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Quês, quandos, riscos e inércia
| Foto: Anncapictures/Pixabay

Existe uma maneira de se dividir as pessoas independentemente de sua classe social, grau de instrução, nacionalidade, sexo, altura, peso ou cor de pele. O critério a que me refiro é o do arrependimento. Basicamente, existem pessoas que vivem se arrependendo do que fizeram (e do que não fizeram também) e pessoas que raramente se arrependem. E, entre as que se arrependem com frequência, uma grande parte acha que deveriam ter feito um outro Quê, quando na verdade o que mais muda os resultados de uma decisão é o Quando.

Um de meus professores de Engenharia me disse, um quarto de século atrás, que um ser humano tem três momentos de grande emoção e realização em sua vida: o dia em que se forma na faculdade, o dia em que se casa e o dia em que nasce seu primeiro bebê. E ele completava a frase dizendo: “E tem gente cabeçuda que resolve fazer as três coisas juntas”.

O Quando é nosso grande desafio nessa vida. Ele muda tudo, e muitas vezes não fazemos a menor ideia se estamos no Quando certo ou não. Aliás, na maioria das situações, somente depois de um bom tempo é que saberemos se acertamos ou se erramos terrivelmente.

No geral, as pessoas que atingem sucesso profissional e financeiro são as que agem. Agem apesar dos riscos e sabendo deles. Erram e acertam, porém seus acertos costumam ser mais estrondosos que seus erros

Quem comprou ações da Amazon logo em seu primeiro IPO, em 1997, e as manteve consigo até hoje poderia realizar um lucro astronômico de 113 mil por cento, o equivalente a 36% de juros anuais compostos durante 23 anos. No entanto, se você tivesse comprado o mesmo papel em setembro de 2018 e vendido em abril de 2020, teria perdido dinheiro. No mercado de ações, Quando é sempre mais importante que Quê.

Quem abriu uma locadora de vídeo nos anos 1980 e vendeu seu negócio no fim do século provavelmente ganhou um bom dinheiro. Quem resolveu comprar a locadora desse sujeito, pensando que “se a Blockbuster não vendeu sua operação para a Netflix por US$ 50 milhões é porque esse negócio ainda é muito bom”, provavelmente faliu e perdeu todo o investimento. No mundo do empreendedorismo, o Quando faz toda a diferença.

No início de 2006, quem comprou uma casa por US$ 300 mil, em qualquer lugar dos Estados Unidos, tomou um prejuízo monstruoso apenas dois anos mais tarde, quando a maioria dos imóveis teve seu preço reduzido a menos da metade em virtude da crise do subprime. Quem comprou essa mesma casa por US$ 130 mil em 2009 pode vendê-la hoje pelo dobro do que pagou. No mercado imobiliário, o Quando transforma barraco em mansão.

Quando resolvi me mudar para os Estados Unidos, em 2013, fiz uma viagem com minha esposa para escolhermos uma cidade. Naquela época, os preços dos imóveis ainda estavam baixos, e um dólar era comprado com pouco mais de dois reais. Vi nesses fatores uma oportunidade rara e dei entrada em uma casa na cidade que tinha escolhido para morar, para onde me mudaria em 2014. Na volta da viagem, vendi tudo o que tinha no Brasil e comecei a comprar dólares. A última leva de dinheiro que trouxe para cá, seis meses depois de termos nos mudado, veio a quase R$ 2,70 por dólar. Graças àquela decisão, hoje temos um imóvel próprio para morar. Se eu tivesse deixado meus bens no Brasil e resolvido vender tudo somente depois de ter meu Green Card emitido, não compraria nem um trailer.

Essa experiência me ensinou muito a valorizar o Quando acima do Quê. Eu poderia ter pensado “essa casa é pequena, melhor esperar um pouco e comprar uma maior quando viermos de vez para cá”, ou mesmo “melhor morar de aluguel um tempo para ver se gostamos do lugar, e somente depois investiremos numa casa nossa”. A casa era pequena, realmente, mas foi somente por tê-la comprado é que pudemos mais tarde vendê-la, e com o lucro da venda comprar uma maior e melhor.

Quando você presta atenção ao Quando, quando está disposto a assumir riscos e quando entende que arrependimento é apenas uma forma de fraqueza (que fique claro, não estou falando do arrependimento da alma, das más ações), você fica livre para agir. No geral, as pessoas que atingem sucesso profissional e financeiro são as que agem. Agem apesar dos riscos e sabendo deles. Erram e acertam, porém seus acertos costumam ser mais estrondosos que seus erros, gerando um total líquido positivo.

Eu sou empresário, e esta não é minha primeira empresa. Já tive um fechamento em minha história, um empreendimento que não deu certo. Não faliu, mas foi encerrado para que não perdêssemos ainda mais. Felizmente, o atual tem se mostrado um acerto. Minha esposa, cujo espírito empreendedor não é dos mais fortes, já me pediu que desistisse do negócio atual pelo menos umas 12 vezes. Hoje, em retrospectiva, ela me agradece por não lhe ter dado ouvidos. Mas eu poderia ter feito de acordo com a sugestão dela, e amargado prejuízo.

Por que estou escrevendo sobre isso hoje? Porque tive contato recente com duas pessoas que perderam a batalha com o Quando. Ambas por inércia – uma porque não desistiu de algo que já se mostrou impossível; a outra não se moveu por algo que tinha tudo para dar certo. O salário da inércia costuma ser a depressão, porque a inércia e o medo levam a um estado de constante arrependimento. A vida se torna um combinado de “eu devia ter feito” e de “eu não devia ter feito”, e nada mais. E cada nova decisão é vista como mais uma oportunidade de fazer a coisa errada e se arrepender.

Uma das chaves para o sucesso está no equilíbrio para escolher os Quandos, na sabedoria de avaliar riscos e na força para vencer a inércia

Você já se perguntou o porquê de Fulano continuar naquela situação que todo mundo vê que é insuportável, ou o porquê de Sicrano não tirar o traseiro da cadeira para nada, nem mesmo quando seu mundo está ruindo ao seu redor? O nome desse mal é inércia, a força que tenta manter o statu quo, seja ele de movimento ou de paralisia.

Uma das chaves para o sucesso está no equilíbrio para escolher os Quandos, na sabedoria de avaliar riscos e na força para vencer a inércia. É como um tripé, você precisa das três coisas ao mesmo tempo. E, muitas vezes, precisa passar tempo na companhia de quem já viveu situações semelhantes. Essa é a verdadeira mentoria, o verdadeiro coaching (quem me conhece sabe como odeio esse movimento que repete mantras e injeta clichês motivacionais na veia de seus seguidores).

Agora é com você.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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