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Em 2010, o Primeiro Ministro da Eslováquia, Fico, recebia p Presidente da Rússia, Medvedev.
Em 2010, o Primeiro Ministro da Eslováquia, Fico, recebia p Presidente da Rússia, Medvedev.| Foto: Presidência da Rússia/Wikicommons

Os eslovacos vão às urnas neste sábado, dia 30 de setembro. A Eslováquia é um pequeno país no leste europeu, membro da UE e da OTAN, com uma população de apenas cerca de cinco milhões e meio de pessoas. Apesar de pequeno, é um país de alto desenvolvimento humano; e sua capital, Bratislava, é presença frequente em listas de “melhores cidades para se viver” ou algo do tipo. Nada disso, entretanto, faz das eleições eslovacas um evento digno de muita atenção mundial. O próximo pleito é diferente, com muitos olhares europeus, já que podemos ter a eleição de um governo pró-Rússia.

O parlamento eslovaco, de 150 cadeiras, está bastante fragmentado. Hoje, cinco partidos possuem uma bancada de mais de 10% da casa, com quinze partidos representados. Após o pleito de fevereiro de 2020 foi necessário um mês de conversas para formar uma aliança de governo composta por quatro partidos, liderada por Igor Matovic, que foi premiê até abril de 2021. Após um escândalo que envolveu uma condenação por plágio de sua tese de mestrado e discordâncias na compra de vacinas pelo governo, Matovic renunciou e foi substituído pelo então ministro Eduard Heger.

Provisoriamente houve a manutenção da aliança de governo, mas ela durou apenas até dezembro de 2022, quando o partido SAS, sigla para Liberdade e Solidariedade, abandonou o barco e motivou um voto de desconfiança. O SAS é um partido liberal pró-UE, enquanto o resto da coalizão era composta pelo Sme rodina, um partido conservador populista, pelo Partido Popular, conservador, e pelo Olano, também conservador. Olano é uma sigla para “Pessoas comuns e personalidades independentes”, um partido supostamente “anti-sistema” fundado pelo citado Matovic.

Direita em baixa

Em outras palavras, tratava-se de uma coalizão que reunia as principais legendas conservadoras. O governo ruiu com baixíssima taxa de aprovação, debates sobre corrupção no país e debate sobre o auxílio eslovaco aos ucranianos contra a invasão russa. A Eslováquia cedeu aos ucranianos treze caças Mig-29, cinco helicópteros, peças de artilharia, viaturas blindadas, sistemas anti-aéreos e munições. Em quantidade parece pouco, mas, no caso de um país pequeno como a Eslováquia, trata-se de muito equipamento. Ao ponto que o país ficou sem defesas aéreas.

Foi assinado um acordo com a vizinha Tchéquia para que a força aérea vizinha realize a vigilância necessária do espaço aéreo eslovaco. Principalmente, como mencionamos na mais recente coluna em nosso espaço, a Eslováquia é um dos países que foi afetado pela entrada de produtos agrícolas ucranianos, prejudicando agricultores locais. Os eslovacos, em parte, culpam tanto o antigo governo de direita quanto o atual governo interino de Ľudovit Odor, que era vice-presidente do Banco Central Eslovaco e assumiu o cargo em maio, para gerir o país até a realização de eleições.

Segundo as pesquisas, quem lidera a corrida eleitoral é o Smer, “Direção”, o partido social-democrata eslovaco. Nos últimos anos o partido deu uma guinada conservadora em temas sociais, como casamento entre pessoas do mesmo sexo. O partido tem cerca de 20% da preferência, o que permite uma projeção de cerca de 45 assentos. O Smer é liderado por Robert Fico, que foi premiê em duas passagens. A primeira entre 2006 e 2010 e a segunda entre 2012 e 2018. Ele é uma figura divisiva, conta tanto com críticos ferrenhos quanto com seguidores apaixonados.

Pró-Rússia

Principalmente, Fico é um russófilo. Na juventude, ele foi integrante do Partido Comunista da Tchecoslováquia. No governo, defendeu a ideia de aproximação com a “comunidade eslavônica”. Até aquele momento, a Eslováquia passou os vinte primeiros anos de sua existência atual como Estado buscando se aproximar do chamado Ocidente, tornando-se integrante da UE e da OTAN. Ele direcionou a política externa do país rumo ao leste, incluindo países não integrantes dessas organizações, como a Sérvia e, principalmente, a Rússia, ao ponto de apoiar a Rússia na guerra com a Geórgia, em 2008.

Fico estava no governo quando da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014 e, embora não tenha aprovado o ato, tendo condenado ele à luz do Direito Internacional, Fico criticou a política de sanções contra a Rússia iniciada ali. Ou seja, caso Robert Fico volte ao cargo, possivelmente teremos um novo país dentro da UE e da OTAN que possa vetar políticas mais rígidas frente à Federação Russa. O governo atual que já faz isso é o de Viktor Orbán, na Hungria, um nacionalista cada vez mais à direita. E isso certamente gera preocupação em Bruxelas, Berlim, Paris e em Washington.

O leitor nota que, nesse momento, não se faz julgamento de valor se tal política de sanções é positiva ou negativa, apenas que tais centros de poder certamente não gostariam de ter mais um governo afetando a coesão da UE e da OTAN. Quem desponta como o principal rival de Fico é o PS, sigla para Eslováquia Progressista, um partido liberal e pró-UE liderado por Michal Simecka, vice-presidente do Parlamento Europeu. Essa é a candidatura dos sonhos dos centros de poder mencionados. Resta saber qual será a escolha dos milhões de eleitores eslovacos.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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