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Quando me dispus a resenhar neste espaço os livros lançados por autores integrantes, gostem eles ou não, do que se convencionou chamar de “nova direita”, não precisei pensar muito para concluir que seria um erro definir um critério de seleção de obras e/ou autores a serem lidos e analisados. Por duas razões.

Primeiro, porque, embora este fenômeno já tenha alguma história, com ideias e autores mais destacados e influentes, ainda está nos seus primórdios, sem identidade clara, se é que alguma será formada, definindo-se por enquanto mais em função daquilo que combate do que pelo que é ou deveria ser. Logo, é possível que o que pareça irrelevante hoje se revele fundamental mais à frente. Assim, definir de antemão um critério de relevância dessas obras ou autores seria um recorte arbitrário de uma realidade indefinida que me tornaria mais um agente pretendendo conduzir em alguma medida o processo do que tentando entendê-lo minimamente.

Segundo, porque não vivemos num contexto cultural saudável em que a mensuração, comparação e depuração do que presta são realizadas naturalmente com resenhas e críticas viabilizando um diálogo entre autores e intelectuais que resultaria nisso. Procure resenhas ou críticas do que se produziu “à direita” do espectro cultural nesses anos e muito pouco encontrará. E não me refiro ao mainstream cultural de cadernos de jornais, revistas, programas de tevê e de rádio, cujo rebaixamento da cultura à ideologia se tornou o próprio ar que respiram, mas ao próprio meio “direitista” que pouco espaço ocupa desse mainstream, mas se esparrama e se multiplica pelas franjas dessa mesma cultura. Quando você encontra algo, é mais aplauso sem dizer por que aplaude do que outra coisa. É só propaganda, no fim das contas. A “nova direita”, se é que se lê, pouco reflete sobre si, pouco discute entre si, menos ainda faz autocrítica.

Pior do que isso. O que antes eu apenas conjecturava começou a se tornar uma certeza diante de um fato que se repetiu com mais frequência do que eu imaginava. Para escrever várias dessas colunas já publicadas e por publicar sobre a “nova direita”, entrei ou tentei entrar em contato com vários personagens para obter mais informações ou confirmar as que já possuía. Esperava encontrar alguma resistência e desconfiança, o que é normal, mas nada que fosse intransponível. Entretanto, a preocupação demonstrada com a “narrativa” que seria “dada” se revelou muito maior do que o esperado, chegando ao ponto de alguns me pedirem para enviar o texto antes para só então avaliar se falariam.

Diante da quantidade de brigas recorrentes que acontecem nesse meio, até compreendo o temor de alguns de se verem associados a Fulano ou Beltrano, ou de serem identificados como parte disso ou daquilo, mesmo quando é um fato tal proximidade ou participação em algum momento do passado. Pode ser compreensível, mas é injustificável, pois na prática significa querer controlar quais fatos gostaria que fossem conhecidos e considerados, forçando assim que uma dada narrativa se imponha como a verdade. Ou seja, no fim das contas o contexto interno dessa “nova direita” espelha à perfeição a ordem atual da cultura brasileira rebaixada à pura ideologia, seja esta qual for, na qual se tornou “normal” ignorar ou claramente censurar ou sabotar o que se considera estranho, inconveniente ou até maléfico.

Nessas circunstâncias, como selecionar de antemão quais autores e obras mereceriam maior destaque se quase ninguém parece lê-los, muito menos comentá-los e analisá-los, isso quando não estão a ignorar propositalmente? O trabalho está todo por fazer, portanto, e só pode começar pela leitura séria, acompanhada de ao menos uma resenha, de tudo que foi e está sendo publicado. É ao que tenho me dedicado nos últimos meses, esperando sirva também de convite para que outros o façam e algum diálogo produtivo nasça nessa “nova direita” que pouco conversa e muito se desentende.

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