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Foto: Ramón Vasconcelos/TV Globo/Divulgação
Foto: Ramón Vasconcelos/TV Globo/Divulgação| Foto:

Boa pergunta, não? Quem a fez foi a jornalista Glória Maria em resposta aos que exigiram que apagasse um post no instagram em que compartilhou uma frase atribuída ao ator Morgan Freeman: “O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela, ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece”. Uma obviedade, claro, menos para os politiqueiros da correção, sempre intolerantes contra quem parece divergir de seus mandamentos sagrados e tentam impor aos outros que pensem como eles. Como bem concluiu a jornalista: “Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar!”

Isso me lembrou um episódio ocorrido há 20 anos atrás, na PUC do Rio de Janeiro. Três ou quatro amigos fizeram um jornalzinho universitário chamado O Indivíduo. Na primeira edição havia um ensaio contra um evento na faculdade intitulado “Semana de Consciência Negra”. A reação não demorou. Horas depois de distribuírem o jornal foram cercados por umas 50 pessoas gritando “Nazistas! Fascistas!” e tentando agredi-los. Tomaram um banho de cuspe, um deles levou um soco, mas a segurança da universidade interveio a tempo de evitar fossem linchados. O pior, porém, foi a reação da reitoria da faculdade à época, bem como de vários formadores de opinião.

O vice-reitor comunitário assim disse aos criadores do jornal: “Parece que vocês falaram mal da semana de consciência negra e isso não pega bem, né?” O reitor, por sua vez, em matéria no Jornal do Brasil, teria dito: “O jornal mostra um individualismo absoluto e um desprezo pelo coletivo, a começar pelo nome.” Para completar, decidiram punir os responsáveis. Não, não os que tentaram linchar os jovens, mas os jovens que ousaram discordar da “consciência negra”. A coisa deu pano para manga e vários artigos na imprensa carioca saíram cobrindo o assunto, com opiniões de vários colunistas, na sua maioria contrários à liberdade de pensamento e expressão dos jovens. Quem quiser saber mais do episódio é só consultar os arquivos do site original do do jornal: www.oindividuo.com.

Na verdade eu já estava com a recordação desse episódio em mente desde a semana passada, quando participei de um evento organizado por alguns alunos da UFPR no campus do Centro Politécnico, com exibição do documentário O Jardim das Aflições, sobre o pensamento de Olavo de Carvalho, seguido de um bate-papo sobre o filme. Como tem sido noticiado, eventos similares foram e têm sido realizados em várias universidades públicas do país, gerando reações como aquela de 20 anos atrás na PUC do Rio, ou seja, com totalitários tentando impedir que o filme seja exibido, com violência se preciso. Até agora não foram bem sucedidos em nenhum lugar e aqui na UFPR, graças a Deus, o evento aconteceu sem problema algum, pelo contrário.

Nesta semana, Pedro Sette-Câmara, um dos responsáveis por O Indivíduo, revisitou o episódio da PUC do Rio no site citado, fazendo uma reflexão do que teria mudado de lá para cá, deixando uma pergunta: “Se você quer escrever, está condenado a só falar para quem já concorda com você, para pavonear sua capacidade de expressar melhor aquilo que as pessoas nem sabem que pensam, ou pode dialogar com pessoas que realmente discordam de você?” Outra pergunta excelente, não? Antes desse evento da UFPR eu responderia sem precisar pensar muito que estamos condenados, sim. Entretanto, ao fim do evento um rapaz que participava me procurou, dizendo ser de esquerda e que discordava de várias coisas que foram ditas, mas querendo dialogar, ao menos abrir essa possibilidade.

Fiquei muito feliz. Já tinha desistido de esperar algo assim, pois todas as minhas tentativas de conversar, debater com alguém que discorda foram ignoradas, quando não negadas. Já estava até temendo que a nascente pluralidade de pensamentos e opiniões não venha a vingar, amadurecer ao ponto da aventura da conversação entre progressistas e conservadores, direitistas e esquerdistas possa se tornar algo comum, normal e até banal. Ainda não é, nem existe essa conversação, mas voltei a ter esperança. Talvez quando ruir o império do politicamente correto, esse alfabeto dos totalitários covardes, isso seja possível.

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