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Empresas Nó Direito
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Qual a melhor forma de as organizações fazerem “nós direitos”?

Na cantina da universidade, os alunos foram divididos em duas equipes de uma mesma empresa, cada uma com uma corda. A ordem do professor (cliente) havia sido sucinta e clara – ele queria um nó direito. Diante da orientação de que não seria permitido soltar a corda, a equipe da corda laranja não teve dúvida: começou a se mexer de um lado para o outro, na tentativa de formar o tal do nó. Trabalhando no espaço ao lado, as pessoas da equipe da corda amarela, aparentemente paradas, pareciam discutir algo mais inovador, menos complexo – acabaram optando por fazer vários pequenos nós, cada um o seu.

O resultado não poderia ser menos óbvio: ambas as equipes haviam falhado. Fazer o nó era mais simples do que haviam pensado, mas ninguém se atentou para um detalhe: para ter sucesso naquela tarefa, seria necessário usar a corda da outra equipe. Para chegar a um resultado mais efetivo, poderiam ter começado ouvindo aquele cliente, esclarecendo melhor aquele pedido. Poderiam também ter planejado, antes de agir. E poderiam, ainda, ter deixado de lado a autossuficiência, procurado a equipe vizinha e pensado em uma solução em conjunto que atendesse melhor o pedido do cliente à empresa.

Empatia, planejamento, parceria… Ainda estamos desacostumados a lidar com isso no ambiente empresarial. O mesmo vale para o ambiente acadêmico – e, também, para diversos outros espaços da vida pessoal cotidiana. Mesmo no trabalho social, comunitário, o que se vê muitas vezes são organizações executando projetos e investindo recursos próprios e de terceiros em ações distantes da realidade ou da real necessidade dos públicos alvo (clientes). Fazer é importante, mas nunca antes de planejar – o que pressupõe traçar objetivos claros diante do que foi diagnosticado (se é que foi…) – e de perceber qual a real necessidade que se quer sanar.

Ante a um novo desafio, poucos são os que pedem ajuda, compartilham ideias, ouvem outras opiniões. Ao agirem por si, pessoas mais parecem formar bandos (ou grupos, no máximo) do que equipes. Na verdade, é preciso mais do que ter um objetivo comum e alguém para planejar, organizar e controlar. A nova linguagem da empresa moderna e de sucesso – e que poderia muito bem ser reproduzida, vale insistir, em outros aspectos de nossas vidas – é a das equipes autogerenciáveis, os “times”, em que todos são líderes capazes de solucionar situações contingenciais e de levantar oportunidades de inovação.

Um bom líder tem objetivos pessoais e profissionais claramente definidos, sabe usar suas capacidades e aptidões, observa tendências, aprende sempre, é equilibrado, ousado (sem ser inconsequente) e tem uma ampla rede de relacionamentos. Os times, portanto, com seus vários líderes, obterão mais facilmente alto desempenho em suas tarefas, pois possuem pessoas preparadas para estar juntas e para trabalhar juntas.

A pirâmide hierárquica que ainda caracteriza muitas empresas está prestes a ruir, dando lugar a uma estrutura horizontalizada na qual alguém mandar em alguém será algo anormal. Essa transição ainda não aconteceu plenamente, ou só não está mais avançada, porque faltam líderes no ambiente corporativo. O que se vê, ainda, é uma gama de cenários organizacionais onde impera o autoritarismo, o distanciamento e a desconfiança. Todos esses fatores não só prejudicam a qualidade dos serviços do trabalhador e os índices de produtividade, como também interferem na saúde das pessoas e, no fim, inibem o surgimento de novas lideranças. Um círculo nada virtuoso.

Nesse ponto, o mundo corporativo tem a aprender com o Terceiro Setor. Apesar da falta de profissionalização, que tem diminuído lentamente, as organizações sociais muitas vezes têm a oferecer bons cases de sucesso – e ótimos profissionais – à iniciativa privada. Porque trabalham com recursos humanos e financeiros escassos, as ONGs são celeiros de inovação e de trabalhos em parceria, nos mais diferentes níveis de complexidade, para buscar os melhores resultados e serviços a oferecer aos seus públicos. Assim, naturalmente, quem trabalha com projetos sociais desenvolve cotidianamente muitas habilidades e competências requeridas pelas empresas. São os líderes que faltam em muitas equipes que não se tornam times.

Fazer um “nó direito” pressupõe a mistura de eficácia e eficiência, que se costuma chamar de efetividade. É preciso aliar a ênfase nos resultados de forma a fazer a coisa certa (eficácia), à realização de um processo de maneira 100% correta, sem custos desnecessários (eficiência). A efetividade está em perseguir os objetivos sem desconsiderar o caminho, as pessoas envolvidas e o desenvolvimento sustentável. Essa é uma tarefa do líder, o principal responsável por essa transição da empresa antiga para a empresa “nó direito”. É ele (ou são eles) que(m) devem perceber que, muitas vezes, a efetividade de um trabalho pode ter solução no espaço, nas pessoas ou no setor ao lado.

*Artigo escrito por Rafael Finatti, colaborador do Núcleo Socioambiental do Instituto GRPCOM, em Curitiba.

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