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Estátua de quatro rodas
| Foto:
Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Recentemente a presidente de certa empresa de petróleo disse que se sente feliz quando vê um engarrafamento, afinal, isso quer dizer mais faturamento para a empresa dela. Além da falta de compaixão com os pobres cidadãos parados, o comentário da empresária chamou a atenção por pisar em um dos calos dos brasileiros – especialmente daqueles que vivem em grandes cidades. Afinal, o trânsito que está cada vez pior.

Meu objetivo aqui não é discutir as mazelas do uso dos combustíveis fósseis, afinal os carros elétricos serão uma realidade mais cedo ou mais tarde, para tristeza de Gracie Foster. Mas vamos imaginar que todos os carros são elétricos, são lindos, baratos, movidos à energia solar e têm uma baita autonomia. Imaginou? O problema do trânsito estaria resolvido?

Provavelmente não, inclusive estará pior se o “barato” for mais barato do que é hoje em dia. O problema do trânsito é o carro. E não que eu não goste de carros, pelo contrário! Mas está ficando cada vez mais difícil manter o carinho pelo nosso amigo de quatro rodas.

A infraestrutura das cidades tem um limite para suportar veículos e, aqui no Paraná, a capital está cada vez mais perto de uma parada total. Curitiba tem 1 veículo para cada 1,63 habitante, a maior proporção do país, e a tendência é crescer. Espero que o futuro seja outro.

Porém a política do país não favorece muito um destino diferente para nossas ruas. Quando o governo federal dá incentivos fiscais para a venda de automóveis, isso impulsiona o movimento da economia, mas diminui o movimento do trânsito, com o aumento do número de veículos na rua.

A falta de equilíbrio nos incentivos para diferentes meios de transporte, hoje focados nos automóveis particulares, coloca uma pressão enorme nas prefeituras, que precisa fazer malabarismo para acomodar a crescente frota. E, pior, em boa parte dos casos o município não colhe diretamente o benefício da movimentação econômica gerada pela fabricação e venda dos automóveis, acaba ficando apenas com o ônus.

As alternativas de transportes, como a bicicleta, motos e a boa e velha caminhada, sofrem do mesmo problema: falta de segurança. Para as bicicletas e motos, o problema é semelhante, falta de respeito e cuidado dos motoristas de carros. Para quem caminha, os perigos são variados, pois além de ter que se cuidar para não acabar embaixo de um carro, os pedestres têm também que cuidar com assaltos, roubos e outros crimes piores.

A solução seria o transporte público, mas o sobrecarregado sistema público tem que passar por mudanças. Para quem pode andar de carro, ficar preso no trânsito dentro do seu próprio veículo é bem mais atraente do que ficar em pé e apertado em um coletivo.

É um problema complexo, mas possível de resolver. Enquanto o modelo de mobilidade que fez Curitiba famosa internacionalmente foi colocado em grilhões para atender aos carros, o resto do mundo deu seus jeitos e novas propostas podem ser vistas. Mas depende dos governos darem mais atenção para equilibrar os investimentos em transporte, pois o problema por si só não vai se resolver tão cedo. E se deixarmos para que se resolva sozinho, é capaz que o carro só deixe de ser usado quando todas as ruas estiverem cobertas de veículos, que não tem mais como sair do lugar por não haver espaço para mais carro algum.

*Artigo escrito por André F. Bongestabs, articulador no SESI-PR, parceiro do Instituto GRPCOM

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