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Mais votado nas eleições gerais na Espanha no domingo (23), o PP de Alberto Núñez Feijóo enfrenta dificuldades para formar maioria na câmara baixa
Mais votado nas eleições gerais na Espanha no domingo (23), o PP de Alberto Núñez Feijóo enfrenta dificuldades para formar maioria na câmara baixa| Foto: EFE/Lavandeira

Tudo indica que os conservadores “ganharam, mas não vão levar” as eleições antecipadas na Espanha. No último domingo (23), os espanhóis votaram para a formação do novo parlamento, com especial destaque para a câmara baixa, onde é formado o governo no sistema parlamentarista espanhol. O desempenho do partido conservador em meio ao parlamento fragmentado torna o futuro espanhol incerto no curto prazo.

As eleições do último domingo estavam originalmente previstas para dezembro, mas foram antecipadas pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), no final de maio. O motivo oficial foi a derrota marcante do PSOE nas eleições locais e regionais, mas Sánchez fez uma aposta para evitar maior crescimento da oposição, especialmente do partido neofranquista Vox.

Seu cálculo era o de que o conservador Partido Popular e o Vox poderiam fazer alianças e viabilizar governos regionais, contribuindo para uma ampliação do Vox e, principalmente, para o fim do potencial tabu que seria uma aliança nacional entre PP e Vox. Esse tabu se dá pelo fato de setores do PP rejeitarem a negociação com o Vox pelas bandeiras do partido, como o resgate da imagem de Franco e a crítica à nova lei de crimes sexuais.

Outro fator de crescimento do Vox é o fato de o PSOE ter se fiado nos partidos separatistas, republicanos e de esquerda radical para governar, três bandeiras rejeitadas pelo Vox. Essa aproximação alienou parte do eleitor moderado, que historicamente flutua entre as duas forças tradicionais, o PSOE e o PP. Esse eleitor, justamente, migrou para o PP, e não para o Vox, como algumas pesquisas apontavam.

Vitória do PP e derrota do Vox

O comparecimento eleitoral foi de 66%, o mesmo da eleição de novembro de 2019. O conservador PP ficou em primeiro, com 136 das 350 cadeiras, conquistando 33% do voto popular e aumentando sua bancada em 47 cadeiras. O voto no PP cresceu em 12% e isso é explicado principalmente por dois motivos. Primeiro, o antigo Ciudadanos, que tentou ser uma alternativa ao PP, desapareceu após menos de 20 anos.

Segundo, o próprio Vox perdeu eleitores para o PP, provavelmente consequência de seu discurso mais extremo em algumas bandeiras vistas como ideológicas demais, como o passado da ditadura franquista. Com isso, o PP liderado por Alberto Núñez Feijóo igualou seu desempenho de 2016, última vez em que havia vencido as eleições e o então líder Mariano Rajoy chefiou um governo de minoria por menos de dois anos.

Em segundo lugar ficou o PSOE, com 122 assentos e 31,7% dos votos. Ambos os números maiores do que os da eleição anterior, curiosamente. O Vox ficou em terceiro, com 33 cadeiras e 12,4% dos votos, perdendo 19 assentos e 2,7% do voto, saindo menores do que entraram. As pesquisas indicavam um empate técnico entre o Vox e a coalizão de esquerda e esquerda-radical, o Sumar.

A diferença entre os dois foi de apenas duas cadeiras, com o Sumar conquistando 31 assentos e 12,3% dos votos. Comparando com o desempenho de seus antecessores, como o Unidas Podemos, o bloco de esquerda também encolheu. Em seguida ficaram os dois partidos separatistas catalães, um de esquerda e outro mais ao centro, ambos com sete cadeiras cada.

Logo após estão os dois partidos bascos, o separatista de esquerda EH Bildu, com seis cadeiras, e o centrista e regionalista EAJ, com cinco. Fecham a casa uma cadeira cada para partidos regionais das Canárias, da Galícia e de Navarra, sendo duas de direita e uma de esquerda. A proposta, vista em alguns meios de comunicação, de separar o parlamento espanhol apenas entre direita e esquerda, entretanto, é complicada.

Cálculos para formar um governo

Por exemplo, o basco EAJ e o catalão Junts não são de esquerda, mas dificilmente teriam diálogo com o Vox, já que o caráter regionalista do primeiro e independentista do segundo são totalmente opostos ao que o Vox propõe. O EAJ, por exemplo, que governa a Comunidade Autônoma Basca quase de forma ininterrupta desde a redemocratização, já apoiou governos tanto do conservador PP quanto do social-democrata PSOE.

Justamente por rejeitar o Vox, o EAJ, liderado por Andoni Ortuzar, afirmou que não cogita apoiar Feijóo no momento. A ideia do líder conservador era criar um bloco de PP, Vox, EAJ e os partidos regionais das Canárias e de Navarra, obtendo a maioria mínima de 176 cadeiras. Esse plano já foi por água abaixo. Sem o Vox, não há coalizão de direita. Com o Vox, os regionalistas não sentam.

Restam três cenários. Primeiro, um frágil governo de minoria do PP, que seria empossado com a abstenção de alguns partidos, mas sem a formação de coalizão. Esse governo provavelmente ruiria na primeira discórdia maior, como uma votação orçamentária. O segundo cenário é o de Pedro Sánchez do PSOE articular uma frente ampla de esquerda com seis partidos, especialmente os catalães independentistas.

Somados, PSOE, Sumar, os dois partidos catalães e os dois partidos bascos possuem 178 cadeiras, pouco acima do mínimo. A conta é simples, difícil é colocar seis partidos espanhóis no mesmo barco. Além disso, Pedro Sánchez teria que fazer ainda mais concessões aos independentistas, especialmente a eventual oferta de anistia aos líderes catalães que enfrentam acusações judiciais desde 2016.

Mesmo que Sánchez argumente que os dois partidos catalães perderam deputados, eles ainda serão a bancada decisiva nessa negociação. Finalmente, existe a terceira opção, que é a Espanha disputar mais uma eleição geral, a décima desde 2000. Com um parlamento fragmentado e travado, espelho do país, esse é quase um caminho habitual para os espanhóis na última década.

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