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Salvo pela pólo azul da Gazeta
| Foto:
Albari Rosa
Albari Rosa e Marcio Reinecken no estádio Soccer Citty e Johannesburgo.

Salvo pela pólo azul da Gazeta

Soccer City, um ano depois – ou quase isso. Aqui estamos de novo, mas parece que não passou tanto tempo assim.

A minha última imagem ainda está bem viva: Espanha 1, Holanda 0. Final da Copa do Mundo na África do Sul. Fúria campeã. Nada mal para quem, na época, ainda trazia a mágoa da eliminação vexamosa para a Laranja, uma semana antes.

Meu amigo Albari Rosa, e também companheiro de viagem nesta nova empreitada (aliás, este blog é dele, rs), tinha vivido ali uma emoção bem maior: a vitória da seleção brasileira contra o Chile, por 3 a 0, nas oitavas-de-final.

Naquele momento, foi a garantia de que continuaríamos todos no trecho. Principalmente ele e o Robson De Lazzari (hoje na RPC TV), que estavam atrelados ao sucesso do time de Dunga para manter a equipe da Gazeta unida.

Na África do Sul, no ano passado, estávamos em seis cobrindo o Mundial para o jornal. Agora, voltamos somos somente eu Marcio e o Albari. Eu escrevo, ele registra as imagens para que as coisas sempre fiquem melhores, mais palpáveis.

Foi assim que descobrimos uma parte deste país que apenas o futebol, por si só, nunca mostraria. Entre junho e julho de 2010 fomos encarregados, na grande maioria das vezes, de cobrir o inusitado, o diferente. Cultura, histórias, personagens. Bola mesmo, só no dia do jogo.
E talvez tenha a ver com essa nova escalação, que nós encarregou de analisar a África do Sul de novo, um ano depois.

Isto é apenas o motivo dessa foto. Mas é a história dela que nos fez escrever e publicar este texto antes da hora, adiantando um pouco do que será publicado no papel, mês que vem.

Note que o Albari é o cara de camisa azul marinha. Preste bem atenção nesta pólo já um pouco surrada, que também foi parte do uniforme que usamos no Mundial de 2010. Pura coincidência – se é que isso existe –, mas nos livrou a cara logo uns 5 minutos depois do registro.

Resumo rápido da história: Fomos fazer uma visita surpresa no Soccer City. Entramos daquele jeito que havíamos aprendido em nossa primeira passagem por aqui: em um horário mais calmo (era pouco depois do meio-dia), falando sem parar o nosso inglês macarrônico e passando confiante pela segurança como se fizéssemos isso diariamente.

Deu certo, pois já estávamos fazia uns 30 minutos zanzando pelas arquibancadas do palco mais caro daquela Copa. Eu olhando a construção e lembrando nostalgicamente do Mundial. O Albari numa missão mais nobre: achar o melhor ângulo, a melhor luz, o melhor Soccer City para a nossa matéria.

Foi quando começou uma movimentação lá embaixo. Alguns engenheiros, gente de bigode que, sei lá porque, sempre me parecem autoridades. Estavam vendo o gramado, ainda havia resquícios do show do U2, umas duas ou três semanas atrás – foi isso que me falaram aqui, mas como só vou ligar a internet para enviar o texto, deixo a vocês a tarefa de, se acharem isso realmente importante, fazerem a por conta própria a busca no google.

Para piorar, eles estavam bem próximos a única saída disponível. Não havia como escapar, os caras já estavam olhando pra gente mesmo, então o negócio era encarar.

Por um lado, as fotos já habitam a memória da máquina fotográfica feitas. Por outro, ainda restava o consolo de que não precisaríamos voltar mais ali. Mas é sempre chato levar uma mijada. A gente aguenta e já está até acostumado, mas, bah! E ainda do cara que cuida do gramado…

Mas é assim também: depois que não tem saída, a gente aproveita o tempo pra ir se preparando. Enquanto descíamos as arquibancadas, eu vinha armando as frases em inglês para o cara não me pegar de surpresa. E os caras nos olhando. Tinha umas três ou quatro prontas na cabeça. e Nós olhando os caras.

Mas, pouco antes de chegarmos no nível do gramado, o Albari me fala baixinho, com uma risadinha. “Eu estou com a camisa igual a dos caras!”.

Era verdade. Das seis pessoas ali, quatro tinham uma pólo azul marinha. A única diferença era que, no peito deles, estava escrito em branco: AV Manegment. No peito do Albari: Gazeta do Povo. Mas não era muito fácil de ler. Eu mesmo só consegui quando estávamos bem pertinho uns dos outros.

Foi bem na hora que o Albari levantou a mão esquerda na altura do peito e disse: “Hi”. Eu fiz aquele sinal universal mexendo a cabeça. E saímos com aquela mesma confiança de quem faz aquilo diariamente: tirar fotos de um estádio lindo, mas praticamente inutilizado.

Marcio Reinecken

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