Em novembro de 2016, quando o ditador cubano Fidel Castro morreu, o comunista petista Luís Inácio Lula da Silva disse o seguinte: “Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança”.
Em julho de 1994, quando a pequena Hellen Martínez Enriquez morreu, assassinada por Castro com apenas 5 meses de idade, ninguém disse nada.
Em novembro de 2016, quando Fidel Castro morreu, o socialista tucano José Serra disse o seguinte: “Ele foi muito impactante. Era um herói”.
Em julho de 1994, quando a pequena Xicdy Rodríguez Fernández morreu, assassinada por Castro com menos de 3 anos de idade, ninguém disse nada.
Em novembro de 2016, quando Fidel Castro morreu, a comunista petista Dilma Rousseff disse o seguinte: “Fidel era um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa”.
Em julho de 1994, quando o pequeno José Carlos Anaya morreu, assassinado por Castro com aproximadamente 3 anos de idade, ninguém disse nada.
Em novembro de 2016, quando Fidel Castro morreu, o socialista tucano Aécio Neves disse o seguinte: “O presidente Fidel Castro foi, sem dúvida, um dos grandes líderes do nosso tempo”.
Em julho de 1994, quando a pequena Giselle Borges Álvarez morreu, assassinada por Castro com apenas 4 anos de idade, ninguém disse nada.
Todas as crianças citadas acima estão entre as 41 vítimas do massacre do barco “13 de Marzo”, que ontem, 13 de julho, completou 27 anos.
Na madrugada do dia 13 de julho de 1994 – data em que os brasileiros comemorávamos a vitória sobre a Suécia, com gol de Romário, na semifinal da Copa do Mundo daquele ano –, a pequena e vetusta embarcação (com casco de madeira) foi tomada por 72 pessoas desesperadas para fugir da ilha-prisão de Fidel Castro com destino à costa da Flórida.
Ao passar pelo canal de saída do cais, num ponto não muito distante da fortaleza de La Cabaña (onde Che Guevara comandou a execução de milhares de presos políticos), o “13 de Marzo” passou a ser perseguido por três rebocadores modernos (com casco de metal), e acabou saindo de sua rota, atingindo o mar aberto. Sob ordens diretas de Castro, os agentes da repressão, logo apoiados por uma patrulha da Guarda Costeira, dispararam potentes canhões de água contra a tripulação fugitiva, na tentativa de afogá-la. Ignorando as desesperadas tentativas de rendição, e os alertas de que havia crianças no barco, dois dos rebocadores miraram seus resistentes cascos de metal contra a frágil embarcação de madeira, um pela proa, o outro pela popa. O “13 de Marzo” partiu-se em dois e foi a pique.
Diante dos protestos por liberdade em Cuba, a imprensa brasileira faz o que dela se espera: doura a pílula da ditadura (essa, sim, verdadeiramente) genocida, que já ceifou a vida de pelo menos 100 mil cubanos
Desesperadas, as vítimas pediram socorro. Mas os agentes da ditadura comunista não apenas não os ajudaram como fizeram pior, manobrando os rebocadores em alta velocidade na área em que boiavam os náufragos, a fim de os afogar ou ferir com as quilhas. Segundo o relato de um sobrevivente:
“As mulheres e as crianças subiram no teto do barco, para que os tripulantes do rebocador soubessem que estavam prestes a cometer um assassinato. Mas eles não pararam. Em meio a várias manobras, o ‘13 de Marzo’ chocou-se com o rebocador, mas no incidente conseguimos direcionar a proa. Ao sair da baía para o mar aberto, no entanto, havia dois outros rebocadores emboscando-nos por detrás do costão.”
41 cidadãos cubanos morreram no massacre, incluindo 11 crianças, das quais mencionei apenas quatro. Um dia depois do afundamento criminoso, o jornal Granma, diário oficial do Partido Comunista de Cuba, publicou que a embarcação havia soçobrado com “elementos antissociais” a bordo. Castro rendeu homenagens públicas aos tripulantes dos rebocadores, que, segundo o ditador, foram autores de “um esforço verdadeiramente patriótico”. E não permitiu sequer que os corpos fossem resgatados do fundo do mar.
O massacre do “13 de Marzo” é apenas um pequeno (e trágico) exemplo do que, há mais de 60 anos, vem sofrendo a população cubana nas mãos da ditadura comunista. Não surpreende, pois, que essa população esteja hoje tentando desesperadamente se livrar desse jugo. Mas não surpreende também que a esquerda brasileira, tendo à frente Lula e seus comparsas, esteja apoiando a ditadura companheira em seu esforço de reprimir os atuais protestos. Trata-se, aliás, de algo mais que mero apoio. Trata-se de cumprir o papel esperado na retomada, após um período de revés, do velho projeto continental de poder, arquitetado nos anos 1990 no âmbito do famigerado Foro de São Paulo (sobre o qual já escrevi aqui, aqui e aqui). Lula é Miguel Díaz-Canel. Díaz-Canel é Nicolás Maduro. Maduro é Evo Morales. Morales é Alberto Fernández, e assim por diante.
Enquanto isso, a imprensa brasileira, majoritariamente povoada, desde os anos 1970, por adeptos conscientes ou semiconscientes de uma cultura política filocomunista, faz o que dela se espera: doura a pílula da ditadura (essa, sim, verdadeiramente) genocida, que já ceifou a vida de pelo menos 100 mil cubanos – muitos deles executados; outros tantos, vítimas de maus tratos nas prisões políticas; outros, ainda, naufragados em tentativas desesperadas de fugir da ilha.
Nessa longeva tentativa de dourar a pílula (ou, como virou moda dizer hoje em dia, passar pano), tem valido de tudo um pouco: desde sugerir, inacreditavelmente, que a carestia em Cuba ajudou a reduzir o risco de diabetes e doenças cardíacas (quem sabe o Holodomor ucraniano não terá sido também uma medida de saúde pública?); passando pela identificação da causa dos atuais protestos na falta de carisma do ditador cubano (que, aliás, essa imprensa insiste em chama de “presidente”); até a afirmação de que, segundo especialista, o comunismo não tem nada a ver com a repressão aos manifestantes (porque, afinal, a culpa deve ser do Bolsonaro). Como se nota, para muitos dos nossos autoproclamados jornalistas, em Cuba há uma ditadura simpática.
Não duvido que, hoje, essa imprensa sicofanta noticiaria o assassinato de Hellen, Xicdy, José Carlos, Giselle e demais tripulantes do “13 de Marzo” na seguinte linha: “Sem máscaras e sem provas, extremistas de direita roubam patrimônio público e morrem em confronto com a polícia – dizem especialistas”.
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