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Washington (USA), 10.02.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Reunião com o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Casa Branca – Salão Oval, Washington (EUA). Foto: Ricardo Stuckert/PR
Washington (USA), 10.02.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Reunião com o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden. Casa Branca – Salão Oval, Washington (EUA). Foto: Ricardo Stuckert/PR| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nos Estados Unidos na noite do último sábado. No domingo, se encontrou com empresários, em um jantar promovido pela Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e, na segunda, começou sua agenda com outras lideranças internacionais. Principalmente, Lula vai realizar o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, prerrogativa brasileira, hoje, terça-feira. Olhando para seus compromissos, o que a agenda de reuniões bilaterais de Lula em Nova Iorque pode nos dizer sobre as principais pautas atuais da política externa brasileira?

Na segunda-feira, dia 18, Lula se encontrou com o presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, e com o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Na terça-feira, dia 19, Lula se encontra com António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, antes do discurso de abertura da Assembleia Geral. Depois, uma sequência de líderes europeus. Alexander Van der Bellen, presidente da Áustria, Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, e Jonas Gahr Støre, primeiro-ministro da Noruega. Fecha o dia com o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas.

Na quarta-feira, dia 20, estão previstos encontros com Joe Biden, presidente dos EUA, com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, com Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, e, finalmente, Santiago Peña, presidente do Paraguai. A reunião com Zelensky ainda não está totalmente confirmada enquanto esta coluna é escrita, com potencial debate sobre horário e local da reunião, repetindo a polêmica da última cúpula do G7, em Hiroxima.

Meio-ambiente e comércio

O foco ambiental e de desenvolvimento sustentável é, talvez, o mais nítido. Suíça, Áustria, Alemanha, Noruega e EUA são contribuintes do Fundo Amazônia e interessados em parcerias com o Brasil em setores de desenvolvimento sustentável e energia renovável. No último mês de abril, inclusive, o governador do Amazonas, Wilson Lima, crítico de Lula, se encontrou com o embaixador austríaco em Brasília. Biden também é profundamente interessado nas pautas dessa seara, parte de sua plataforma doméstica.

Outro foco nítido é o de conversas sobre acordos comerciais entre o Mercosul e a Europa. No caso, com Scholz, se discute o acordo com a União Europeia, enquanto Lula já discutiu o acordo entre Mercosul e EFTA com o presidente suíço. EFTA, Associação Europeia de Livre Comércio, é integrado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, um acordo complementar ao da UE. É possível que o Brasil busque logo um acordo com a EFTA, grupo menor e menos complicado que a UE, para compensar, ou acelerar, as conversas com a UE.

Lembrando também que a Alemanha é a maior economia europeia além de importante parceiro brasileiro. Também é um país com menos objeções ao acordo com o Mercosul do que a França. Já a reunião com Santiago Penã, a segunda de Lula com o novo presidente paraguaio, certamente girará em torno da vindoura renovação do acordo de Itaipu, tema frequentemente abordado aqui em nosso espaço e de necessidade estratégica para o Brasil, fonte de 9% de toda a energia elétrica consumida no país.

O encontro com Tedros Adhanom Ghebreyesus da OMS abordará questões como o combate à fome e o programa de imunização brasileiro, mas certamente dialoga com a política doméstica, como uma “alfinetada” ou contraponto ao seu antecessor, Jair Bolsonaro, que chamou Tedros de “pessoa conversa”, além do debate sobre a condução das políticas de seu governo durante a pandemia de covid-19. Propósito similar tem o encontro com Abbas, presidente palestino, em uma clara diferença entre Lula e Bolsonaro, além do tradicional apoio brasileiro à chamada Questão Palestina.

Zelensky e Biden

Para Abbas, o encontro é um trunfo. Debilitado pela idade e por problemas de saúde, sua liderança perde força dia após dia. Hoje, os palestinos estão divididos em facções, com as islamistas cada vez mais fortes. Abbas está à frente da Palestina desde 2005 e, desde então, não conseguiu organizar eleições gerais, devido ao racha com o Hamas. Segundo a repórter Denise Rothenburg, Lula recebeu sessenta pedidos de reuniões bilaterais. O fato de Abbas ter conseguido ser um dos escolhidos certamente será explorado pelo palestino.

Finalmente, os encontros mais antecipados, com Zelensky e Biden. O presidente ucraniano promete ser um dos focos de atenção da semana em Nova Iorque com sua presença. Certamente buscará algum comprometimento ou declaração mais assertiva de Lula, para vender publicamente que “convenceu” o líder brasileiro a apoiar seu país, algo nesse sentido. Se a assessoria de Lula trabalhar bem, o encontro, idealmente, será como o de Zelensky e Modi em Hiroxima: pouco notável e sem constrangimentos.

Com Biden, Lula terá sua segunda reunião bilateral em menos de dez meses, mais um telefonema e duas reuniões multilaterais no G20. É a segunda vez de Lula nos EUA nesse mandato, mesmo com um empobrecido debate sobre “anti-americanismo” por vezes pautado. Além dos aspectos ambientais, já mencionadas, Lula e Biden devem conversar sobre questões trabalhistas, plataforma que une os dois presidentes. Como já comentamos aqui em nosso espaço, Biden é um profundo admirador de Franklin Delano Roosevelt e sua relação com os sindicatos dos EUA.

Essa proximidade de pauta deve ser concretizada no documento "Coalizão Global pelo Trabalho", em que os dois presidentes defenderão liberdade sindical e garantias aos trabalhadores de aplicativos. Nas palavras do falcão Conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, os dois presidentes vão "destacar o papel central e crítico que os trabalhadores desempenham na construção de um país sustentável e democrático, um mundo equitativo e pacífico". Resta saber qual será o concreto efeito do documento, que, em teoria, é meramente declaratório.

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