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Por André Rodrigues 

“Fica registrado para as páginas da história que milhares de brasileiros saíram em protesto no mês de junho”, escreveu Fernanda Trisotto no artigo “2013, o ano da rua”. Sim; fica registrado e testemunhado, principalmente com as muitas imagens captadas nos vários momentos dessas manifestações de indignação popular.

Os protestos ocorrem Brasil afora com a motivação inicial do alto custo das passagens e a baixa qualidade dos transportes públicos. Questionar o preço da passagem não foi o bastante e as reivindicações ganharam outros escopos políticos. Cobrou-se melhorias nos serviços públicos, na educação, no setor da saúde, contra os gastos na Copa das Confederações, Copa do Mundo, entre outras reivindicações como arquivamento da PEC 37. Há quem afirme ter presenciado um dos maiores movimentos populares dos últimos anos, superando (em número e teor) o Fora Collor, Diretas Já e a celebre Passeata dos Cem Mil (1968).

Curitiba também viveu esse momento de inquietação social e uma multidão de curitibanos seguiu em passeata pelas ruas. Jovens, adultos, idosos e até crianças levantaram suas bandeiras, faixas e a voz. Principalmente nos dias 17 a 21, que contou com a presença de milhares de pessoas caminhando e cantando nas principais avenidas da capital.

Muitos repórteres fotográficos estiveram nas ruas, na linha de frente. Acompanhamos tão de perto que a roupa ficou impregnada com o cheiro de gente e do gás lacrimogêneo. Trabalhamos em condições como chuva, pressão do fechamento, ameaças – sim houve ameaças contra a imprensa. Desviamos de pedras e das balas de borracha. Em determinado momento, a câmera, a lente, o cartão, tudo travou. Mas, a foto chegou. Chegou até a redação e ao conhecimento do leitor.

Corremos para fotografar o manifestante com a máscara do Guy Fawkes, de V de Vingança (filme), lutamos acotovelados no meio a multidão para chegar perto do rapaz que carregava o cartaz criativo, a faixa. Subimos ladeiras, prédios, corremos de torcedores com pedaços de pau e fogos de artifício, entre outras peripécias. Isso para ouvir mais de perto “a voz das ruas” e transformar em imagens para a posteridade.

Como em outros movimentos como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street e os Indignados, na Espanha, os protestos no Brasil levaram milhões às ruas e à internet, pois os eventos foram amplamente divulgados com hashtags como #VemPraRua, #OGiganteAcordou e #MudaBrasil. Dirão: nunca na história desse país…. Acredito que fomos felizes por testemunhar (e fotografar) jovens e velhos numa ação conjunta pedindo por demandas específicas, o fim da corrupção e um Brasil melhor.

Tanta gente na rua mobilizada acabou por acarretar imagens marcantes. Entretanto, assim como em outras capitais, o movimento acabou no embate entre manifestantes e polícia e/ou manifestastes versus manifestantes e/ou manifestantes e polícia versus imprensa – sim, por incrível que pareça. No melhor mote de um movimento livre e democrático: que é ir às ruas protestar, assim como o trabalho de registrá-lo, a intimidação aos repórteres ocorreu – A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou um levantamento apontando que ao menos 70 casos de agressão deliberada a jornalistas foram registrados durante os protestos no país em junho. Segundo a entidade, 78,6% foram provocados por forças de segurança. ( Portal Imprensa)

Na capital paranaense, o palco do enfrentamento entre manifestantes e o “poder” foi o Centro Cívico, na Praça Nossa Senhora do Salete. Um grupo tentou invadir a sede do governo, mas viu-se frustrado com a ação da Tropa de Choque. Nesse confronto, travado num corredor de acesso ao Palácio, percebemos o quanto estávamos expostos. Fiz uma foto na tentativa de mostrar isso. De um lado os manifestantes, que atiravam tudo que podiam contra a gente. Do outro, os polícias preparados para uma ação. Ficamos ali no meio, tentando fotografar, mediando.

No dia 21 de junho, a Avenida Cândido de Abreu foi tomada pela marcha de manifestantes – pelo menos 15 mil pessoas. O ato acabou no confronto direto entre manifestantes e polícia militar. Estações-tubo foram depredadas, o prédio do Jornal do Estado e da prefeitura foram alvo de vandalismo e uma farmácia e um restaurante foram saqueados. Era o povo e sua indignação aflorando.

Registrei um pouco de tudo que presencie, de lances mais triviais aos mais intensos. Na maioria das vezes optei por fotografar bem próximo – empresto a máxima que “se sua foto não é tão boa o suficiente é porque você não está perto o suficiente, de Robert Capa. Pois bem, na maioria das vezes optei por uma 28 mm, 35 mm. Quando não deu ( e forma vários momentos), a 70-200 mm é que fez a vez.

Os meses de junho e julho ficarão na memória e no imaginário popular do ano em que o “gigante acordou”. Dos protestos ocorridos em 2013, temos imagens que não vamos esquecer. O recado foi dado e a história registrada. Em 2014 haverá espetáculos e eleição. Então, continuemos lúcidos.

“A fotografia é um tipo de documentação que revela o tempo em que vivemos. Nós fotógrafos somos historiadores visuais.” – Ara Güler (1926) – fotógrafo turco


Até o próximo post!

André Rodrigues

Prefeitura municipal de Curitiba foi depredada.

Um grupo de manifestantes foi recebido com agressões por integrantes da torcida organizada Os Fanáticos, do Atlético Paranaense.

Policial recolhe pedras atiradas

Manifestante exibe cápsula de gás lacrimogêneo.

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