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O primeiro-ministro de Israel, Benjamín Netanyahu
O primeiro-ministro de Israel, Benjamín Netanyahu, durante visita à Colômbia em 2017| Foto: EFE/MAURICIO DUEÑAS CASTAÑEDA

Hora de iniciar mais um ano aqui no nosso espaço de política internacional. Como fizemos em ocasiões anteriores, vamos começar o ano levantando alguns aspectos e temas para ficarmos de olho no ano que começa. Por vezes acertamos, algumas vezes erramos, mas, felizmente, os acertos costumam ser maioria. Seguimos essas colunas de abertura com questões do Grande Oriente Médio e do Cáucaso.

Israel

Os últimos dias de 2022 viram o governo mais religioso da História de Israel ser empossado. Benjamin Netanyahu, o recordista no cargo de primeiro-ministro, retorna ao cargo buscando se preservar das investigações do judiciário contra supostos abusos de poder e corrupção cometidos por ele. Talvez não por coincidência uma das primeiras propostas de seu governo seja uma reforma do Judiciário.

Essa é a primeira questão, como será a coesão política e institucional de Israel no ano de 2023, com um governo de caráter inédito no poder, liderado pela principal figura da política israelense dos últimos trinta anos. Outra questão a ser monitorada é a relação com os palestinos e com a Palestina, já que, nesse governo religioso, está Itamar Ben-Gvir, líder do partido de extrema-direita kahanista Otzma Yehudit.

Ben-Gvir iniciou o ano de 2023 com uma provocação, indo até a Esplanada das Mesquitas, onde está a mesquita de al-Aqsa, um local sagrado muçulmano. Como ministro, ele proibiu bandeiras palestinas em público, em decisão inédita, afirmando que é um “símbolo terrorista”. Provavelmente a decisão irá parar na Suprema Corte e ser considerada inconstitucional, mas ele já conseguiu o barulho que desejava.

Finalmente, como serão as relações de Israel com seus vizinhos e com a Europa? Estão na mesa uma reaproximação com a Rússia e melhoria de relações com a Turquia. Principalmente, é questão de tempo uma normalização de relações com os sauditas. O tempo, no caso, é o da morte do rei Salman, hoje com 87 anos de idade. O reconhecimento virá via seu filho, Mohammed bin Salman, na prática mandatário do país.

Simbolicamente, aguardar pela mudança de rei evita que um filho do fundador do país, Abdulaziz bin Saud, seja o responsável por normalizar as relações com o Estado judeu. Outras relações de Israel a serem vistas são com a França e o Chipre, possíveis parceiros na exploração de gás natural no Mediterrâneo, e o Líbano, cuja fronteira marítima foi reconhecida como visto aqui em nosso espaço, no ano passado.

Turquia

O ano de 2023 é importantíssimo para a Turquia. Em outubro é celebrado o centenário da República da Turquia, fundada em 1923 por Mustafa Kemal Ataturk, o “Pai dos turcos”. Antes disso, em junho, o país passará por eleições gerais, para presidente e as seiscentas cadeiras do parlamento. O atual presidente Recep Tayyip Erdogan é candidato e também favorito, após anos concentrando poder em si.

A imprensa e as universidades são controladas, o judiciário e as forças armadas passaram por um expurgo e o potencial principal candidato da oposição, Ekrem İmamoglu, prefeito de Istambul, foi condenado à dois de prisão e inelegibilidade por “insultar autoridades”, uma farsa legal para afastá-lo do pleito. Uma vitória de Erdogan, então, não deve surpreender, mas passa longe de ser inquestionável do ponto de vista da legitimidade.

A Turquia também passa por crise econômica, com forte desvalorização da lira, e um dos momentos mais tensos em suas relações com a vizinha Grécia na História recente. A disputa fronteiriça marítima no Mediterrâneo ganha cada vez mais potencial de conflito, já que a constante descoberta de reservas de gás natural na região torna a cobiça territorial mais tentadora.

Foram diversos episódios de demonstração de força recentes, como navios disparando tiros de alerta, navegação no limite do abalroamento, violações de espaço aéreo e até mesmo uma bravata de Erdogan de que Atenas estaria dentro do alcance de projéteis turcos. Um eventual conflito também afetaria o Chipre mas, considerando que ambos os países são membros da OTAN, a situação pode ser contornada.

Também é digno de observação o entorno estratégico da Turquia, com a presença militar do país na vizinha Síria, sua aliança com o Azerbaijão, uma possível normalização de relações com a Armênia e eventuais intervenções no Iraque, em nome de combater os curdos. Finalmente, a importância turca em qualquer mediação da guerra na Ucrânia não pode ser ignorada ou subestimada.

Cáucaso

Mencionamos a Armênia anteriormente, e a crise no sul do Cáucaso continua, com o bloqueio da república de Artsakh pelo Azerbaijão. O governo armênio de Pashinyan parece tatear no escuro. Cercado de potenciais inimigos, não se aproxima de seu principal aliado, a Rússia, evita maiores laços com o Irã, por causa das sanções ocidentais contra o vizinho, e não consegue aprofundar as relações com a França, seu principal parceiro na UE.

Enquanto isso, o Azerbaijão ganha tempo, e dinheiro, para reforçar suas forças militares e retomar a ofensiva contra a Armênia. Caso o governo armênio não consiga consolidar alguma posição logo, corre sérios riscos de nova, e mais grave, derrota militar. Já mais ao norte do Cáucaso, quanto mais a guerra na Ucrânia se arrastar, mais sérios são os riscos ao domínio russo nas regiões da Abkházia, da Ossétia, da Chechênia e do Daguestão.

Magreb

No norte da África, a indecisão sobre as novas eleições líbias continuam. O país continua dividido e devastado. A guerra civil da Líbia, atualmente congelada, pode ser retomada a qualquer momento. Na vizinha Tunísia, a tentativa do autocrata Kais Saied de legitimar seu autogolpe fracassou, com apenas 8% do eleitorado votando nas últimas eleições, e protestos e revoltas populares são questão de tempo.

Cenário parecido enfrenta a gerontocracia da Argélia, com uma população jovem cansada do estamento político e da crise econômica quase permanente. Esse segundo aspecto pode ser aplacado com a alta do preço internacional do gás natural, com as exportações energéticas para a Europa sendo importante aspecto da economia argelina. Preocupa também a escalada retórica com o vizinho Marrocos.

O reino marroquino e a Argélia possuem amplas divergências, a maioria delas derivada do domínio marroquino no Saara Ocidental, com a causa da independência saaraui apoiada pela Argélia. Recentemente, o abastecimento de gás natural para a Espanha foi ameaçado por essas tensões que podem, infelizmente, resultar em um conflito aberto entre os dois países do norte da África.

Na próxima coluna, veremos os últimos tópicos para ficarmos de olho em 2023.

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