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Os dados que as empresas de tecnologia guardam a seu respeito podem ser perturbadores. A mim, pelo menos, perturbaram
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Vocês devem ter notado que diversos serviços online e aplicativos estão pedindo que você aceite seus novos termos de uso. O motivo é a nova regulação envolvendo a proteção dos dados dos usuários no ambiente digital, que atende pela sigla GDPR e entrou em vigor na última sexta.

As novas regras são válidas para os países da comunidade europeia, ou seja, afetam empresas com sede ou filiais nesses países e que tenham clientes e usuários residindo também nestes países. Qualquer tipo de empresa: fornecedora de software, de serviços, lojas virtuais e até redes sociais. Se ela armazena qualquer tipo de dado pessoal de cidadãos europeus, está sujeita à lei. O objetivo é que o usuário tenha conhecimento de quais informações pessoais suas a empresa coletou. O usuário pode solicitar à empresa essa informação e, caso não queira que a companhia guarde os dados, solicitar que a empresa os remova.

A multa aos desobedientes é bem pesada, por isso estamos vendo há algumas semanas empresas grandes e pequenas lutando contra o tempo para adaptar seu serviço às novas exigências. Claro que as menores sofrem mais para se adequar a mudanças tão rígidas em tão pouco tempo hábil, e isso gera consequências. Um exemplo é o que tem passado o Instapaper, que guarda artigos da internet para ler mais tarde de forma offline: eles tiveram que tirar o serviço do ar para os europeus a fim de se adpatar à GDPR, e isso impactou nos clientes, que ficaram chateados, talvez até migrando para concorrentes. Já a Microsoft, que tem bastante dinheiro e estrutura, está por conta própria estendendo a nova medida a todos os seus usários, não só os europeus. Então se algum de nós, brasileiros, quiser solicitar à Microsoft os dados que a empresa coletou a nosso respeito, fique à vontade.

Mas afinal, que tipos de dados as empresas guardam a nosso respeito? Um jornalista da ZDnet.com fez essa solicitação à Apple. Ele se tornou cliente em 2010, quando comprou seu primeiro iPhone e depois passou a usar outros produtos. Uma semana após a solicitação, a Apple respondeu ao jornalista enviando uma série de planilhas no formato Excel, num total de 5MB. Basicamente, as planilhas continham metadados: data e hora de logins, de ligações no FaceTime e para quem. Dados de Mapas, da Siri e Notícias são coletados de forma anônima, então não constam no rol. É relativamente pouca coisa, e não engolba conteúdo. Mas agora com a mudança na lei, isso deve mudar e novas informações devem ser adicionadas.

O Facebook, por sua vez, armazena muito mais coisas que a Apple. Os dados podem chegar a dezenas de gigabytes, mas é bom lembrar que por ser uma empresa de mídia social, eles armazenam conteúdo. Há algumas semanas tive a curiosidade de solicitar meus dados armazenados pela companhia mesmo eu já não usando minha conta há anos. Só entro lá para ver posts e páginas dentro de um contexto jornalístico. Não publico nada, não curto, não comento. Mas ver o que o Facebook guarda a meu respeito me deixou bem perturbada.

Faz parte do meu trabalho auxiliar mães e famílias cujos filhos tenham problemas nas redes sociais. Isso acontece desde que tive um programa de rádio aos sábados, que era voltado à leigos e famílias, falando sobre bons hábitos na internet. Já recebi de mães vários links, prints e fotos que deixariam qualquer um horrorizado. Houve vezes em que imediatamente recomendei que abissem boletim de ocorrência na delegacia de crimes virtuais, o Nuciber.

Todas as páginas e fotos que visualizei no Facebook ficaram registradas. Para resumir a história: alguém que não me conheça mas veja os dados que o Facebook registrou sobre meus hábitos de navegação pensará que sou uma psicopata. Isso me deprimiu demais. Quero solicitar à outras empresas de tecnologia os meus dados pessoais, mas primeiro preciso me recuperar do susto do Facebook. Pretendo apagar em breve meu perfil pessoal, mas terei que adaptar algumas coisas em minhas rotinas de pesquisa e ainda não sei como proceder. Aceito sugestões…

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