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Comício pelas diretas já na Boca Maldita

Desfrutamos de um ambiente democrático como jamais se viu em nosso país. A imprensa é livre e o povo se manifesta do jeito que quer e onde quer, das redes sociais às ruas, em paz ou “vandalizando” (se no infinitivo esse verbo já é estranho, tanto mais no gerúndio, não?).

No entanto, é preciso ter em mente que não conseguiremos mais hospitais, ou mais escolas, ou professores qualificados, ou políticos menos corruptos, apenas juntando pessoas com máscaras e faixas para atrapalhar o trânsito no horário de rush. Isso é importante? Claro que é. Mobilizou a mídia e fez da conjuntura nacional assunto preferido para ser debatido por amigos no bar e pelas famílias que se reúnem à mesa do jantar.

Mas precisamos recorrer às vias democráticas – especialmente para não corrermos o risco de jogar pelo ralo as conquistas que obtivemos nos últimos 30 anos.

Em 1983, o movimento Diretas Já começou a partir da tramitação, no Congresso, da emenda constitucional apresentada pelo deputado Dante de Oliveira, prevendo o restabelecimento das eleições diretas. O tempo era de ditadura militar e o país vivia uma grave recessão. O povo foi às ruas e, apesar da grande mobilização (muito maior do que a atual!), a proposta acabou não sendo aprovada pelo Congresso, adiando para 1989 as eleições diretas.

A pressão popular, todavia, funcionou. Pode-se dizer que o movimento foi bem sucedido na redemocratização do país, já que em janeiro do ano seguinte Tancredo Neves se elegeria pelo Colégio Eleitoral, devolvendo ao poder civil o governo brasileiro. Mas para que tenhamos os mesmos resultados agora, com tanta desarticulação, será bem mais difícil.

Se na década de 80 lutávamos contra a ditadura, hoje nos queixamos da Copa do Mundo, da falta de hospitais, do aumento da passagem de ônibus, dos problemas na educação e da corrupção; se em 1983 os partidos políticos existentes convocaram a população a ir para as ruas, hoje eles são encarados como vilões. Falta-nos foco para definir qual a prioridade a ser combatida; e falta-nos consciência cívica para entender que só pelas vias democráticas poderemos mudar algo. Diferente disso, é querer impor a anarquia ou a ditadura. E nenhum desses modelos de governo é melhor do que este em que vivemos.

Para mudar algo, não necessariamente precisamos que algum deputado faça tramitar uma lei. O projeto Ficha Limpa nos mostrou que é possível usufruir dos nossos direitos políticos ativos: a assinatura de apenas 1% do eleitorado (1.600.000 assinaturas, atualmente) pode tornar lei outros projetos de reforma política (a principal e mais efetiva reivindicação com vistas a alguma mudança no médio a longo prazo), como o Eleições Limpas ou a Plataforma pela Reforma do Sistema Político, entre outras.

Fomos pra rua. Precisamos agora é de melhores estratégias para continuar por lá. O Diretas Já certamente tem algo a nos ensinar. Pergunte aos seus pais, na próxima vez em que se reunirem para o jantar.

*Artigo escrito por Rafael Finatti, colaborador do Instituto GRPCOM em Curitiba

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