“Quando quero conversar com Deus, eu não preciso de padres ou de pastores. Eu posso me trancar no quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser sem precisar pedir favor a ninguém” (Luiz Inácio Lula da Silva, 20 de agosto de 2022)
“Quero aqui anunciar que o Brasil abre suas portas para acolher os padres e freiras católicos que têm sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua” – disse Bolsonaro na ONU, no trecho mais importante do seu discurso, num momento em que o ditador comunista Daniel Ortega – velho amigo e companheiro de Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito do Foro de S. Paulo – intensifica a perseguição aos católicos nicaraguenses. Dirigindo-se às autoridades e aos povos de todo o mundo, o presidente brasileiro – acusado de inimigo dos direitos humanos por radicais de esquerda aboletados no Congresso, nos partidos, nos tribunais, nos estúdios e redações – ousou defender os cristãos, o segmento populacional mais perseguido hoje no mundo, de cujos direitos humanos, todavia, ninguém do beautiful people “progressista” parece lembrar.
Não exagero ao falar dos cristãos como segmento populacional mais perseguido no mundo, e, portanto, da cristofobia (termo sintomaticamente ausente do noticiário) como o problema número um de direitos humanos no cenário global contemporâneo. Mas, uma vez que, de modo geral, as informações não costumam circular na autoproclamada imprensa “profissional” – bem mais comovida quando um transexual não é chamado por seu pronome “correto” do que, por exemplo, quando uma cristã é apedrejada até a morte na Nigéria –, o leitor talvez não esteja a par dos números. De acordo com a ONG cristã internacional Portas Abertas, o número de cristãos vítimas de algum tipo de violência, hostilidade ou intimidação por causa de sua fé cresce vertiginosamente a cada ano, tendo passado de 260 milhões em 2020 para 360 milhões em 2022, um incrível aumento de 100 milhões em apenas dois anos.
Os países em destaque da Lista Mundial da Perseguição aos cristãos são os comandados por radicais islâmicos e os governados por regimes comunistas e ateus
Anualmente, desde 1993, a entidade elabora uma lista e um mapa com os 50 países mais hostis aos cristãos, segundo um critério de hostilidade que avalia o nível de pressão enfrentada pelos cristãos em cinco esferas de sua existência social (vida privada, família, comunidade, igreja e nação) somado ao número de incidentes violentos contra os cristãos e suas igrejas. Dessa avaliação resulta uma atribuição de pontos, segundo a qual os países são classificados como promotores de perseguição extrema, severa ou alta contra os cristãos naturais ou residentes. Por óbvio, os países em destaque da lista são, por um lado, os comandados por radicais islâmicos (Afeganistão, Somália, Líbia, Iêmen, Nigéria, Paquistão etc.) e, por outro, os governados por regimes comunistas e ateus (Coreia do Norte, China, Cuba etc.). Segue o mapa de 2022:
No que diz respeito à América Latina, os países em destaque são México, Cuba e Colômbia. Com relação à Colômbia, a ONG classifica a perseguição nos seguintes tipos: corrupção e crime organizado, opressão de clã (por parte de grupos indígenas que oprimem os nativos recém-convertidos ao cristianismo) e intolerância secular. Entre os principais agentes de perseguição cristofóbica estão a narcoguerrilha, diversos grupos paramilitares, outras facções do crime organizado, movimentos indígenas e agentes governamentais. Quanto à intolerância secular, os cristãos colombianos enfrentam hostilidade crescente, abuso verbal e discriminação por sua postura em questões como aborto, sexualidade e orientação de gênero. Como resultado, a participação de cristãos na esfera política tem diminuído. Tendo em vista que o relatório foi concluído antes da chegada do narcomarxista Gustavo Petro ao poder, pode-se imaginar que, acompanhando o padrão de outros países sujeitos a regimes de orientação marxista, a perseguição deve recrudescer nos próximos anos.
Presidido pelo socialista Andrés Manuel López Obrador, o México disparou na Lista Mundial da Perseguição 2022, depois de ficar fora do ranking no ano passado. Segundo Portas Abertas, “a pandemia da Covid-19 aumentou a instabilidade sociopolítica e reforçou o domínio territorial dos grupos criminosos. Isso também aumentou a vulnerabilidade da população e a violência contra os cristãos”. Nas áreas rurais, os cristãos sofrem também com a ação de grupos criminosos e a radicalização de movimentos indígenas locais. Nos centros urbanos, intensifica-se na boca de políticos, magistrados e autoridades a retórica secularista radical, que almeja, na prática, uma guetificação dos cristãos e o seu completo alijamento da esfera pública.
Já quanto a Cuba – regime-modelo para Lula e o PT, que sempre apoiaram a ditadura castrista e até a financiaram com dinheiro desviado das estatais brasileiras e por meio de programas como o Mais Médicos –, a perseguição explica-se, obviamente, pela natureza marxista e ateia da ditadura comunista, a exemplo do que tem ocorrido em regimes do tipo ao longo da história. “A perseguição em Cuba continua piorando”, informa Portas Abertas. “Em 2021, Cuba estava fora do Top 50 da Lista Mundial da Perseguição, ficando em 51.º e, no ano anterior, em 61.º. O contínuo aumento é resultado de medidas altamente restritivas contra igrejas consideradas oponentes ao regime – principalmente as igrejas protestantes não registradas. A crise da Covid-19 tem sido usada como pretexto para impedir atividades comunitárias e da igreja, monitorar líderes de igrejas, fazer prisões arbitrárias, confiscar propriedade privada e impor taxas de extorsão. Líderes cristãos de diferentes denominações estão entre os presos durante manifestações contra o governo ocorridas em julho de 2021”.
Chamam atenção as ausências de Chile – no qual igrejas foram incendiadas e depredadas por extremistas de esquerda partidários do presidente Gabriel Boric – e Nicarágua. Quanto ao primeiro, não há informações disponíveis na página da organização cristã. Já quanto à Nicarágua, a ausência é compreensível. Ao tempo da finalização da lista de 2022 da ONG Portas Abertas, a perseguição aos cristãos nicaraguenses ainda não havia atingido os níveis que atingiram recentemente, sobretudo desde a prisão do bispo Rolando Álvarez. Eis por que o país comandado pelo ditador Daniel Ortega não tenha entrado no rol dos 50 países mais hostis ao cristianismo. Entrou, todavia, numa lista de países em observação.
“A natureza do regime ditatorial implantado pela elite do presidente Ortega tem feito todos os esforços para silenciar ativistas que exigem a participação da sociedade civil e o respeito à democracia” – lê-se numa entrada no site de Portas Abertas. “Esse foi o caso especificamente na véspera das eleições de novembro de 2021. Líderes cristãos, especialmente ligados à Igreja Católica Romana, denunciaram abusos aos direitos humanos e forneceram ajuda humanitária e, como resultado, enfrentaram vigilância, discriminação, difamação e outras formas de hostilidade. O objetivo final da intimidação aos cristãos é fazer com que a igreja e seus líderes percam a credibilidade entre a população”.
Continuaremos a tratar do assunto no artigo da semana que vem.
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