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Monumento em homenagem a Paulo Freire. Foto: Brandizzi/WikimediaCommons
Monumento em homenagem a Paulo Freire. Foto: Brandizzi/WikimediaCommons| Foto:

“Eu preferia dizer que não tenho método. O que eu tinha, quando muito jovem, há 30 ou 40 anos, não importa o tempo, era a curiosidade de um lado e o compromisso político do outro, em face dos renegados, dos negados, dos proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O que eu tentei fazer, e continuo fazendo hoje, foi ter uma compreensão que eu chamaria de crítica ou de dialética da prática educativa, dentro da qual, necessariamente, há uma certa metodologia, um certo método, que eu prefiro dizer que é um método de conhecer e não um método de ensinar.”, disse o patrono da educação brasileira, Paulo Freire, em entrevista a Nilcéa Lemos Pelandré contida em sua tese de doutorado Efeitos a longo prazo do método de alfabetização Paulo Freire, datada de 1998 e defendida perante a Universidade Federal de Santa Catarina.

Esse trecho é citado também no ensaio escrito pelo padre e doutor em filosofia pela PUC-RS e Universidade do Porto, de Portugal, Cléber Eduardo dos Santos Dias, para o livro Desconstruindo Paulo Freire, publicado recentemente pela História Expressa. As passagens destacadas em negrito demonstram que para desconstruir Paulo Freire basta usar um método de conhecimento que não sei se era bem o que ele citou acima, mas que dá conta tranquilamente para esta tarefa, qual seja: a leitura do que o próprio sujeito disse e escreveu. E nem precisa muito esforço, tem coisas que são bem claras e diretas, como a primeira frase acima em que confessou que nem método de ensino tinha, embora tenha ficado famoso justamente por deixar pensarem que tinha um. Só isso já deveria servir para desconstruir inteiramente Paulo Freire.

Se não tinha método de ensino, então é óbvio que o seu “compromisso político” – leia-se, ideológico – é a verdadeira essência de sua “pedagogia”. Se tem algo que se torna irrefutável depois da leitura de Desconstruindo Paulo Freire é isso: sua pedagogia é ideológica, não educacional. O historiador Thomas Giulliano, organizador da obra e autor do ensaio de abertura do livro, demonstra que a suposta pedagogia de Freire é apenas um “cavalo de tróia” para a pregação de sua ideologia, a verdadeira essência de seu pensamento e não-método de ensino. Por isso, com acerto Thomas o chamou de patrono do pau-oco, uma imagem análoga à do cavalo de tróia e que melhor se aplica ao caso brasileiro. E o que vai por dentro dessa aparência pedagógica nada mais é, conforme o historiador, do que uma “oficina marxista, produtora de fanáticos que dividem os homens em dois campos de acordo com a atitude que eles têm a respeito da causa sagrada”.

A fala destacada de Freire prova o quanto fazia isso mesmo, dividia o mundo em oprimidos ou opressores e toda sua pedagogia parte desse pressuposto tosco e fanatizante. Não à toa sua obra mais famosa é o panfleto ideológico chamado Pedagogia do Oprimido, cujo segundo capítulo, em que trata da “educação bancária” foi analisado no ensaio do professor Rafael Nogueira, formado em Direito e Filosofia, que depois de demonstrar que “sua proposta não fica clara ao longo do livro – nem de nenhum outro –, porque ela tem mais conteúdo datado e ideológico do que técnico e metódico, e porque, enquanto teoria, contradiz sua própria ideia central”, concluiu dizendo: “Talvez esteja na hora de reconhecermos que, como educador, ele foi um bom revolucionário”.

E foi mesmo, como se comprova ao conhecer melhor sua história de vida e de atuação política-que-fingia-ser-pedagógica. O mundo político e religioso de Paulo Freire, construído a partir de sua fé marxista, são tratados nos ensaios do reconhecido articulista e cientista político membro da Academia Rio-Grandense de Letras, Percival Puggina, e do já referido padre Cleber Eduardo dos Santos Dias. Dessa leitura, aliás, o leitor se deparará com uma história do Brasil dos últimos 70 anos, pelo menos, que duvido lhe tenha sido contada em sala de aula. A aproximação entre comunismo e catolicismo, com este servindo ao primeiro, realizada por agentes como Paulo Freire explicam o desenvolvimento e consolidação de um projeto político esquerdista que se criou com bases religiosas e culturais para eclodir politicamente com o PT e outros partidos-satélites, como o atual PSol.

Essa história também serve para desconstruir o mito da originalidade e suposta eficiência do não-método de ensino de Paulo Freire. Outra tese citada pelo padre Cleber, agora de mestrado de autoria Sonia Couto Souza Feitosa, defendida na USP em 1999, demonstra que a cartilha de Paulo Freire foi mais uma reprodução de outra produzida em Cuba, “legitimando o processo revolucionário”, segundo a autora. A lenda sobre Paulo Freire tem seu gênesis no resultado do seu curso de alfabetização de adultos realizado em Angicos/PE, em 1963, que teria alfabetizado os alunos em 40 horas e que foi encerrado com a presença do então presidente da República, João Goulart, alguns governadores e a imprensa nacional e internacional. Esse curso teria sido o pioneiro, mas conforme se provou em Desconstruindo Paulo Freire, não foi o primeiro, pois já havia sido testado antes em Poço da Panela, no Recife, sendo que o resultado ali foi diverso, conforme a equipe de trabalho constatou: “as quarenta horas eram insuficientes para a alfabetização”. A insuficiência se provaria quando se exportou o não-método de Paulo Freire para a África, tendo sido um fracasso. Em Guiné-Bissau o fiasco foi tão grande que nem o próprio Freire pôde negar, justificando o malogro de maneira patética, alegando que não funcionou porque a língua portuguesa seria opressora naquele país…

Mas e quando funcionou, como em Angicos, no que de fato resultou a alfabetização freiriana? Precisamente no que seu criador queria: alfabetizados apenas no nível mais básico, mas muito politizados, saindo com uma visão do mundo completamente entortada. Como bem concluiu o padre Cleber: “sabem ler, mas não entendem. E, se ‘entendem’, é porque alguém os induziu a interpretar com cores carregadas de certas tintas o mundo em que vivem.” Ou seja, tornaram-se analfabetos funcionais, algo que é hoje uma epidemia no país, conforme constatou o último INAF (Indicador de Analfabetismo Funcional), que apontou que apenas 8% dos brasileiros tem plenas condições de compreender e de se expressar.

Há estudos pesquisando o quanto a aplicação do não-método freiriano teria contribuído ou mesmo causado esse estado de coisas, citados em vários dos ensaios do livro, mas só o fato do homem ser lido e estudado em tudo quanto é faculdade brasileira, conforme se prova no substancioso apêndice de Desconstruindo Paulo Freire, e além disso ser considerado, por lei, o patrono da educação brasileira, torna difícil demonstrar que ele não teria culpa nisso. Nesse sentido, é fundamental não confundir o não-método freiriano com outros métodos pedagógicos muito em voga no Brasil há décadas, como os construtivistas. No livro, o doutor em Ciências Sociais, Roque Callage Neto, enfrenta a suposta teoria e metodologia educacional freiriana e sua relação com o construtivismo, particularmente aquele criado por Jean Piaget, concluindo que “embora contendo elementos genéricos, não se pode falar de uma teoria e metodologia construtivistas no trabalho de Paulo Freire”.

A última passagem que destaquei da fala de Paulo Freire com que iniciei este artigo diz respeito à sua “compreensão crítica” da prática educativa. É evidente que essa compreensão crítica não é outra senão a marxista da qual sempre partiu e para a qual sempre retornou e que fica mais do que provada pelos ensaios de Desconstruindo Paulo Freire. No materialismo histórico e dialético de Marx a crítica do status quo, da estrutura da sociedade, é o ponto de partida para tudo. Mas e quando essa “compreensão crítica” se olha no espelho? Não se olha, é claro. Tente encontrar estudos e pesquisas com essa “compreensão crítica” das ideias e feitos de Paulo Freire e dificilmente encontrará outro que não seja este Desconstruindo Paulo Freire, título mais do que irônico, mas preciso: a obra entrega exatamente o que apresenta em seu nome.

Mas não apenas. Se a crítica à Paulo Freire é mais do que bem feita e sua desconstrução é mais do que bem sucedida, o livro ainda consegue trazer mais do que isso, com o ensaio do professor Clístenes Hafner Fernandes, A educação clássica é a opressão da ignorância, em que inicia dizendo que: “o que eu quero aqui é pôr algo no terreno que fica baldio depois da demolição”. Mas o que se propõe não é nenhuma invencionice ideológica “à direita”, mas tão-somente “olhar para trás e ver o que deu certo”. A reconstrução da educação brasileira só acontecerá se deixarmos de lado as tentativas de reinventar a roda e recuperarmos a roda que sempre funcionou, a dita educação clássica, desde que plantada no solo das circunstâncias do presente, é claro, pois como diria Ortega y Gasset, “se não salvo minhas circunstâncias não salvo a mim mesmo”.

É nessa circunstância atual em que vivemos, de uma tentativa de renascimento cultural brasileiro, que vem surgindo vários professores como o próprio Clístenes Hafner Fernandes, Thomas Giulliano e Rafael Nogueira, e iniciativas educacionais como o Historia Expressa que editou essa obra, cujo propósito não é outro senão contribuir para o resgate e reconstrução da verdadeira educação, retornando ao sentido original da “pedagogia do oprimido pela ignorância que busca a autonomia para que, por suas próprias pernas, possa buscar o que é bom, belo e verdadeiro”, como concluiu o professor Clístenes em seu ensaio. E aos que certamente questionarão: “quem eles pensam que são para falar assim de Paulo Freire?”, vale lembrar que o patrono do pau-oco da educação brasileira não tinha formação em pedagogia e sua autoridade na área foi construída sendo autor de cursos e livros, exatamente como os autores de Desconstruindo Paulo Freire vêm construindo a sua.

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PS.: O lançamento do livro Desconstruindo Paulo Freire em Curitiba será na FNAC do Park Shopping Barigui, sexta-feira, 18 de maio de 2018, a partir das 18h30.

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