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O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, candidato à reeleição, em coletiva de imprensa em Tóquio, 25 de dezembro
O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, candidato à reeleição, em coletiva de imprensa em Tóquio, 25 de dezembro| Foto: Nicolas Datiche / POOL / AFP

Chega o período em que o ano que está terminando é encaixotado e começam os planos para o período que começará. Colabora o fato de que o ano que está terminando não deixará saudades em ninguém. Pela terceira vez (o tempo passa rápido!), aqui no nosso espaço de política internacional, vamos fazer um balanço dos principais tópicos que nos aguardam no ano que se aproxima. Essa seleção de temas, além de informar o leitor, também contribui para antecipar o estudo e aprofundamento em relação aos temas que mais despertem o interesse de cada um. Continuamos esse balanço, agora abordando as principais eleições asiáticas e africanas de 2021.

Palestina

Caso tudo corra bem, a Palestina realizará eleições gerais em março, sua primeira eleição presidencial desde 2005. Mahmoud Abbas, então eleito com mais de 60% dos votos, ocupa o cargo desde então. Quando seu mandato se encerrou, em 2009, o Fatah, que ele representa como sucessor de Yasser Arafat, e o Hamas, grupo islamista formado em 1987, estavam rompidos. O Fatah controla a Cisjordânia e o Hamas controla a Faixa de Gaza. A falta de acordo entre os dois principais grupos políticos palestinos impedia a realização de uma eleição ampla e legítima, ocorrendo apenas pleitos para as administrações locais.

Os ganhos israelenses em 2020, entretanto, acabaram aproximando novamente os dois grupos palestinos, sabedores da necessidade de união perante os reveses que sofreram no reconhecimento internacional. A reconciliação já era desenhada desde 2014 e foi concluída em um acordo assinado em 24 de setembro, anunciado com uma conferência de imprensa conjunta do Fatah e do Hamas. Abbas, aos 85 anos de idade, irá se aposentar. Seu potencial sucessor, Saeb Erekat, que fez parte das negociações com Israel, faleceu mês passado, de Covid-19. Com isso, tudo está ainda incerto e em aberto.

No lado do Hamas, o potencial candidato será Ismail Haniyeh, ex-chefe de ministros e articulador do acordo de união assinado em setembro. Pensando na representatividade internacional palestina, entretanto, o ideal seria um governo de coalizão sob a presidência de uma liderança do Fatah. Alguns países classificam a ala armada do Hamas, as Brigadas  al-Qassam, como um grupo terrorista. Outros, entretanto, classificam todo o Hamas, sem distinção entre a ala armada e a ala política. Um presidente originado do Hamas enfrentaria sérias resistências internacionais, embora seja o desejo da Turquia, que certamente projetará seus interesses nos temas internos palestinos.

Etiópia

Em junho será a vez da Etiópia ir às urnas. O atual primeiro-ministro, o Nobel da Paz Abiy Ahmed, é candidato à reeleição. E favoritíssimo. Mais do que isso, é importante prestar atenção na manutenção da democracia etíope, já que Ahmed criou sob seu comando uma grande amálgama partidária, o Partido da Prosperidade. Resultado da fusão de dez partidos, detém todas as cadeiras do parlamento.

Na oposição, os separatistas tigrais foram derrotados na recente ofensiva militar do governo. Sobram alguns movimentos isolados de oposicionistas e os partidos regionais oromo. Tais grupos não devem conseguir muita força eleitoral, já que o próprio premiê é da etnia oromo. O risco de concentração de poder na pessoa de Abiy Ahmed é um problema real.

Hong Kong

No dia cinco de setembro serão eleitos 70 parlamentares para o legislativo de Hong Kong. Os resultados das eleições não terão grandes novidades, com os partidos pró-Pequim certamente vencedores da maioria. Mês passado, legisladores de oposição renunciaram em massa, protestando contra a desqualificação da candidatura de quatro parlamentares. Ainda assim, duas questões serão respondidas pelo pleito.

A primeira é a da parcela do comparecimento eleitoral e de votos inválidos, talvez a melhor métrica para avaliar protestos e descontentamento da população. Um baixo comparecimento eleitoral seria um claro protesto contra Pequim. A segunda pergunta é como será a reação internacional, especialmente do Reino Unido. Uma eleição criticada poderia ser, por exemplo, o estopim para a liberação da imigração de cidadãos de Hong Kong para o Reino Unido, restaurando os passaportes anteriores à autoridade chinesa.

Japão

Finalmente, até 22 de outubro o Japão escolherá seu novo primeiro-ministro. Suga Yoshihide, do Partido Liberal Democrata, está no cargo desde setembro, assumindo no lugar de Abe Shinzo, que renunciou por questões de saúde. Seu partido é amplo favorito e, segundo as pesquisas de opinião, vai manter a maioria absoluta do parlamento, dispensando a necessidade de uma coalizão para governar. Não é exagero dizer que a disputa eleitoral é pelo segundo lugar, pois, salvo algo extremamente grave e imprevisto, o PLD vai se manter no poder.

Além do óbvio fato de ser uma eleição em uma das maiores economias do mundo, o que por si só denota a importância do pleito, a eleição nipônica será interessante pois ela inaugurará, de fato, o governo Suga Yoshihide. Pela primeira vez desde 2012 o Japão terá um governo que não de Abe Shinzo e com mandato popular. Claro, Suga é diferente de Abe e já realizou mudanças discretas nesses meses, mas agora ele terá o trunfo de ter sido eleito, a legitimidade que somente o voto confere. Junto com isso, a ambição, que ele compartilha com Abe, de reformar a constituição japonesa, retirando seu caráter pacifista.

Uma eventual lavada eleitoral do PLD significa essa reforma, certamente. No mês passado, Suga assinou um pacto de defesa militar com a Austrália, apenas a segunda vez que o Japão assina um tratado do tipo desde a Segunda Guerra Mundial. A marinha japonesa realizou manobras com diversos parceiros em 2020, como Índia e Vietnã. Tanto a reforma constitucional quanto essa agenda de política externa possuem um alvo claro e óbvio, a China. Será essa a principal consequência da eleição japonesa, que será realizada em um ano com os jogos olímpicos disputados em Tóquio, após o adiamento.

Lembrando que essas são apenas um recorte das principais eleições na África e na Ásia. Outras eleições em 2021 nesses continentes serão no Quirguistão, cuja crise foi tema de texto recente, Uganda, República Centro-Africana, Israel, com a quarta eleição em dois anos, e que será tema de coluna própria, Nepal, Irã e a previsão de eleições na Líbia, após um acordo entre as diversas facções internas. Diferentes pleitos vão aparecer aqui no nosso espaço no decorrer do ano, certamente.

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