuem duas origens principais. Uma delas é a de eleitores do Esquerda e do SPD que estejam descontentes, queiram um voto mais pragmático ou querem priorizar questões ambientais.

A segunda origem é justamente de eleitores da CDU. Pensar que são “conservadores que viraram verdes” seria superficial. São, na verdade, as pessoas citadas anteriormente. Os que acham que é hora para uma renovação, para uma chance ao partido que tem crescido e mostrado serviço paulatinamente. Pessoas que não necessariamente confiam em Armin Laschet como líder da CDU, ou acham que ele será “mais do mesmo”.

Coalizões

Além de estarem bem colocados nas pesquisas eleitorais, os verdes também estão sempre no topo das pesquisas de preferência de coalizão. É virtualmente impossível que um partido governe sem a necessidade de articular uma coalizão com outros partidos, para obter a maioria parlamentar. Como em qualquer país, os partidos alemães são associados com cores, cada um tendo a sua.

Por isso, na Alemanha existe também o curioso hábito de batizar as coalizões possíveis fazendo associações cromáticas. Salvo a “Grande Coalizão”, entre CDU e SPD, temos a “Coalizão Quênia”, com o preto CDU, o vermelho SPD e os verdes, ou a “Coalizão Jamaica”, preta, verde e o amarelo do FDP. Uma coalizão entre o vermelho SPD, os verdes e o amarelo FDP é a “coalizão sinal de trânsito”.

As pesquisas, entretanto, podem ser afetadas por algum imprevisto que aconteça até lá. Por exemplo, uma eventual crise de refugiados afegãos deve beneficiar o AfD, cuja plataforma anti-imigração é talvez sua principal marca. Uma eventual nova onda do coronavírus, ou algum impacto econômico, pode cobrar um preço dos partidos atualmente no governo, como a CDU ou o SPD.

Curiosamente, tais eventuais problemas não devem afetar tanto os Verdes. A vasta opinião favorável à presença dos Verdes em uma coalizão, entretanto, mais a potencial expressiva votação do partido, significa que é certeiro apontar que a eleição do mês que vem significará ou uma coalizão entre CDU e Verdes, ou uma coalizão Jamaica. A dúvida, apenas, é de quão verde será o novo governo.

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