• Carregando...
Marginalizada
| Foto:
Fotos: Ivonaldo Alexandre e Felipe Rosa / Arte sobre foto: Edilson de Freitas/ Gazeta do Povo
A marcha atlética serve como uma boa alternativa para quem é resistente e busca competitividade. Mas modalidade ainda é malvista por parte do público

Uma das provas mais exaustivas do atletismo de velocidade se faz… caminhando! A marcha atlética é uma modalidade olímpica e, na teoria, teria o mesmo peso de corridas como os 100 metros rasos e a maratona. Na prática, o ouro nas extenuantes provas de 50 km e 20 km não tem o mesmo prestígio. Mesmo entre os próprios atletas.

Esse caráter marginal da marcha atlética é o que leva um grupo – seleto – de atletas a abrir mão dos ritmos acima dos 15 km/h pelas passadas curtas e o rebolado. Uma competição nacional, classificatória para Sul-Americano, Mundial e até Olimpíada não costuma ter mais de 20 competidores. A baixa concorrência estimula corredores com boa resistência física a trocarem outras provas de fundo pela marcha.

O número pequeno de competidores em grandes provas é inversamente proporcional ao trabalho que dá se preparar para uma disputa dessas. “Ao contrário de ou­­tros esportes, até mesmo a corrida, que quando se cansa é possível diminuir a concentração e a qualidade técnica, na marcha, ela precisa ser constante até a linha de chegada, sem falhas”, explica o ex-marchador e especialista em treinamento desportivo Claudio Luis Bertolino.

Claudinho, como é conhecido, tem uma assessoria de corrida em Londrina e destaca que, no Brasil, a modalidade é sub­­aproveitada. Um estudo acadêmico publicado por ele em 2002 mostrou que investimento em estrutura e recursos humanos a curto prazo – dois anos – fizeram com que os atletas mexicanos subissem consideráveis posições nas principais competições mundiais. Para ele, o mesmo poderia acontecer no Brasil, se o esporte fosse melhor tratado.

“Segue tudo muito parecido. Tanto com os mexicanos sendo os latino-americanos com melhores resultados, como o quadro brasileiro, em que o esporte é relegado a segundo plano”, diz Claudinho, 48 anos. No Mundial de 1997, ele fez sua melhor marca, 1h22min31s nos 20 km da marcha. Um ano an­­tes, representou o país na Olim­­píada de Atlanta, na qual terminou no 49.º lugar.

Preconceito e pedras

Uma das razões que impedem a marcha atlética de ganhar mais praticantes, espaço na mídia e atenção de investidores passa por uma questão que extrapola as pistas: o preconceito. A requebrada exigida pela técnica do esporte – única forma de cumprir a obrigação de não tirar os dois pés do chão (ponta do pé de trás não pode perder contato com o solo antes de o calcanhar do pé da frente tocar o chão) – ainda é malvista por uma parcela do público. A ponto de já ter causado situações constrangedoras, algumas de risco aos atletas.

“Há quem xingue, quem provoque na rua. Uma vez, me atiraram uma pedra enquanto eu treinava. Há, sim, ainda muito preconceito, falta de entendimento sobre o esporte. Mas há também quem tenha curiosidade”, diz o técnico em corrida de rua da Trai­­ner Assessoria Esportiva, Samir César Sabadin.“Ainda assim, os benefícios são maiores que os dissabores”, garante.

Samir conta que escolheu a marcha atlética como oportunidade de aproveitar a resistência fí­­sica para se destacar no atletismo. Foi a modalidade que lhe garantiu a bolsa de estudos na universidade.

A marcha atlética exige musculatura distinta da corrida, como a anterior da coxa, requisitada pela perna de ataque, para que fique totalmente esticada, evitando a flutuação do atleta.

Com o requebrado, o quadril e a lombar precisam de fortalecimento, para evitar dores. “Tem-se de fazer trabalho de base para o abdome, atividades de isometria e fortalecimento muscular. A musculatura da canela também ‘queima’ durante as competições”, diz Sabadin. “O impacto é muito me­­nor na marcha que na corrida. Então, em termos de lesão, o índice é muito menor”, completa Clau­­dinho.

Para inglês ver

A marcha é uma criação inglesa, com os soldados da infantaria, os footmen, cobrindo longas distâncias. Como esporte, surgiu no final do século 19. Entrou para a lista de modalidades olímpicas em 1908, na primeira vez que Londres sediou os Jogos, na prova masculina. Só 84 anos depois foi realizada a primeira disputa olímpica entre mulheres (em Barcelona-1992). Atualmente é disputada entre homens nas provas de 50 e 20 km e, no feminino, 20 km. O atual recorde mundial dos 20 km é do equatoriano Jefferson Perez, 1h17min21s. O menor tempo feito nos 50 km é de 3h35min29s, feito do russo Denis Nizhegorodov.

Copa Brasil

Marcha abre o calendário

A prova que abre o calendário de competições oficiais em 2012 é justamente a marcha atlética. Será realizada em Barueri (SP), amanhã, a Copa Brasil de Marcha Atlética e contará com os principais marchadores brasileiros em busca de índice para a disputa da Copa do Mundo e o índice olímpico nos 50 km, que é de 3h49min32s.

Um dos destaques é o potiguar Cláudio Richardson dos Santos, heptacampeão da Copa Brasil, com presença confirmada, assim como o vice-campeão do ano passado, Luiz Felipe dos Santos, e o curitibano Samir César Sabadin, bronze em 2011.

“No ano passado, a prova foi extremamente desgastante. No final, cheguei chorando, mas já não tinha nem lágrimas. Foi muito desgastante não só fisicamente, mas também psicologicamente. Tomei duas das três faltas possíveis antes do décimo quilômetro. Passei 40 km pressionado para não ser desclassificado”, lembra Sabadin.

O recordista nacional da prova é Mário José dos Santos Júnior (com o tempo de 3h58min30s), que também vai competir em Barueri. “Torço por um clima ameno, já que isso é fator determinante. Eu diria que as condições climáticas têm 60% de influência numa disputa. Mas a previsão diz que vai esquentar. Espero que os meteorologistas errem”, diz o atleta.

O índice olímpico estabelecido pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) exige o término da prova dez minutos antes do que a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), de 3h59min cravados, o que tem gerado preocupação entre os competidores.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]