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Fernando Haddad, candidato do PT, ainda defende Lula.
Fernando Haddad, candidato do PT, ainda defende Lula. | Foto:

A delação do ex-ministro petista Antonio Palocci é a última grande cartada nas mãos da Operação Lava Jato e pode trazer informações valiosas para fechar o cerco a pontas ainda soltas, como o papel do sistema financeiro na movimentação do dinheiro que pagou as propinas a políticos. Mas não é um tiro com força para mudar o efeito político da operação. Nem mesmo a prisão do ex-presidente Lula, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, foi suficiente para convencer grande parte do eleitorado de que o PT, liderado por Lula, construiu uma máquina de desvio de dinheiro público que mereça ser punida nas urnas.

A menos de uma semana das eleições, o juiz Sergio Moro decidiu divulgar os primeiros trechos da delação de Palocci. Não parece ser uma coincidência. O conteúdo, no entanto, torna essa questão secundária. O que o petista conta ali são cenas já bem conhecidas: conversas em que Lula fala em usar a Petrobras para arrecadar dinheiro para seu projeto político, a distribuição de cargos para partidos aliados, a venda de medidas provisórias e o conflito interno do PT entre a corrupção controlada e a desenfreada – esta última defendida por José Dirceu, representante até hoje dentro do partido do ideário da busca do poder por todos os meios.

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Se essas revelações de Palocci não são surpreendentes, não se pode esperar que terão qualquer efeito político prático. Com a prisão de Lula, há possivelmente três interpretações correntes entre os eleitores a respeito da corrupção nos governos do PT. Para uma ala, os delitos são graves – a ponto de muita gente preferir qualquer coisa ao candidato lulista Fernando Haddad. Outra parte do eleitorado aceita os malfeitos (usando um termo aplicado por Dilma Rousseff) como uma parte intrínseca da política brasileira. São todos iguais e os governos de Lula e Dilma só dançaram a música de sempre. Por isso, argumentam que a punição deveria ser só pelo “caixa 2”, ignorando o apartamento no Guarujá e o sítio em Atibaia. Um terceiro grupo acha que Lula é inocente mesmo.

No estágio atual da Lava Jato, é improvável que haja migração entre esses grupos. Palocci não era uma figura popular do partido, não foi eleito para o governo e seu papel nos governos Lula e Dilma é desconhecido da maioria das pessoas. Sua delação conversa apenas com quem já se firmou no campo anticorrupção e, mesmo para esse grupo, traz a sensação de notícia velha. Nesse campo, o que se espera é que o resultado da eleição não leve ao perdão dos autores do petrolão, nem à nomeação de Lula como primeiro-ministro do governo Haddad.

Palocci diz em seu depoimento que havia dois grupos no PT. Um programático e outro pragmático, desonestos em níveis diferentes. O primeiro aceitaria a corrupção apenas como forma de fazer andar seu programa político-partidário. Seria o suficiente para ajustar a economia e fazerem andar propostas no campo social. O segundo grupo, o pragmático, queria governar com os pequenos partidos para manter a oposição com o PSDB. Ele não explica por que essa era a preferência de José Dirceu, mas é provável que fosse visto por ele como o melhor caminho para a perpetuação do partido no poder.

Fica a questão a ser respondida por Fernando Haddad, o candidato do PT no lugar de Lula: de que grupo ele é? Porque Haddad já deixou claro que não está na ala de petistas que fizeram o mea culpa. Para ele, Lula é um perseguido político e a Lava Jato uma operação manipulada para prender o ex-presidente. Seu programa de governo fala em uma nova Assembleia Constituinte (o PT, é sempre bom lembrar, se recusou a assinar a atual Constituição), em mudanças no Judiciário e no Ministério Público – José Dirceu, aliás, falou outro dia em retirar o poder de investigação do MP. Pragmático ou programático?

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