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Estava aí acompanhando com uma boa dose de preguiça e outras tantas de um patrimônio histórico cultural nacional, ora de Minas, ora da Paraíba, ora daqui de Morretes, no Paraná mesmo... Mas, espera, onde estava mesmo?
Ah sim, acompanhando as polêmicas nada futebolísticas envolvendo a CBF: denúncias de possível corrupção, envolvendo também um dos nossos imperadores, o ministro Gilmar Mendes; a indefinição do próximo técnico da seleção; os absurdos do VAR; quando, de repente, do nada, veio a notícia de que a entidade pretende mudar a cor azul do nosso mítico manto sagrado para vermelho.
Poucas coisas me fariam pegar em armas, esta seria uma delas, desconfio. Mas, como sou brasileiro, desisto antes de começar e opto pela praia, a rodada da semana do campeonato nacional, sempre com essas doses de nosso patrimônio harmonizadas com indignação, frustração e impotência cínica. A CBF me obriga a beber.
Essa barbaridade me fez lembrar de um amistoso que certa vez fizemos contra a simpática Irlanda do Norte, nos idos de 2004. País simpático porque todo país com fama de bêbado é simpático. Daí porque me interessei em assistir à partida. Bêbado estivesse, o jogo teria sido muito bom.
Poucas coisas me fariam pegar em armas; camisa vermelha para a seleção seria uma delas, desconfio. Mas, como sou brasileiro, desisto antes de começar e opto pela praia
Enfim, lembrei daquela partida porque havia uma discussão irrelevante à época justo sobre a nova camisa do escrete. Havia um cágado em forma de comentarista em um dos canais de tevê, não lembro qual, que não tinha gostado porque tinha muito verde na camisa. Concluí que ele não gostava da bandeira nacional. Mas as mudanças na época eram meros detalhes se comparados à insanidade de usar o vermelho como cor da nossa segunda camisa.
Eis que no meio da crônica me chega a notícia de que a CBF recuou – como seu time diante de adversários poderosos, como a Venezuela e a Guiana (a Francesa, não a Brasileira). Parece que desistiram da ideia. Tarde demais para eu desistir da minha. Preciso de mais outra dose de patrimônio histórico cultural nacional. Só um instante, já retorno.
* * *
Voltei. Mudo de assunto ou sigo bebendo? Pergunta idiota.
Eu encasquetei mesmo com o comentarista naquele dia. Não, leitor, não tenho tão boa memória assim, apenas achei uns rabiscos meus daquela época, publicados em um blog não mais existente, desaparecido como o medo das demais seleções contra a nossa.
Nos rabiscos, a anotação de um comentário do sujeito, de que a bola estaria diferente porque os jogadores não conseguiam dominá-la “direito”. Hoje, não haveria como tentar se enganar e nos enganar de forma tão ridícula. Diferente é a qualidade dos nossos jogadores atuais comparados aos do passado.
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Aliás, dia desses assisti em algum desses canais de esportes a um programa de arquivo em homenagem ao Sócrates – o doutor, não o filósofo. Durante a noite, discursos, no dia seguinte, futebol e churrasco com os amigos, vários craques do passado. Sócrates sempre aparecia com um copo na mão. Sempre falando torto. Nunca bêbado. Não é à toa que ele inventou o passe de calcanhar.
Eu não sei quanto terminou Brasil e Irlanda do Norte naquele dia. Saí aos 20 minutos do segundo tempo para tomar uma. O futebol é um vício, já dizia Garrincha – quem, aliás, entrou para a história graças também à bebida. Morreu por ela, mas não teria sido o Garrincha sem, desconfio.
Aonde quero chegar com essa conversa? Ora, a lugar nenhum, como acontecerá com as denúncias de corrupção na CBF. Resta-nos embriagar com o orgulho surrado do patrimônio histórico cultural nacional. Aliás, que deselegância a minha: servido? É feriadão, aproveite.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos