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Correr por música
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Ouvir as canções preferidas ajuda os atletas na atividade física. Estudo brasileiro comprova o “doping” sonoro

Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
A analista de relações internacionais Sílvia Sprenger, de 40 anos, tem uma lista de músicas específica para cada tipo de atividade que pretende realizar

Há 30 anos estudos científicos confirmam que a atividade física acompanhada de música resulta em melhor desempenho dos seus praticantes. No ano passado, uma pesquisa feita por brasileiros e publicada pela revista norte-americana Perceptual and Motor Skills acrescentou mais uma boa notícia a essa constatação tão nítida para quem corre com fone nos ouvidos. O diferencial do estudo está nos resultados obtidos quando em companhia das músicas preferidas durante o exercício físico.

Usar as canções prediletas é a melhor forma de incentivar o corpo a seguir em movimento sem apontar cansaço. No estudo, feito com 15 atletas em sessões de ci­­clismo, foram medidas as fre­­quên­cias cardíacas (FCs) e a percepção subjetiva de esforço (que mede, pela opinião do avaliado, o quanto a atividade está fácil, moderada, fatigante, insuportável) em cinco sessões de treino.

As duas primeiras foram para determinar a intensidade de exercício na qual a FC de cada um ficaria entre 75 e 85%, determinando sua potência crítica, a ser utilizada nas sessões seguintes. Nas outras três, pedalaram até a exaustão nessa faixa de frequência. Na primeira, ouviram uma lista de suas dez músicas favoritas para praticar atividade física. Na segunda sessão, ouviram as que não gostavam. Na terceira; nada de som.

Em qualquer uma das situações, não houve alterações significativas na FC, o que indica que não houve melhora física por causa da música. Os esforços foram similares nas condições com e sem música. A percepção subjetiva do esforço é que comprova os efeitos do cenário musical para os desportistas. Os atletas sentiram-se mais cansados ao ouvir canções que não gostavam do que com a música preferida ou sem som. Os ciclistas também percorreram distâncias maiores com as melodias que mais gostavam.

Distração do cansaço

“A estratégia de uso da música é para tirar a atenção do foco interno [a preocupação com a frequência cardíaca, o cansaço muscular, a respiração mais ofegante] e deixar o foco externo. É uma distração que permite se concentrar no movimento”, explica um dos coautores do artigo e professor do curso de graduação em Educação Física da Universidade Positivo, Gléber Pereira.

Mas, se o que sai dos fones de ouvido desagrada o atleta não consegue se distrair do foco interno. Mais um motivo para caprichar na montagem das listas de canções nos aparelhos de mp3, como faz a analista de relações institucionais Sílvia Spren­­ger, 40 anos.

Ela cria sequências musicais para os treinos e dá atenção es­­pecial ao que vai ouvir nos dias de prova. “Costumo correr os 10 km, então, seleciono de dez a quinze músicas no ritmo que quero imprimir. As primeiras, mais lentas. Depois que já aqueci e entrei no meu ritmo de corrida, as mais agitadas. Para o final, mais força ainda” conta. Duran­te a corrida, ela gosta de rock, em diferentes versões. “Es­­cuto Ramones; The Killers não pode faltar”. Sílvia diz que os sons favoritos ajudam a “dar o gás” necessário para correr bem.

Seu técnico e coordenador do grupo de corridas da Academia Gustavo Borges, Marco Aurélio Piazza, indica a música na corrida especialmente para treinos de maior duração. “Para tiros ou os fartlek, o som não influencia tanto, pois é necessário estar atento às técnicas”, diz.

Pereira destaca, ainda, que a música tem efeito, digamos, “aditivante” às passadas quando se trata de um esforço moderado ou intenso – entre 60% a 85% da FC máxima. “A partir desse ponto, o esforço físico é grande e o que se ouve não é suficiente para distrair o atleta do esforço que o corpo está fazendo”, destaca.

Em tempo. A canção favorita para correr de Sílvia é Somebody Told Me (The Killers). Piazza não dispensa durante os treinos Sweet Child O’Mine, do Guns n’ Roses. Pereira prefere correr sem música, para ter melhor percepção do seu esforço.

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Cadenciado

Difícil é achar quem não goste de música. Mas não é sempre que ela deve estar aliada à corrida. Veja quando usar esse recurso:

ON (os prós)

– A música é estimulante e motiva. Também desvia a atenção do cansaço da atividade.

– Um playlist bem planejado pode ditar o ritmo de várias etapas de um treino. As mais calmas para o alongamento e o aquecimento. As mais agitadas para atingir maior velocidade. Retorna-se a um ritmo mais lento para o fim da sessão e os alongamentos finais.

– A música tira a monotonia de um longo treino sem companhia.

OFF (os contras)

– Quando se corre compartilhando espaço com automóveis, é mais seguro deixar o aparelho de mp3 desligado e evitar acidentes.

– A distração que a música causa pode tirar o foco de algo importante: a técnica de corrida. É interessante alternar trechos com som e outros em silêncio e ouvir a própria pisada e a respiração.

– Há provas que não permitem o uso de fones de ouvido. São poucas, é verdade, mas vale estar preparado para essa limitação.

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Playlist

Lista, cada um faz a sua. Pedimos ao jornalista Gustavo Ribeiro, colabora­­dor do Caderno de Esportes da Gazeta e que só corre com músicas escolhidas a dedo, que comentasse suas escolhas.

Pro Dia Nascer Feliz – Barão Vermelho

– Para aquele treino bem cedo. Essa faz vencer a preguiça antes mesmo de sair de casa.

Baba O’Riley – The Who

– Essa começa leve e depois acelera, para engatar um ritmo confortável.

Born To Run – Bruce Springsteen

– Correr é sinônimo de liberdade. E uma música com essa mensagem ajuda a ir além dos limites.

All My Loving, Can Buy Me Love e Any Time At All – The Beatles

– Pout-porri para corridas mais puxadas que exigem músicas com batidas rápidas.

Suspicious Minds – Elvis Presley

– Boa para aqueles tiros que parecem nunca acabar, assim como a música.

Comfortably Numb – Pink Floyd

– Nos dias em que penso que correr é coisa de doido, coloco Pink Floyd no fone para ter certeza.

Gravity – John Mayer

– Depois de uma prova ou de um longão, o regenerativo pede músicas tranquilas. John Mayer é isso.

Nina – Felixbravo

– Música para caminhar lentamente depois daquele tiro de acabar com o fôlego.

Cheiro do Mato – Blindagem

– Correr sob as árvores, nos parques ou no asfalto molhado da chuva tem tudo a ver com essa música.

Live And Let Die – Paul McCartney

– Ideal para combinar as batidas da canção com as passadas naqueles treinos sem preocupação com planilha ou desempenho.

Interatividade

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