
Ouça este conteúdo
No Brasil de hoje, o autoritarismo transcende as estruturas do poder estatal, infiltrando-se profundamente na sociedade e manifestando-se de formas sutis e ostensivas, minando as liberdades individuais. Como cristãos, devemos compreender esse fenômeno não apenas como uma questão política ou social, mas como um reflexo de uma crise espiritual profunda: a rejeição da soberania de Jesus Cristo. Ou seja, uma sociedade autoritária é marcada por uma forma sutil, porém opressiva, de escravidão coletiva, que surge quando o ser humano, em sua presunção, usurpa o lugar de Deus, substituindo sua autoridade por sistemas de poder que sufocam a liberdade e a dignidade conferidas pelo Criador.
Uma cultura de dominação
Para compreender o autoritarismo brasileiro, é essencial reconhecer que ele transcende as estruturas do Estado. Mas é no próprio governo que suas manifestações mais explícitas ganham forma. O governo exerce controle excessivo por meio de leis e regulamentações que restringem a liberdade de expressão e de crença, como projetos legislativos que buscam criminalizar opiniões conservadoras sob o pretexto de combater “discurso de ódio”, ou decretos que limitam a liberdade religiosa, como restrições desproporcionais a cultos e missas durante a pandemia. Além disso, o uso político do Judiciário para perseguir adversários ideológicos é evidente em casos em que juízes ou tribunais, como o Supremo Tribunal Federal, têm agido seletivamente contra políticos conservadores, enquanto protegem aliados ideológicos, criando um ambiente de intimidação.
A morte de Miguel Uribe, senador e pré-candidato à presidência da Colômbia, em 11 de agosto de 2025, após um atentado a tiros em 7 de junho, exemplifica como grupos políticos esquerdistas recorrem à violência para eliminar opositores e consolidar poder. O ataque reflete um padrão de violência política que busca silenciar vozes dissidentes, como visto nos atentados contra Jair Bolsonaro e Donald Trump. Ao neutralizar adversários políticos, esses grupos autoritários atentam contra a democracia e intensificam a polarização. Mas o problema é mais profundo. Essa cultura autoritária está infiltrada em todas as instituições sociais brasileiras.
O autoritarismo transcende as estruturas do poder estatal, infiltrando-se profundamente na sociedade e manifestando-se de formas sutis e ostensivas
Na academia brasileira o dissenso não é tolerado. Universidades, outrora sob a fé cristã berços de debate intelectual, tornaram-se fortalezas ideológicas onde visões conservadoras e cristãs são rotuladas como “fascistas”, “retrógradas” e “intolerantes”. Professores e alunos que defendem valores como a santidade do casamento entre homem e mulher ou a proteção da vida desde a concepção enfrentam perseguições, boicotes e até demissões. Essa intolerância não é mera discordância; é uma forma de autoritarismo intelectual que silencia vozes dissidentes em nome de um suposto “progressismo”. Vemos nisso um eco da Torre de Babel, onde o homem tentou construir uma sociedade unificada sem Deus, resultando em confusão e opressão.
As redes sociais amplificam esse tribalismo raivoso, transformando o debate público em uma arena onde influencers se estraçalham diante de todos. Plataformas como X, Facebook e Instagram fomentam bolhas ideológicas onde o “outro” é desumanizado e demonizado. No Brasil, isso se manifesta em campanhas de difamação contra políticos conservadores, cristãos católicos e evangélicos e qualquer um que ouse questionar narrativas dominantes sobre religião, sexo, família ou moralidade. O tribalismo não é novo, e as sociedades ocidentais sempre foram ameaçadas por grupos radicais. Mas, hoje, algoritmos incentivam o ódio, recompensando postagens extremistas e ataques pessoais com likes e compartilhamentos, enquanto censuram conteúdos que promovem valores cristãos. Esse raivoso tribalismo destrói a sociedade, isolando indivíduos em câmaras de ecos de suas próprias opiniões e fomentando uma nação fragmentada e dividida.
A mídia, que deveria ser o quarto poder fiscalizador, apoia e pratica ativamente a censura. No Brasil, veículos de comunicação tradicionais e digitais alinham-se a agendas progressistas, marginalizando perspectivas rivais, sobretudo cristãs. Reportagens rotulam evangélicos como “fundamentalistas” ou “ameaças à democracia”, enquanto ignoram abusos contra a liberdade religiosa, ajudando a fomentar o ódio contra o cristianismo. Exemplos abundam: a cobertura seletiva de escândalos envolvendo líderes cristãos, contrastando com a leniência com figuras políticas esquerdistas, revela esse viés autoritário. Essa mídia não informa; ela molda opiniões, exercendo controle narrativo sobre a população.
VEJA TAMBÉM:
O autoritarismo infiltra-se também em igrejas carismáticas e pentecostais, especialmente aquelas organizadas em hierarquias rígidas ou baseadas em sucessão familiar, onde líderes exercem domínio sobre os fiéis. Títulos como “bispo” ou “apóstolo” frequentemente justificam uma autoridade absolutista, controlando não apenas crenças, mas também aspectos como finanças, casamentos e opiniões políticas dos membros. Esse modelo contrasta com a liderança servil demonstrada por Jesus ao lavar os pés dos discípulos, promovendo, em vez disso, um culto à personalidade que beira a idolatria. Tal distorção de uma estrutura eclesiástica que seja genuinamente bíblica desvia as ovelhas do verdadeiro Pastor, gerando divisões e escândalos que comprometem o testemunho cristão no Brasil.
Um caminho melhor
Diante do avanço do autoritarismo, qual é a solução? Não está em reformas políticas que passam, nem em revoluções sociais ou alianças partidárias. A única esperança de romper a cultura autoritária do Brasil é reconhecer que só Jesus reina – o Messias, o Senhor, o Redentor, o que morreu e ressuscitou. Descendente de Abraão e Davi, cumpridor das profecias do Antigo Testamento, ele inaugurou um reino de justiça, misericórdia e verdade. Só em submissão a ele o Brasil pode tornar-se uma nação solidária e participativa. A fé cristã genuína, ancorada na Escritura como autoridade suprema, forja valores que edificam os povos: respeito à autoridade legítima, santidade da família, trabalho honrado, liberdade responsável, solidariedade pactual e amor ao próximo.
Imaginem um Brasil submisso ao Messias Jesus: nas universidades, o dissenso seria celebrado como chance de proclamar a verdade bíblica, gerando crescimento intelectual e espiritual. Nas redes, o tribalismo cederia lugar ao diálogo que cura feridas e promove reconciliação. A mídia, guiada por jornalistas cristãos, buscaria a verdade acima de agendas, denunciando corrupção e defendendo liberdades. Nas igrejas, o autoritarismo daria espaço à comunhão viva, onde cada crente exerce seus dons para servir, e a liderança se mede pelo exemplo, não pelo controle.
O autoritarismo que permeia a sociedade brasileira, da academia às redes, da mídia às igrejas, fomentado pelo Estado, nasce da rejeição à Palavra de Deus
A história do Ocidente revela que nações florescem quando se voltam para Deus. Os grandes reformadores protestantes e seus herdeiros – Ulrico Zuínglio, João Calvino, John Knox, Guilherme, o Taciturno, e Roger Williams – defenderam princípios evangélicos que deram origem a sociedades livres e prósperas, como Inglaterra, Escócia, Holanda, Suíça e Estados Unidos. No Brasil, já colhemos frutos dessa herança: igrejas evangélicas que promovem educação e capacitação, assistência social, redução da violência, apoio psicológico e emocional e promoção da cultura e valores cristãos. Porém, para transformar a nação inteira, é urgente um retorno genuíno à cruz do Messias Jesus.
Abraçar valores forjados pelo tempo não é retrocesso, mas fidelidade à Palavra de Deus. A verdadeira fé protege a vida, fortalece a família, resguarda a propriedade e preserva a liberdade sob a lei divina. Num país marcado por corrupção e desigualdade, somente a submissão a Jesus traz redenção plena: “Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres” (Jo 8,36). Uma nação floresce quando cada cidadão, como mordomo de Deus, serve ao bem comum livre do jugo autoritário do Estado e de qualquer poder humano.
Desafios persistentes
Contudo, desafios persistem. O secularismo avança, promovendo relativismo moral que erode as bases do Ocidente. Cristãos devem resistir, engajando-se na política, educação, esportes e cultura com sabedoria bíblica e com o poder do Evangelho. Líderes evangélicos genuínos, como clérigos que pregam a pura Palavra de Deus, são essenciais para guiar essa renovação.
VEJA TAMBÉM:
Ironicamente, setores progressistas autoritários, ao abandonar a neutralidade do secularismo em favor de uma visão dogmática, destroem o próprio princípio que afirmam defender. Sob o pretexto de “justiça social” e inclusão, elevam certas ideologias, como as sexuais ou políticas climáticas, a um status sagrado, imunes a questionamentos e debate. Ao rotular o dissenso como “discurso de ódio”, transformam o secularismo, antes espaço plural e neutro, em ferramenta de controle cultural.
Em conclusão, o autoritarismo que permeia a sociedade brasileira, da academia às redes, da mídia às igrejas, fomentado pelo Estado, nasce da rejeição à Palavra de Deus. A solução não está na política, mas em reconhecer Jesus como o único Rei. Só assim o Brasil poderá ser uma nação justa, solidária e fiel à verdade, onde a dignidade humana seja preservada e a esperança floresça. Que o povo atenda ao chamado: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo” (At 2,38). Então, veremos uma transformação real, para a glória de Deus.
Oremos de acordo com as palavras do Livro de Oração Comum: “Onipotente Deus que criaste o homem à tua própria imagem, concede-nos a graça de lutar destemidos contra o mal e jamais nos conformar com a opressão; e, para que usemos com reverência a nossa liberdade, ajuda-nos a empregá-la na manutenção da justiça entre os homens e as nações, à glória de teu Santo nome; por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.”
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




