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O presidente chinês Xi Jinping e sua esposa Peng Liyuan chegam para o jantar de boas-vindas da Cúpula dos Líderes do G20 no Parque Cultural Garuda Wisnu Kencana em Bali, Indonésia, 15 de novembro 2022.
O presidente chinês Xi Jinping e sua esposa Peng Liyuan chegam para o jantar de boas-vindas da Cúpula dos Líderes do G20 no Parque Cultural Garuda Wisnu Kencana em Bali, Indonésia, 15 de novembro 2022.| Foto: EFE/EPA/WILLY KURNIAWAN /

Hoje, terça-feira, dia 15 de novembro, começa a 17ª Cúpula do G20, em Bali, na Indonésia. Até o início do ano, a cúpula teria um propósito claro, a recuperação econômica mundial enquanto a humanidade começa a sair da pandemia de covid-19. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, entretanto, e a continuidade do conflito, a cúpula ganhou outras expectativas. O problema é que são expectativas que podem ser frustradas.

O G20 é um fórum guiado pela economia, reunindo dezenove das principais economias nacionais, mais a União Europeia. Ele ganhou força justamente para dialogar sobre a estabilidade financeira internacional no contexto da crise de 2008. Posteriormente, pautas como desenvolvimento sustentável foram incorporadas. Ele não foi criado para ser um fórum de concertação política.

O próprio fato do evento, com o lema “Recuperarmos juntos, recuperarmos mais fortes”, ser realizado em Bali está conectado com o propósito inicial de recuperação pós-pandemia. A ilha, cuja economia depende do turismo, foi profundamente afetada pela pandemia. A Indonésia, ao ocupar a presidência rotativa do G20, optou por realizar a cúpula em Bali para o evento servir de vitrine mundial e recuperar o interesse turístico no destino paradisíaco.

Guerra

A questão é que, hoje, não é possível falar de economia mundial sem falar da guerra na Ucrânia. E o conflito não parece ter solução no curto prazo. Oficialmente, as posições da Ucrânia e da Rússia estão muito distantes para negociar. Nos últimos dias, especulou-se algum impulso nas conversas devido ao encontro, na Turquia, entre o diretor da CIA, Bill Burns, e seu homólogo da SVR russa, Sergei Naryshkin.

Joko Widodo, presidente da Indonésia e anfitrião do G20, certamente estava ciente disso. Por isso, convidou Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, ao evento, com a prevista presença de Vladimir Putin. O ucraniano falará ao G20 por vídeo, sem presença física, e Putin anunciou que não irá, substituído por seu ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov. Ou seja, sem negociações presenciais entre as lideranças.

Apenas como observação, Rússia, México e Brasil são os únicos participantes que não estão representados por seus chefes de governo ou de Estado. Essa é apenas a segunda vez que o presidente brasileiro não comparece ao G20. Em 2010, Lula suspendeu sua participação devido às enchentes em Alagoas e Pernambuco. Nesse ano, Jair Bolsonaro não prestou esclarecimentos sobre sua ausência.

Claro que a cúpula do G20 não será uma oportunidade completamente desperdiçada. Teremos o primeiro encontro pessoal entre Joe Biden e Xi Jinping como mandatários de seus países. Os dois tiveram longa relação quando Biden era vice-presidente de Obama e Xi Jinping era seu homólogo, vice-presidente de Hu Jintao. Espera-se que o encontro forneça uma linha clara de como será o relacionamento entre as duas potências.

Outras oportunidades

Além disso, como já explicado em outras circunstâncias, esse tipo de cúpula permite uma miríade de encontros bilaterais entre lideranças improváveis de estarem no mesmo local. Para uma liderança dedicada e interessada, permitem agendas cheias e muitas oportunidades. Também permite conversas paralelas extra-oficiais que podem avançar pautas e agendas importantes.

As negociações dentro das reuniões ministeriais do G20 também já renderam acordos para fundos de recuperação econômica pós-pandemia em regiões economicamente frágeis, assim como um possível fundo de prevenção de futuras pandemias. Já outras pautas, como desenvolvimento sustentável, estão eclipsadas pela COP 27 que ocorre simultaneamente, no Egito. Algo que poderia ser evitado, inclusive.

Ainda assim, o G20 de Bali terá que lidar com um enorme elefante no meio da sala. Combustíveis, energia renovável, preço dos alimentos, projetos de infraestrutura, tudo isso está diretamente ligado ao conflito na Ucrânia, logo, tais temas não serão conversados de maneira aprofundada. E todo esse raciocínio possui apenas uma conclusão lógica, que, infelizmente, independe dos esforços do G20.

Economia e política não são dissociadas. Não existe um mundo ideal, etéreo, tal qual uma questão de física em um vestibular. Querer repensar a economia mundial sem pensar no atual conflito na Ucrânia é como a questão que pede uma resolução enquanto o vestibulando “desconsidera o atrito”. Por isso, o que mais veremos no G20 provavelmente serão pedidos para que o conflito seja encerrado. Não será à tempo da cúpula, infelizmente.

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