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O Natal começa antes de começar, já percebeu? A data no calendário é 25 de dezembro, mas o Natal começa na sua véspera, dia 24. E quando termina, você sabe? Se você acha que o Natal é apenas um feriado no dia 25, errou feio, errou rude. O Natal mal começou, na verdade. Estamos no seu primeiro momento ainda, chamado de Oitava do Natal, no qual deveríamos celebrar cada um desses oito dias como celebramos no dia 25. Não, não estou falando de se empanturrar de comida e bebida e presentes. Estou falando de viver o tempo do Natal.

A vantagem de se falar do Natal depois do dia 25 é que já não sobrou mais nada do auê que fazemos antes dele chegar. A correria intensa para fechar o ano acabou. Não há mais ansiedade para comprar e ganhar presentes. Não há mais festas para organizar ou participar. Agora ou estamos de folga, na praia ou em qualquer lugar, ou estamos fingindo que trabalhamos, apenas cumprindo tabela, esperando o ano novo chegar. Não é assim?

Que bom que é assim. O “pós-25” é um período de descanso, de lentidão, de silêncio. Por isso mesmo é um tempo muito favorável para pensar na vida. Época propícia para fazer um balanço do passado e considerar com calma o que será do futuro. Porque há tempo para isso na Oitava do Natal. Mas o Natal não foi feito para isso, para pensarmos em nós mesmos. E quem tem ou teve filhos sabe perfeitamente como é quando uma criança nasce. O centro de gravidade da própria vida muda completamente, já não gira em torno do nosso umbigo, mas do umbigo do filho. É para ele que agora vivemos e somos, tudo para o filho, os filhos.

Se você não os tem ou teve, certamente já visitou algum recém-nascido na maternidade ou na casa da família. Percebeu o estado de plenitude dos pais, como se nada mais faltasse. Ainda que estejam assustados com a responsabilidade nascente, com as dificuldades que certamente virão, estão felizes e em paz. Todo e qualquer problema, toda e qualquer dificuldade, todo e qualquer sofrimento se desfaz quando olham para o bebê. E quem não é pai e, ao visitar, pega o bebê no colo ou apenas contempla sua pequenez sente o mesmo, ainda que por pouco tempo. Uma criança é capaz de preencher tudo e dar sentido ao todo.

As passagens dos Evangelhos que mais gosto de imaginar são sobre as visitas recebidas pela Sagrada Família nas horas e dias seguintes ao nascimento de Jesus. Os pastores, os bichos, os reis magos. Fico imaginando que não deve ser muito diferente das nossas visitas às maternidades, para conhecer recém-nascidos filhos de amigos ou parentes. Não há muito o que falar, não é preciso. Basta apenas estar ali e ficar olhando, admirando, contemplando aquele bebê numa manjedoura. Não sei se você sabe, mas uma manjedoura não é um berço. É uma espécie de tabuleiro colocado em estábulos ou estrebarias onde se põe a comida dos animais. Na história de Jesus é o primeiro símbolo de que Ele veio para nos alimentar, para nos saciar, para nos dar sua vida. Todo bebê é símbolo disso também, em certa medida. Não há pais que não se sentem saciados com um filho recém-nascido. Claro que muitos recusam essa Graça, renegam seus filhos, escolhem seu umbigo. Mas exceções apenas confirmam a regra.

Há uma paz de espírito nos pais frescos que é contagiante. É essa paz de espírito que vivemos na Oitava do Natal. Uma paz singela, pura e delicada, como o olhar de um recém-nascido. Uma paz que nos faz sorrir sem nada mais esperar ou precisar. Como pode o nascimento do Deus encarnado ser tão simples, admiravelmente simples, sem estrondo, grandiosidade, milagres espetaculares? Como pode Deus ter escolhido nascer assim, desconhecido de quase todos, irrelevante, num estábulo, numa manjedoura? Como pode o onipotente se fazer totalmente impotente?

São Bernardo, em seu Sermão do Dia da Natividade, nos ensina que assim Ele fez para se tornar acessível à nossa fraqueza, à nossa miséria, à nossa pequenez. Viesse como É e sentiríamos apenas medo e reverência. Mas, vindo como veio, toda a Sua majestade, todo o rigor, toda a justiça, todo o poder foram “esquecidos”, diminuídos, abatidos. Deus se humilhou ao encarnar, mas apenas quanto à sua grandeza majestosa, à sua potência ilimitada e infinita, não quanto à sua Misericórdia e Bondade, tornadas ainda maiores, como só é possível em e para Deus. Ninguém sente medo diante de um recém-nascido, apenas alegria e amor.

Se o tempo do Advento é um tempo de Esperança, o tempo do Natal é um tempo de Alegria transbordante, infinita. Porque a espera acabou. Ele veio, está no meio de nós. Deus está conosco. E não foi embora no dia 25, continua aqui. Aproveite, porque Ele faz novas todas as coisas. Enfim, eu tinha perguntado quando o Natal termina. Mas desde quando criança quer que a festa termine?

Um feliz, santo e abençoado Natal, leitor que me acompanhou durante todo este ano. Até 2018, se Deus quiser.

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