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Inteligência Artificial
Se, ao longo das décadas, a tecnologia foi fundamental para os avanços na saúde, com a Inteligência Artificial Generativa não seria diferente.| Foto: Chanikarn Thongsu / Freepik

Tal qual ficamos fascinados com a chegada do homem à lua ou com o surgimento da internet no século passado, agora nos vemos encantados com novos avanços tecnológicos sem precedentes. A Inteligência Artificial (IA) é a bola da vez. Suas ramificações que começam - literalmente - a ganhar vida com exemplos como o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI; o Bard, do Google; e o Bing, da Microsoft,  têm feito brilhar os olhos do mercado, oferecendo uma possibilidade infinita de aplicações nos mais distintos segmentos. A evolução tem sido tão rápida que, muito provavelmente, enquanto você lê este artigo a IA já se transformou uma infinidade de vezes.

A velocidade com que a Inteligência Artificial vem se desenvolvendo é tamanha que, recentemente, alguns grandes nomes da indústria, como o próprio Elon Musk, um dos fundadores da OpenAI, assinaram uma petição pedindo uma pausa de seis meses em pesquisas relacionadas à IA. O grupo afirma que os estudos só devem ser retomados quando todos estiverem cientes dos efeitos positivos, mas também dos riscos dessa tecnologia.

Embora possa haver certo sentido, pausar a evolução pode não ser o caminho mais indicado. A resposta para o futuro da IA reside na condução que será dada a ela e, principalmente, na adaptação do mercado aos impactos que pode trazer. Ser amigo da tecnologia é muito mais eficaz do que combatê-la.

A inteligência por trás da inteligência

O elemento crucial de todo o avanço e discussões dos últimos meses é a chamada Inteligência Artificial Generativa, tecnologia emergente que já era apontada há alguns anos como um possível divisor de águas entre a sociedade que conhecemos hoje e aquela que podemos chegar a ser. De acordo com o Gartner, a IA Generativa pode ser definida como "métodos de aprendizado de máquina que aprendem sobre conteúdo ou objetos a partir de seus dados e os usam para gerar artefatos realistas totalmente novos e originais". Assim, a tecnologia pode ser usada para diversas finalidades, como criar códigos de softwares ou facilitar o desenvolvimento de medicamentos e muitos outros.

Até 2025, espera-se que a IA generativa represente 10% de todos os dados produzidos. Isso significa que, mesmo em um constante processo de correção de rotas, é inegável que essa tecnologia já quebrou paradigmas e descortina um futuro sem precedentes à frente, com grandes benefícios para muitos setores, especialmente para a saúde. De acordo com um estudo feito pelo Boston Consulting Group, os cuidados de saúde domiciliares continuarão ganhando força em 2023 após forte crescimento em 2022, devido aos poderosos avanços tecnológicos guiados por uma entrega mais liderada pelo paciente.

Um (não tão) novo aliado para a saúde

Se, ao longo das décadas, a tecnologia foi fundamental para pavimentar os avanços na saúde, agora não seria diferente. A Inteligência Artificial Generativa promete levar o setor a um novo momento. Dezenas de startups ao redor do globo estão investindo em pesquisa e desenvolvimento de modelos exclusivos de aplicação para o healthcare. E não é à toa: relatório da McKinsey e Harvard estima que vários tipos de IA, desde o aprendizado de máquina (ML) até o processamento de linguagem natural (NLP), poderiam economizar para o sistema de saúde entre US$ 200 bilhões e US$ 360 bilhões. Também poderiam melhorar a experiência do paciente e a satisfação do clínico, ao mesmo tempo em que ampliam o acesso à saúde.

Segundo o estudo, grande parte da economia poderia vir da redução dos custos administrativos. Conectada a softwares de gestão de última geração, por exemplo, a IA é adequada para lidar com tarefas, devido a sua natureza manual e repetitiva, sendo capaz de melhorar os processos de gerenciamento. Para muitos líderes de tecnologia hospitalar, diminuir a carga de documentação dos médicos é uma prioridade, como ressaltado pelo CMIO do centro médico da Universidade de Pittsburg. Enquanto isso, o ML pode, por exemplo, prever reinternações evitáveis. De acordo com o relatório, quando esse modelo foi usado, as visitas de acompanhamento aumentaram 40% e as readmissões por todas as causas caíram 55%.

Na prática, o uso da IA na saúde não é algo assim tão novo. Alguns ramos da medicina, como a radiologia e dermatologia, já contam com avanços importantes que dependem dessa tecnologia. Médicos pesquisadores e hospitais também buscam há anos maneiras de conectar a IA ao dia a dia das instituições, buscando usá-la como mais uma ferramenta para salvar vidas. Soluções generativas, como o ChatGPT, podem ser cruciais para ajudar os pacientes no controle correto dos medicamentos e tratar questões de pré-exame, por exemplo, sendo o primeiro contato básico com o paciente.

E os humanos?

Embora prometa revolucionar modelos de gestão e atendimento - e, inclusive, já esteja revolucionando - com seu rápido poder de aprendizado e, por assim dizer, lampejos de criatividade, é preciso ficar claro que a IA generativa continua sendo representada por uma máquina. Tal qual um ser humano em processo de aprendizagem, comete erros que exigem a correção de um profissional  (humano) qualificado. Aliás, é aí que está o ponto de intersecção entre homem e máquina: ainda que a inteligência seja artificial, ela nunca poderá estar desprendida do acompanhamento humano, principalmente na saúde.

O contato entre médico e paciente, as conversas e trocas, são fundamentais para o bom desenvolvimento dos casos clínicos. Ainda que as máquinas ganhem vida, nem hoje e nem no futuro, o fator humano poderá ser substituído. A verdade é que o que se busca não é trocar um pelo outro, mas sim extrair o melhor de ambos, reconhecendo a importância da sua complementaridade. Assim como outros avanços ao longo do tempo nos fizeram resilientes e adaptáveis, a IA chega para ampliar nossas capacidades. Ocupando o papel de serviços rotineiros e mecânicos, nos dá liberdade para inovar, criar e buscar novas formas de seguir avançando de maneira cada vez mais eficaz.

Renegar essa evolução e não aproveitar a onda digital é um risco iminente de ficar preso ao passado. É preciso participar desde o princípio, contribuir com os avanços. Assim como a velha máxima da saúde, na tecnologia prevenir também é melhor que remediar. Ou seja, estar um passo à frente, acompanhando e liderando a evolução, pode fazer toda a diferença. Entre o poder de escolha e a obrigatoriedade de se encaixar em um novo mundo, a primeira opção é muito mais proveitosa para pavimentar uma jornada positiva de sucesso. E aqui o caminho já está claro:  atuando em conjunto, homem e máquina, poderão sim romper barreiras e levar o futuro da saúde a um novo patamar, muito mais integrado, eficiente e sustentável.

*César Griebeler é vice-presidente de Tecnologia da Pulsati.

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