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A “guerra cultural” a que se referem cada vez mais teóricos e franco-atiradores — nem sempre explicando exatamente o que querem dizer com isso — não existe. Nem no Brasil, nem no mundo. Existem conflitos de valores, princípios e credos. Mas o que levou a civilização à maior crise da sua história é algo bem mais simples.
Será mesmo a maior crise pela qual a civilização já passou? Alguns parâmetros indicam que sim. Alguma vez antes o saber científico foi maculado em escala planetária? A decisão dos EUA de se retirarem da Organização Mundial da Saúde é um dos emblemas gritantes dessa falência — intelectual e moral. E agora uma confissão dramática deixou expostas as entranhas dessa crise.
Antes de falarmos da confissão, vale notar outros aspectos dessa falência civilizacional. A Organização das Nações Unidas, por exemplo, virou uma caixa de ressonância para demagogos e autoritários dissimulados. Como já apontou Javier Milei, a ONU falhou clamorosamente na proteção à liberdade e aos direitos humanos — valores que fundamentam a sua existência.
Lula sendo aplaudido ao defender a ditadura cubana foi um retrato eloquente da situação. E a debandada em massa durante a fala do chefe de Estado israelense foi um sinal indireto (mas real) da complacência inconfessável com os carniceiros que dominaram a Palestina.
Como cenário para tudo isso, a chamada grande imprensa mergulhou, mundo afora, em um proselitismo reles ditado pelos espertalhões endinheirados que se escondem atrás de planejamentos enganosos — como a tal Agenda 2030.
Agora, a confissão que expõe as vísceras da sociedade: o Google admitiu formalmente, perante o parlamento dos EUA, que o YouTube praticou censura em massa. Prometeu inclusive restituir contas suspensas por discurso político considerado impróprio e alegações do tipo. A big tech disse que sua conduta irregular se deveu a pressões do governo norte-americano e admitiu o banimento de usuários que não haviam infringido as normas de uso da plataforma.
É o que todo mundo de bom senso já sabia. Mas esse “todo mundo” de bom senso foi tragicamente insuficiente para evitar que o senso comum fosse sequestrado por essa corrupção das mentes.
A interdição e a manipulação do debate público, agora confessadas com palavras suaves (assim como fez anteriormente o dono da Meta), têm muitos cúmplices. Muitos mesmo. E, infelizmente, é preciso dizer que eles estão por toda parte.
Uma ressalva fundamental: a gradual revelação do escândalo da censura em massa e a constatação da complacência de boa parte das sociedades com isso não podem alimentar um espírito de revanche.
Por mais revoltante que seja para todos os que foram calados ou constrangidos — e que encontraram em pessoas próximas o endosso lamentável a essa prática —, não será uma boa solução sair apontando o dedo para todos os que afiançaram essa loucura. Revanche não ilumina. E ainda é preciso colocar muita luz nesse vagão da história.
Veja um trecho da matéria publicada pela Gazeta do Povo: “O Google enviou uma carta ao Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos em que admite ter sofrido pressão do governo do ex-presidente dos EUA Joe Biden para censurar conteúdos sobre a pandemia de covid-19 e eleições que não violavam suas próprias regras”. Em outro trecho, é noticiado que a empresa devolverá canais encerrados por “violações às políticas de covid-19 e integridade eleitoral”.
Vamos traduzir o discurso da empresa, se é que é necessário: o YouTube usou pretextos éticos para impedir a livre circulação de ideias e expressões legítimas durante a pandemia e as eleições norte-americanas
Agora, vamos fazer a ponte necessária com o momento presente: perdura em todo o mundo esse expediente de alegação de proteção ética à coletividade para impor censura à opinião pública — mal disfarçada por eufemismos como “regulação das redes sociais”.
A inversão de sinais, a falsificação de virtudes e a corrupção generalizada do significado das coisas não configuram uma guerra cultural. Trata-se da encruzilhada da consciência. O ser humano está sendo convidado a desconfiar sistematicamente do seu semelhante. A verdade virou mercadoria de contrabando. A boa-fé saiu de moda. Simples assim. E perturbador.
Qual é a saída? Algum mago na plateia?





